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sábado, 13 de março de 2010

conto - ronaldo duran







SER MULHER, QUE DUREZA!





Quatro anos atrás, e a veríamos exuberante,


transbordando alegria e disposição peculiares


às meninas que adentram na adolescência.


Nos corredores do colégio, saltitava como uma lebre.


Diante dos garotos, violenta, chutando-os


sempre que se via contrariada. Na sala, contida,


mais branda, determinada no mínimo a conservar


os elogios que bem caracterizaram sua


performance desde a primeira série do primário.





Estava, agora, no colegial. Primeiro dos três anos do ensino médio.



A vida para ela, até então, girava em torno de uma única preocupação: divertir-se. Quer dizer, brincar. Que bela fase! Brincar, divertir-se. Passear no shopping. Ir às festinhas das colegas de classe. Dançar as músicas das cantoras norte-americana, inglesa e brasileira que ela ouvia e ensaiava a coreografia a semana inteira, tão-somente para na festa acompanhar os passos das amigas.



Curtia os aniversários, inclusive o seu. Nesse dia feliz, tudo era divertido: as brincadeiras, as carreiras pelo quintal, pela varanda, os esbarrões nas mesas, nas cadeiras, enfim, a algazarra que agita o ser juvenil na exata proporção que perturba o senil.



A mãe a repreendia. Os adultos diziam para ela se aquietar. Doce desobediência.
Birra, grosseria, caprichos de menina que quer independência, mas cujo cérebro ainda não associou o preço cobrado. Quando contrariada, reclamava, como se todos tivessem que satisfazê-la. Na criança o impulso mais primitivo, o anticivilizado, reside soberano, fazendo com que ela viva necessitando ser o centro das atenções.



Curtia, brincava.



A menor contrariedade a irritava. Para evitar que façam juízo errado da menina, é bom frisar: decorrido pouco tempo da pirraça agressivamente verbal frente a quem a contrariava, por exemplo, a mãe, ela cai em si. Arrependia-se, e com a cara de amolecer o mais severo coração materno, rodeava a mãe, tudo demonstrando que queria a desculpa. Isto quando não a suplicava de viva-voz.



Quem dera que milhões de crianças maltratadas, ao cúmulo de serem espancadas, tivessem um lar como Daniela. Que as adolescentes abandonadas à própria sorte (ou ao próprio azar) desfrutassem do seio de uma família sadia e preocupada com o futuro da prole como era a de Daniela.



Ao contador de história, como eu, é facultado elaborar textos que dêem um toque nos agentes transformadores da sociedade: quando falo em agente falo em você leitor. A finalidade é para que você cobre, por si mesmo, ou ajude a grupos organizados a cobrarem a ação de corrigir barbáries como as que os destituídos de um lar sofrem. Simples, fiscalize a utilidade para a formação humana e profissional de um internato para menores de idade ou de uma prisão para o sujeito que escorregou na vida. Não precisa andar muito. Há sempre uma próxima de sua casa, ou no máximo, num bairro não muito distante.



O leitor, porém, sensível à realidade que nos abraça durante o trajeto pela estrada da vida, sabe que temos todos um quinhão de tormento e de alegria.



Por falar nisso, o que poderia atormentar uma menina bem-criada, não rica, mas cujas necessidades de mortal comum são, em sua maioria, plenamente satisfeitas? A despojada criança iludida com a plena felicidade lida nos livros infantis ou nos filmes holiwoodianos, ao deparar-se com o fato de que o custo é alto para se tornar princesa, irrita-se. E que custos!



Daniela se indigna com o fato de ter que se depilar, de ter que se perfumar. Essa rebeldia já cultivava, verbalmente, de modo prematuro, desde os nove anos. Porém, mais recentemente a revolta vem atingindo picos mais altos. Dali a uma semana completará 15 anos.



_ Daniela, que bicho te mordeu? Por que você está tão calada?, pergunta o abusadinho da classe.



_Vê se não enche...



_ Ih, ela está naqueles dias, grita o Douglas lá detrás, da turma do fundão.



A colegial deu graças a Deus quando o sinal do intervalo soou. Havia decidido que faltaria às duas últimas aulas, ainda que fosse da professora de matemática, “aquela velha maluca”, desabafa a estudante.



