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sábado, 25 de abril de 2009


TEORIA DA APRENDIZAGEM




por Nelson Valente*




Inúmeros autores atribuem a Skinner o início dos estudos mais profundos sobre a aprendizagem humana que nos levariam a uma tecnologia comportamental.


Burrus Frederick Skinner nasceu em 1904, num povoado rural do nordeste da Pensilvânia, Estados Unidos. Doutorou-se em psicologia em 1931, pela Universidade de Harvard.


De linha behaviorista, Skinner realizou inúmeras experiências sobre comportamento animal, em laboratório, transferindo posteriormente suas pesquisas para a área da aprendizagem humana.


Em sua teoria, Skinner sugere algumas formas de controle para o processo de aprendizagem através de arranjos das contingências do reforçamento (situações arranjadas com o intuito de possibilitar ou aumentar a ocorrência de uma resposta a ser aprendida-condicionada).


É o próprio Skinner quem esclarece:“Tanto quanto aqui nos ocupa, ensinar é simplesmente arranjar contingências de reforço. Entregue a si mesmo, em dado ambiente, um estudante aprenderá, mas nem por isso terá sido ensinado. A escola da vida não é bem uma escola, não porque ninguém nela aprende, mas porque ninguém nela aprende, mas porque ninguém ensina. Ensinar é o ato de facilitar a aprendizagem: quem é ensinado aprende mais rapidamente do que quem não é. O ensino é, naturalmente, muito importante, porque do contrário o comportamento não apareceria.”


A função mestra do professor, no processo da instrução, é arranjar as contingências de reforço. Skinner enfatiza que o importante para o professor não é procurar ou encontrar reforços outros do que aqueles que já existem na situação do dia-a-dia, mas sim armar e arranjar as contingências desses reforços em relação às respostas desejadas.


As idéias básicas sobre a apresentação de estímulos para a aprendizagem, em Skinner, estão condensadas em dois instrumentos: as máquinas de ensinar (criadas por volta de 1920 por Sidney Pressey e posteriormente desenvolvidas por Skinner) e a instrução programada.


Tanto a máquina de ensinar quanto a instrução programada buscam levar o aluno a estudar individualmente, sem intervenção direta do professor, por meio de material previamente elaborado, à base de fracionamento mínimo da matéria, adaptado às possibilidades do educando, segundo seu ritmo próprio, maturidade e conhecimentos anteriores.


O propósito da instrução programada é aumentar ao máximo a frequência de reforçamento e reduzir ao mínimo as conseqüências aversivas que acompanham o erro. Ela se baseia nos seguintes princípios: pequenos passos; resposta ativa; avaliação imediata; ritmo próprio; progressão lógica e graduada; reforço constante; verificação da aprendizagem.


(*) É professor universitário, jornalista e doutor em Comunicação.

POR QUE QUASE TODOS OS CRIMINOSOS SÃO HOMENS? Parte II[1]


POR QUE OS HOMENS COMETEM CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE?


por Satoshi Kanazawa[2]



Em meu último post explico como a lógica da psicologia evolucionista pode explicar por que os homens em sociedades polígamas são compelidos a cometer violências interpessoais que culminam em assassinato, lesão corporal e estupro. (E, recorde, todas as sociedades humanas são polígamas em vários graus, seja seriada ou simultaneamente.) Mas como a psicologia evolucionista explica crimes contra a propriedade?

Nós podemos estender aos crimes contra a propriedade a mesma lógica evolutiva da competição intrasexual masculina, no contexto da poligamia e da maior variação de oportunidades entre os homens. Se as mulheres preferem casar com homens com mais recursos, então os homens podem aumentar suas perspectivas reprodutivas adquirindo recursos materiais. Os recursos em sociedades tradicionais, entretanto, tendem a ser concentrados nas mãos de homens mais idosos; homens mais novos frequentemente são excluídos de alcançá-los via utilização de meios legítimos e devem, consequentemente, recorrer a meios ilegítimos para adquiri-los. Um método para fazer isso é apropriar-se dos recursos de outra pessoa, roubando-os. Assim, o mesmo mecanismo psicológico que motiva crimes interpessoais violentos pode igualmente motivar crimes contra a propriedade como o furto e o roubo.

Minha opinião de que os homens roubam a fim de atrair as mulheres pode num primeiro momento parecer estranha, já que tanto o furto como outras formas de subtração de recurso alheio são condenadas universalmente nas sociedades humanas; de fato, tal condenação é um outro universal cultural. É bastante provável, entretanto, que o mecanismo psicológico que motiva jovens do sexo masculino a cometer crimes violentos e contra a propriedade desenvolveu-se gradualmente em nossos antepassados na história evolutiva, antes da separação Homem - ape (primatas superiores), há 5-8 milhões de anos, e até mesmo antes da separação ape – monkey (primatas inferiores), há 15-20 milhões de anos.


