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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

ronaldo duran - o vento que bate aí bate aqui

Olá, Amigos,


Terminei o quinto livro de crônicas. O título é a Japonesa Pagodeira.

Não foram uma ou duas vezes que me perguntaram por que não abandonar a literatura. Afinal, falam que este hobby consome muito tempo e traz raramente algum retorno financeiro.

Mas vou seguindo na produção... Por que afinal alguém tem que carregar o piano ou varrer a rua...

Tenha um excelente 2011. E que minha teimosia lhe sirva de incentivo ao menos para você persistir nos seus sonhos.


O twitter está de cara nova e mais funcional. Aproveite.


Abraços,


Ronaldo


twitter.com/ronaldo_duran





                               O VENTO QUE BATE AI, BATE AQUI*



A frase soou meio vulgar. Um casal discutindo é terreno fértil para baixaria. Fiz de tudo para me controlar, escapou. Ao telefone ouço a voz confusa, tentando me acalmar. Por mais que ele tente sai capenga a ladainha. Causa do conflito? Teria ele disfarçado na agenda do celular o número da “amiguinha” como sendo o João? Alega que por eu ter apagado o nome dela, quis evitar o bate-boca e por essa razão camuflou a amiguinha num nome masculino.

Exagerei? Temos direito a ter uma amiga. Mas que diabo de amiguinha é essa que precisa deixar uma voz insinuante na secretária eletrônica? Já está virando hábito. Descobri a senha do celular e do e-mail dele. Que culpa tenho se lá colho lenha para discussões?


Triste realidade: quando não estamos fazendo amor estamos brigando. A mágoa fatigante de brigas começa a diminuir a busca pelo prazer. Ele é meu amor. Fiz e faço loucuras. Ultimamente, contudo, percebo como recompensa por meu sentimento uma insistência de sua parte em me contrariar.


Quem me levou a alugar uma casa? Quem me levou a sair da casa dos meus pais? Quem me levou a aprender a cozinhar? Quem me levou ao papel de dona de casa? Ele. Eu fiz minha parte. E ele continua como estivesse solteiro. Seja pela posição que ocupa no emprego seja por cara de pau, o assédio de mulheres o incentiva a agir como eu imagino que faça.


Na noite de natal foi dureza. Ele em casa, mas com uma cara como se tivesse um peso enorme a carregar. Tudo por que estava fora de seu convívio natural: a dos amigos de serviço, a das vagabundas que pegam no pé dele lá no Rio. Sei que ele é mulherengo, que está no seu sangue. Pensei que quando deixássemos de ser só namorados, ele daria um basta. Pelo visto me enganei. Tô querendo sair de Petrópolis e fixar residência definitiva no Rio, só para ter certeza de seus passos.


A ligação vai indo. Tenho vontade de chorar com as desculpas esfarrapadas. O meu prato está esfriando. O restaurante segue com o tumulto da hora do almoço. Como companhia, tenho um amigo. Se eu dou corda para esta amizade tem uma razão. Cara legal. Mas por enquanto estou com a cabeça e coração no meu namorado, namorido... “Então, vou desligar”, digo, “Toma cuidado gatinho...” ameaço, “o vento que bate aí, bate aqui”, faço uma ameaça mais forte. Desligamos.


Tenho pena de mim. Levar um caso no qual se sabe traída, mas que espera pegar o parceiro na cama com outra para ter a desculpa de terminar, é dose. O que deveria contar é se ele me respeita agora, se me trata com carinho, se está do meu lado, se me assume, se a quantidade de lágrimas de frustração não supera a do amor... Pegar na cama é apenas a gota d’água para o que já estava ruim. Que estivesse na cama com mil mulheres, mas que eu me sentisse amada e respeitada por ele, é o que valeria.


O cara na minha frente almoça. Eu o acompanho. Quem sabe ele serviu de apoio para a frase de desabafo que emplaquei ao celular. Saímos do restaurante. Ele me compra flores e bomboms. Diz que é para sua amiga. E segue sem mais palavras. Nem precisava.

* ronaldo duran, escritor, colabora em jornais brasileiros.

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