“Naquelas dias”, significa irritação proveniente do período em que a mulher está menstruada, ou prestes a; caso da TPM, tensão pré-menstrual. Durante esse tempo, certas mulheres são acometidas por dores atrozes.



Com quinze anos, naturalmente não seria o primeiro dia que Daniela havia sido sacudida por essa dor. Era uma velha conhecida. A dor incomodava, decerto. Contudo, o que mais a perturbava seria outro detalhe: a impotência, algo parecido com indignação. Qual o sentimento que mais desequilibra o ser humano do que a tal indignação?



“Mas por quê?”, perguntaria a magra, meiga e míope mãe, sra. Roseli, lá por volta das dez da noite. “Porque nós somos escravas”, a filha gritaria, amarela de fome e roxa de raiva.



Antes do horário no qual mãe e filha se interrogariam, obviamente decorreram doze horas da que o leitor a presenciou dizer que faltaria a aula de matemática. Voltemos ao pátio do colégio Estadual Aluízio de Azevedo na zona sul da cidade de São José do Rio Preto, Estado de São Paulo, para acompanhar a menina no percurso para a casa. Saindo no horário de intervalo, às 9h 40, estaria em casa por volta das 10h 05. Morava a uns poucos quarteirões da escola. E principalmente porque, naquele dia, não estava a fim de prosear com as amigas, nem ouvir os assuntos “massas” dos carinhas. Quis se mandar.



Em casa, visto que a mãe, florista, raramente vinha para casa almoçar, Daniela acenou para Rita, a empregada, e correu para o quarto.



Às 13 horas, Rita estranhou que a menina não havia almoçado. Mas não era de insistir.



Às 16, a mãe chegou. Rita passou a limpo os acontecimentos do dia, e seguiu para sua casa na periferia.



Às 21h 50, a preocupação de Roseli com relação à filha intensifica. Às vinte e duas e cinco, batia na porta do quarto da menina.



_ Pode entrar, mãe.



A expressão esculpida na face de Roseli ao entrar exprimia dois sentimentos distintos. O primeiro, o natural receio diante da reclusão da filha; o segundo, a satisfação frente à decoração concluída dias atrás. Bem, havia passado três meses, mas para ela, cheirava a novidade.



O quarto da menina ganhara novos ares. Como no antigo, no espaço entre o rodapé e a moldura de gesso foi aplicado papel de parede, só que desta vez o papel é reciclado, da Wall Paper, e colocado apenas em uma das paredes. Desenhada por Roberto Negrete, a cama é de ouro-faia, uma madeira espanhola. O criado-mudo, também com desenho do arquiteto, é de cerejeira ebanizada. Nas laterais da janela, os nichos têm profundidade exata para livros. Os quadros são de Vicente Kutka. Luminárias La Lampe, a de pé e Biancamano Luce, a prateada.



Que colírio para os olhos maternos ver a filha única debruçada sobre a cama. O edredom jogado no chão emadeirado. O corpo juvenil estava enrolado no lençol superior com babado. A cabeça afundada num dos dois travesseiros. As duas almofadas de 0,40 cm x 0,40 cm, uma presa no meio das pernas; a outra, atirada ao chão.



Muitos gozam um sofrimento que pode ser igualmente cômico, mas poucos são os afortunados cujo padecer vê-se rodeado pelo glamour. Para Roseli, a Daniela é uma dessas afortunadas. Sofre, é evidente. Mas que linda maneira de sofrer.



A prosa entre as duas poderia estender-se por toda a noite, não fosse pelo pragmatismo de Roseli. Amanhã era dia de luta, e na floricultura o que não faltava eram encomendas, principalmente nesse mês de maio; o mês das mães e das noivas.



Antes de se despedirem, a lábia da mãe, tão doce como um buquê de rosas, obteve importante vitória: desgrilou um pouco a cabeça da filha e a fez comer o miojo, evitando que dormisse de estômago vazio.



Ouvindo o delicado final, faz-se interessante saber como se desenrolou a conversa que gastou mais de quarenta minutos.



Roseli afastou os lençóis e travesseiro, e sentou-se na ponta da cama. Acariciou os longos cabelos negros cacheados de Daniela. A filha direcionou o olhar. Fácil notar o rosto amassado pela leve angústia.