De fato, meu raciocínio exige que os mecanismos psicológicos cruciais emirjam, logicamente, antes das normas informais contra a violência e o roubo; se não fosse assim, a competição violenta e a acumulação de recursos mediante o roubo não conduziriam a um status mais elevado e ao sucesso reprodutivo para homens, porque eles estariam condenados ao ostracismo por violarem as normas (a menos que, naturalmente, o delito nunca fosse detectado).


Acredito que as normas contra a violência e o roubo puderam evoluir como reação aos mecanismos psicológicos que compeliram homens novos a se engajarem na violência e no roubo. O fato de atos violentos e predatórios, os quais os seres humanos classificariam como criminosos, serem muito comuns entre as espécies não humanas que não possuem normas informais contra tais atos aumenta minha confiança nesta opinião. Sim, membros de outras espécies também praticam o assassinato, estupro, a violência física e o roubo.

Estas são algumas das razões pelas quais os homens são mais violentos e criminosos do que as mulheres em todas as sociedades humanas. O crime e a violência compensam em termos reprodutivos, permitindo que os homens eliminem ou intimidem seus rivais e acumulem recursos para atrair parceiras quando faltarem meios legítimos para adquirir tais recursos. Mas isso é só um lado da moeda. E as mulheres? Dado o que tenho dito nestes dois últimos posts, por que então as mulheres cometeriam crimes? Discutirei a criminalidade feminina no próximo post.



Pesquisa e tradução: Marcos Brunini (marcosbrunini@yahoo.com.br) São Paulo – SP, janeiro de 2009.


[1] Why are almost all criminals men? Part II, disponível em http://blogs.psychologytoday.com/blog/the-scientific-fundamentalist/200807/why-are-almost-all-criminals-men-part-i, acessado em 06/01/2009.



[2] Satoshi Kanazawa, psicólogo evolucionista, leciona na London School of Economics and Political Science e é coautor (com Alan S. Miller) de Por Que Homens Jogam e Mulheres·Compram Sapatos - Como A Evolução Molda Nosso Comportamento. Rio de Janeiro: Prestigio Editorial. 2007.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

LAVANDO BANHEIRO ALHEIO


por ronaldo duran*


Emoção. Fiquei trêmula, balançada pelo desabafo. Usei este recurso outras vezes. Mas cada vez parece única. Idéia pueril. Chamar atenção para a importância de meus alunos se dedicarem aos estudos. A motivação para falar veio ao acaso. Irritei-me com a resposta negativa quanto ao futuro de entrarem na faculdade. “Ah, a sua família bancou tudo”. Neguei. Disse que aos 28 anos era empregada doméstica, e que a partir daquela data, um dia decidi estudar e não parei mais.

Depois da aula, ao volante, fico pensando no impacto de minhas palavras. Tomara que sirva para ajudá-los a se encaminharem. E refletindo sobre minha própria caminhada, uma admiração me envolve. Entendo por que eles acham faculdade coisa para gente rica. De certa forma, eu também pensava assim. Aleguei como motivo de estar ausente da escola a ajuda que dispensava à minha mãe e meus irmãos menores. Em parte, é verdade. O lado da acomodação pesou igualmente. Tenho 46 anos. Na minha época, já havia supletivo, inclusive público. O desânimo me abraçava só em pensar em ir à noite para a escola após um dia exaustivo de trabalho.

Tinha dois filhos quando notei o desejo de acompanhá-los nas atividades escolares. Como se eu estava na 6ª série do ensino fundamental aos 28 anos? Além disso, eu que cobrava deles o empenho nos estudos, o que eu diria quando estivessem adolescentes? Queria dar-lhes orgulho de ter uma mãe formada. Durante a faxina que eu fazia numa mansão do Aquarius nas quintas-feiras à tarde, é que me veio um quê de indignação. Não por estar lavando o banheiro alheio, mas por estar ali mais por falta de estudo do que pela minha inclinação pessoal. Pensei: apenas um papel, um diploma, me separa de exercer a função mais de acordo com minha dita inclinação.
Então, vou caçar este diploma.

O diploma vem atrelado ao conhecimento que em tese confere ao seu possuidor. Nada de comprar diploma. Matriculei-me na escola. Aos 28 anos já temos certa disposição física, acomodação, se casadas ou não. Venci a tempestade que é deixar o lar, muitas vezes com as crianças chorando. Cansaço no dia seguinte era a regra.

Leciono história. O ganho é similar ao que eu auferia quando empregada doméstica, sem deixar de incluir nas desvantagens a fala de um ou outro governador rotulando-nos de preguiçosas ou mal-casadas. Com um governante assim, não admira que em termos de ranking mundial nós estejamos em baixa no item educação. O que importa é como professora eu incentivo os filhos da periferia a jamais abandonarem o sonho de uma vida digna. E dignidade raramente vem sem um adequado nível de instrução acadêmica.


*Escritor, romancista e contista, colabora com crônicas em jornais do Brasil. Contato: ronaldo@ronaldoduran.com Site http://www.ronaldoduran.com/