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domingo, 1 de agosto de 2010

CRÔNICA DA SEMANA - ESPANTO

Olá, Amigo leitor,






Um bom retorno às aulas. Que as

agruras sirvam para te

 fortalecer.


Abraços,





Ronaldo


www.twitter.com/ronaldo_duran




                                  ESPANTO*



“Renasça com as manhãs”, era a música que tentava manter na cabeça, depois de ter descido do carro. A manhã estava bela. Agosto, sem chuva nem frio.
 Um clima agradável. O sol banhando tudo ao seu redor.
Até as pessoas lindas seguindo para o trabalho em lojas, bancos, escritórios, supermercados ficavam mais lindas com o banho de sol. Subiu a rampa da instituição. “Bom dia professor”, no que ele responde outro bom-dia com um sorriso.




Era professor. Antes, um bocado de bicos. Por vezes, alunos perguntam: professor, o que o senhor ainda não fez? De pronto respondia: não roubei nem matei. E os livros da escola? Sua consciência o perturbou. Ele justificava para si que todo o conhecimento absorvido nos livros repassava aos alunos. Se o Estado investisse em livros para o professor, não precisaria tomar emprestado. Não satisfeito com o raciocínio, o professor jurou para si que na próxima semana iria à escola e os devolveria.


Dia de seminário. Na verdade, são três dias. Hoje sendo o segundo. Gostava da metodologia. O aluno deixava de ser mero ouvinte e subiria ao palco. Protagonista. Momento mais que oportuno para verificar se a conceituação do tema tratado durante longas semanas fora apropriado, internalizado.

No seminário, se é difícil para quem expõe; para quem avalia não é menos tranqüilo. Contudo, o mestre adora ver a magia no semblante dos pupilos, a energia no falar, os exemplos elencados e os debates com paixão. O aluno apaixona-se pelo tema.

Um inconveniente. A mente rebelde do mestre divaga. Deixa de notar o aluno e se depara mirando detalhes outros. Vê bocas batendo. Caras gordas, magras, pintadas, ossudas. Mãos agitadas. Pernas longas, curtas, salientes, tímidas, retraídas. Olhos tesos, tensos. Os corpos grandes, fortes, gordos. Os miúdos, baixinhos.


Nas aulas expositivas, ele ficava mais tranqüilo. Passeava os olhos em toda sala sem fixar em alguém. Por vezes, chamava um estudante à atenção, mas com a cabeça a mil com o conteúdo a ser transmitido, raramente tinha tempo para se atentar detidamente em aspectos anatômicos. Há alunos que se destacam. Impossível não dar uma olhada em especial.



Tentava esquivar-se desses pensamentos confusos. Nada adiantava. É a desvantagem do seminário... O importante é aproveitar os outros aspectos positivos.


*escritor ronaldo duran, colabora em jornais. www.twitter.com/ronaldo_duran