_ Que foi? O que te deu para se entocar no quarto assim...



_ Nada.



_ Como nada? Logo você que não pára em casa...



_ Estava indisposta, tentou esquivar-se.



_Ah, isso eu posso ver... O que gostaria de saber é por quê?



Raros os adolescentes que medem as palavras. Em geral dizem o que vem na cabeça, pouco importando se há coerência. Sorte para uns, azar para outros. De qualquer maneira, Daniela se sentia à vontade para compartilhar suas crises com Roseli.



_ Ser mulher, que dureza!, a menina desabafou.



_ Ah não, novamente com essa história?



_ Como não ficar indignada? Ter que se torturar, se depilar, arrancar carne das unhas, puxar os pêlos encravados... Carregar toneladas de inutilidade na bolsa: batom, pinça, pincel, escova, espelhinho. Sujar a boca com a gosma chamada batom. Tudo para ficar imbecilmente mais sexy, ou se achar que é. Tudo para quê? Agarrar um homem.



_ Pare com isso...



_ É isto mesmo... No fundo é para agarrar homem. Ou quando agarrado, desesperadamente lutar para conservá-lo. E que desespero. A concorrência acirrada. Tem colegas minhas que só faltam aparecer peladas, pois quanto mais decotadas, mais tchan, acreditam que estão abafando.



_ Veja o lado bom. A mulher também faz isso para cuidar de sua auto-imagem. Ela quer sentir-se bem consigo mesma.



_Papo furado. Nunca vi homem ter que se depilar para se sentir bem consigo mesmo. Convencionou-se a exigir que a mulher tem que ser sem pêlo, lisinha igual a bonecas. Mas não somos bonecas, somos de pêlo, carne e osso.



_Hoje depilar não é tão ruim. Pode-se evitar a dor. E até cessar o crescimento dos pêlos pela raiz.



_Poxa, mãe! Você sabe que eu não tô falado disso. O que me incomoda é ser forçada a servir de isca. A ter que me torturar, me rasgar apenas para dar tesão para eles, os machos. Tem que se gastar rios de dinheiro para se manter nos trinques. Malhar, fugir dos refrigerantes, morrer de vergonha quando a celulite, as estrias aparecerem... Enquanto isso ninguém liga para machões que vivem enchendo a barriga de cerveja, ganhando volume, um aspecto horrível. E a cara avermelhada ou roxa dos cachaceiros, não, ninguém liga. Mas deixa as rugas aparecerem na nossa para ver o que acontece!



_ Desde que o mundo é mundo as injustiças sempre existiram.



_ Mas eu não quero suportar injustiças, esperneou.



_ Então seja mais razoável.



_ Ser o quê?



Daniela procurou conter-se.



_ Bem, continuou a colegial, tudo isso podia até passar despercebido. Eu poderia simplesmente viver como os ripes de sessenta. Mas o que me deixa doida é que a própria natureza ferrou com a mulher?



_ Não concordo com você. Nós temos que ter orgulho de ser mulher.



_ Orgulho de quê? Tenho minhas dúvidas. Vai ver fosse melhor ter nascido homem.



_ Filha!, Roseli a repreendeu.



_ Nós temos as próprias mulheres como nossas piores críticas. Nenhum homem ia me chamar de vagabundo se eu ficasse com dois ou mais cara numa noite. Nem me chamar de monstro se eu desencanasse de me depilar, melecar os lábios com a porcaria do batom, pintar minha cara que nem palhaço só para agradar alguém. Pelo contrário, a maior ofensa entre eles é chamar um de bicha ou que deixou de levar uma mulher para cama.



A mãe permaneceu calada.



_ E tem mais: à medida que os anos fossem passando, a idade chegando, eu ficaria mais enxuto, portanto, seria mais valorizado. Ora, quem me chamaria de velha seca, matrona gorda, ou a velhota bancando a mocinha?



Roseli sacudia a cabeça na tentativa de negar as afirmativas de Daniela.



_ O pior de tudo é ter que ficar menstruada. As dores. E tome Buscopam, compra absorvente, rola de dor na cama. Foda ser mulher, a filha soluçou.



_ Menina!



Ao simples soar do palavrão, a mãe despertou do olhar complacente, dando lugar à repressora que nela habitava.



_ Desculpa, mãe. Me excedi. Mas é que tudo isso me perturba e muito.



A mãe deu um leve tapinha na cabeça da colegial. Queria deixar livre a pobre criaturinha, acorrentada por questões épicas e muito polêmicas.



_ Então, minha princesa, pare de se torturar com esses pensamentos.



_ Ah, como?



_ Você só tem quinze aninhos. Aproveite que as contas a pagar, a obrigação de manter uma família ainda não fazem parte da tua vida... Como eu queria estar no teu lugar. É uma fase maravilhosa, apesar dos espinhos inevitáveis... Uma vida inteira pela frente, e seria um desperdício definhar por questões insolúveis.



_ Mãe, está fugindo do assunto.



_ Não estou fugindo, pois não há solução.



_ Mas tem que haver... Tudo tem uma.



_ Tomara que tenha. Lute. Toda mulher tem que luta pelo que acredita. Lute pelo fim da dor na menstruação, se é isso que te incomoda. Se passar batom, vestir saia e rebolar te irritam, não se obrigue a agir assim. Não é preciso rebolar ou se torturar para se assumir como mulher, antes do corpo somos seres humanos dignos de respeito.



_ Quanto à depilação...



_ Bem, você já é crescidinha.Sabe que nossa sociedade tem um padrão. Se caso quer fugir ou inventar outro diferente, faça-o, mas saiba que terá reação. Seja o que você quiser, mas assuma os riscos.



_ Brigadão mãe.



_ Por quê?



_ Simplesmente por você existir. Por aturar minhas frescuras, se interessar por mim, Papai é tão diferente. Sempre atrás da grana, atrás disso ou daquilo. Quando a gente vai comentar um assunto assim, ele diz que é para falar com você.



A mãe, emocionada, envolveu a filha nos braços e disse ao seu ouvido.



_ Talvez ser mulher não seja tão foda assim!



_ Mamãe, olha a boca!



Soltaram uma gostosa gargalhada.




*Ronaldo Duran, escritor. Colabora em jornais. Contato: ronaldo@ronaldoduran.com


educação - nelson valente*

TEORIA LÓGICA DOS SIGNOS





1. CHARLES SANDERS PEIRCE (1839-1914), pensador norte-americano, instituidor do pragmatismo como método de conhecimento, manteve relações intelectuais com todos os filósofos importantes de seu momento histórico - dentre eles: William James, Henry James, John Dewey, Gottlob Frege, Bertrand Russell.


Não realizou carreira universitária, e seus textos foram publicados esparsamente, reunidos pós-morte.


2. A posição pragmática (espécie de versão neopositivista mais avançada) consiste no método para a determinação de significados, concebidos como produtos factíveis.


O pragmatismo não se propõe, com Peirce, como filosofia. Seu estamento é de recurso para o pensamento filosófico, instrumento para o que-fazer filosofante.


3. Algumas constantes na metodologia peirceana.


Sua estrutura de raciocínio e demonstração apóia-se sempre em relações triádicas. Nisso, deriva direta sugestão da dialética hegeliana (tese, antítese, síntese).


Todo significado parte de uma hipótese, a que se segue uma operação - que vai até uma experimentação (ou mesmo um resultado).


O objeto é conhecido e diferenciado pelas consequências práticas que acarreta e pelos fatos em que resulta.


A concepção de um objeto equivale à concepção de como funciona ou do que pode realizar. Tal a proposição pragmática, da metodologia de C. S. Peirce.



4. Três são os elementos lógicos que permitem a decifração dos fenômenos, ou sua conceituação: PRIMEIRIDADE, SEGUNDIDADE e TERCEIRIDADE.


Esse sistema triádico identifica as categorias lógicas para C. S. Peirce.


PRIMEIRIDADE é uma qualidade sensitiva, ou sensação percebida (um orgasmo, um soluço, por exemplo). Resume-se na ideia daquilo que independe de algo mais. A primeiridade caracteriza os fenômenos singulares, idiossincráticos, excludentes. Os sentimentos ou as qualidades puras incluem-se na categoria das primeiridades.


SEGUNDIDADE é reação, resposta. Existindo um duplo termo, nas quais uma coisa acontece à outra. O nome de uma coisa ou fato é uma relação de duplo termo. Assim, a percepção sensível que permite conhecer os eventos ou sua mudança (troca de estado, troca de posição, referencial) - constitui-se na categoria lógica da segundidade.


TERCEIRIDADE é representação. A ideia que se faz de um terceiro, entre um segundo e um primeiro; uma ponte entre dois termos ou elementos. A terceiridade predomina na generalidade, na continuidade que permite, por exemplo, a elaboração de leis. Toda lei depende de um referencial (primeiro e segundo), de que ela é o terceiro. O signo, segundo Peirce, é a ideia mais simples da terceiridade.



5. SIGNO - segundo Charles Sanders Peirce, é aquilo que representa alguma coisa para alguém, sob determinado prisma. A coisa representada denomina-a objeto.


O primeiro signo denomina-se REPRESENTAMEN. Cria na mente da pessoa, o qual é direcionado como emissão, um signo equivalente a si próprio.


A flor que existe no mundo independe de minha vontade. A palavra flor (ou flower, ou fleur, ou fiore) é um signo gerado pelo primeiro signo que é a flor.


Esse outro signo, mais desenvolvido que o representamen, denomina-o Peirce interpretante.


Decorre nova relação triádica - signo / objeto / interpretante, como abaixo:



INTERPRETANTE




SIGNO OBJETO




Entre signo-interpretante e interpretante-objeto, as relações são causais. Já entre signo e objeto não há relação de pertinência, porque arbitrária. O signo não pertence ao objeto, o objeto não pertence ao signo.


Decorre que o interpretante passa a funcionar como a chave da relação (inexistente) signo e objeto.


As três entidades formam a relação triádica do signo.


Peirce configura a palavra signo numa acepção muito larga e elástica. Pode ser uma palavra, uma ação, um pensamento ou qualquer coisa que admita um interpretante, com o qual mantém uma relação de duplo termo.


A partir de um interpretante, e por causa dele, torna-se possível um signo.


Nem interpretante, nem signo, estão contidos na primeiridade ou na segundidade. Como categoria lógica, ambos incluem-se na terceiridade.



6. Peirce concebe os signos em três divisões amplas: ÍCONE, ÍNDICE e SÍMBOLO.


A partir da exemplificação abaixo, a indução dos conceitos.


Assim: a impressão digital na carteira de identidade (ÍCONE), a impressão digital do ladrão (ÍNDICE) ou a impressão digital, como símbolo de campanha a favor da alfabetização (SÍMBOLO).



ÍCONE é um signo que é uma imagem. Caracteriza-se por uma associação de semelhança, independe do objeto que lhe deu origem, quer se trata de coisa real ou inexistente.


ÍNDICE é um signo que é um indicador. Relaciona-se efetivamente com o objeto, por contigüidade. Aquilo que desperta a atenção num objeto, num fato, é seu índice. Permite, por via de conseqüência, a contigüidade entre duas experiências ou duas porções de uma mesma experiência.


SÍMBOLO é o signo que é uma abstração de um concreto. Refere-se ao objeto que denota em virtude de uma lei, e portanto, é arbitrário e convencionado. A possível conexão entre significado e significante não depende da presença (ou ausência) de alguma similitude. Enquanto o índice define contigüidade, o símbolo, não. Fundamental no signo que é um símbolo incide em seu caráter definitivamente convencional.


Essa é a divisão triádica dos signos, segundo Peirce.7. O signo apresenta, ainda três sub-categorias básicas. A partir dessa nova proposição triádica, C. S. Peirce concebe que todo o signo, em si próprio, pode ser 1) mera qualidade; 2) existência concreta; ou 3) lei geral.


QUALI-SIGNO é todo signo que é uma qualidade. Como tal, semanticamente, um determinante. O azul é um determinante (qualidade) de cor.


SIN-SIGNO é todo o signo que é uma coisa existente, um acontecimento real. Em princípio, envolve vários quali-signos (ou permite vários determinantes). O vermelho é soma dos quali-signos de vermelho (que é uma cor, que é sinal de proibição, que é sinal de alerta, que é sinal de perigo). O vermelho é o signo de si próprio (sin-signo), somatório de todos os quali-signos de vermelho). Uma palavra, como tal é seu sin-signo.


LEGI-SIGNO é o signo que é uma lei. O vermelho como pare, na codificação visual das leis de trânsito, é um legi-signo. Contudo, inexiste legi-signo sem sin-signos prévios. O vermelho existe antes como sin-signo, antes de ser uma lei de trânsito.


8. LUDWIG WITTGENSTEIN (1889-1951), pensador alemão, graduado em Lógica e Filosofia pela Universidade Britânica de Cambridge, era também engenheiro pela Universidade de Berlim. Envolveu-se em todos os procedimentos da lógica matemática e da lógica simbólica (Bertrand Russel) e sempre se dedicou a pesquisas de lógica semântica.


Seu texto básico é o Tractatus Logico-Philosophicus, publicado em 1921. o livro pretende estabelecer como próprio limite do pensar a língua.9. Wittgenstein ponderou o valor de seus conceitos no Tractatus, numerando-os de acordo com seu peso lógico. Dessa ponderação resultam sete conceitos básicos no Tractatus:


a) O MUNDO É TUDO QUE OCORRE (1);

b) O QUE OCORRE, O FATO, É O SUBSISTIR DOS ESTADOS DAS COISAS (2);

c) O PENSAMENTO É A FIGURAÇÃO LÓGICA DOS FATOS (3);

d) O PENSAMENTO É A PROPOSIÇÃO SIGNIFICATIVA (4);

e) A PROPOSIÇÃO É UMA FUNÇÃO DE VERDADE DAS PROPOSIÇÕES ELEMENTARES (5);

f) A FORMA GERAL DA FUNÇÃO DE VERDADE É ESTA É A FORMA GERAL DA PROPOSIÇÃO (6); e

g) O QUE NÃO SE PODE FALAR, DEVE-SE CALAR (7).


Os números indicados à direita dos conceitos acima referidos correspondem, no Tractatus, ao algarismo ponderado como valor de verdade.


10. É na proposição (3) que Wittgenstein desenvolve seu tema relacionado com o signo. Isso ocorre a partir do número ponderado. "Na proposição, o pensamento se exprime sensível e perceptivelmente". Para Wittgenstein, a situação possível nada mais é que o signo sensível e perceptível.


SIGNOS SIMPLES empregam-se nas proposições, e são chamados nomes. A função de cada nome é denotar um objeto . Por isso, na proposição, o nome substitui o objeto.


NOME é um signo primitivo, e portanto não tem denotação. Só em conexão com a proposição o nome (ou signo primitivo) tem denotação. O nome denota um objeto, apenas porque o substitui.


SENTIDO PROPOSICIONAL constitui o enunciado mais significativo desse universo conceitual. Wittgenstein denomina assim, o signo pelo qual se expressa o pensamento. "O signo proposicional consiste em que seus elementos, as palavras, estão relacionados uns aos outros de maneira determinada." E conclui: "O signo proposicional é um fato".


11. VERDADE é uma possibilidade que resulta da relação de dois conceitos: V (para verdadeiro) e F (para falso). As possibilidades da verdade, em suma, resultam das relações entre esses conceitos. Assim, tomadas as proposições p, q e r, as hipóteses de relação aduzidas por Wittgenstein.


12. Para Wittgenstein (como para os pragmáticos) todo signo é arbitrário, o que deflagra a subseqüência dos elementos arbitrários que dele derivam. Daí, duas asserções importantes:A) "Os limites de minha linguagem denotam os limites de meu mundo". De que decorre: "Para uma resposta inexprimível é inexprimível a pergunta".B) "O que não se pode falar, deve-se calar".


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA


SPEIRCE, Charles Sanders. Estudos Coligidos. Col. Os pensadores, trad. bras., São Paulo: abril, 1980 (ant.).


PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica e Filosofia. 2ª ed., trad. bras., São Paulo: Cultrix / EDUSP, 1975 (ant.).


WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus Logico-Philosophicus. trad. bras., São Paulo: C.E.N., 1968 (1921).


VALENTE, Nelson. BROSSO, Rubens. Elementos de Semiótica - comunicação verbal e alfabeto visual.São Paulo: Panorama, 2001.


*Professor universitário, jornalista e escritor. Contato: nelsonvalenti@hotmail.com