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sábado, 1 de agosto de 2009

marcos brunini - psicologia evolucionista


POR QUE A IDADE DA PUBERDADE
TEM DIMINUÍDO NAS ÚLTIMAS DÉCADAS? III[1]

por Satoshi Kanazawa[2],



As meninas que crescem sem seus pais em casa tendem a entrar mais cedo na puberdade do que as meninas que crescem com seus pais possivelmente porque a ausência do pai é um indicador do grau de poligamia na sociedade. Porque as meninas que experimentam a puberdade cedo apresentam maior probabilidade de iniciar sua vida sexual e ficarem grávidas numa idade mais precoce, e de se tornarem sexualmente mais promíscuas ao longo da vida, a idade da menarca é um determinante importante para o resto de sua vida. Que outros fatores são influentes?

Aparte a ausência do pai, o risco e a incerteza no ambiente familiar de uma menina são associados geralmente com uma idade mais precoce da puberdade. Qualquer coisa que possa potencialmente conduzir à morte prematura de uma menina ainda nova, conforme já demonstrado, acelera sua maturação. Isto faz pleno sentido evolutivo: se alguém pode morrer a qualquer tempo, esse alguém deve começar a reproduzir logo a fim ter alguma possibilidade de deixar crianças e de conseguir o sucesso reprodutivo. Aqueles que vivem em ambientes arriscados e incertos não podem permitir-se gastar seu tempo amadurecendo ou adiando a reprodução. Esta é pelo menos parte da razão pela qual as meninas de famílias pobres amadurecem mais cedo e têm crianças em uma idade mais precoce.

Em famílias ocidentais contemporâneas, o nível de conflito e a tensão entre a menina e um dos pais (mãe ou pai) são usados frequentemente como um indicador do risco e da incerteza na família. Meninas que têm pais calorosos e que dão suporte alcançam a puberdade e têm filhos mais tarde do que as meninas cujos relacionamentos com pais são plenos de conflito e tensão. Entretanto, eu acredito que o risco e a incerteza ambientais como deixas para uma estratégia reprodutiva particular (conhecida como a estratégia de seleção r, que implica em amadurecimento precoce, reprodução de vários filhos, e não investimento pesado em nenhum deles) são causas completamente diferentes da menarca precoce do que é a ausência do pai como um indicador de poligamia; de outro modo, não se pode explicar porque todas as meninas em sociedades polígamas, na média, têm a experiência da puberdade mais cedo do que meninas em sociedades monógamas. (Agradecimentos a Jay Belsky, como de costume, por me indicar a literatura científica mais recente sobre o assunto).

Finalmente, antes que eu conclua esta série de posts, gostaria de responder a um comentário feito em um post anterior. Os leitores regulares deste blog sabem que eu tenho uma política de nunca responder os comentários dos leitores, porque, sinceramente, como os mesmos leitores também sabem, a maioria dos comentários não merece resposta. Entretanto, há um comentário particularmente perspicaz no primeiro post desta série que eu não resisto em responder.

Michael Perreault pergunta se as meninas que assistem a muitas famílias divorciadas na TV poderiam experimentar a puberdade mais cedo, afinal, porque no ambiente evolutivo não havia nenhuma imagem realista de outros seres humanos (como na TV e nos filmes), o cérebro humano tem dificuldade em distinguir caracteres da TV, que repetidamente encontra na TV (seus “amigos da TV"), dos amigos reais, ainda que trabalhos mais recentes sugiram que esta tendência possa estar em sua maior parte restrita às pessoas com inteligência geral mais baixa. Se as pessoas têm uma dificuldade implícita em separar a TV da realidade, então as meninas poderiam igualmente experimentar um adiantamento da puberdade (o que geralmente acontece em conseqüência de seus próprios pais terem se divorciado) assistindo a famílias divorciadas na TV?

Eu amo perguntas como esta, porque poderiam somente vir de alguém que compreende verdadeira e profundamente a psicologia evolucionista em geral e o Princípio da Savana em particular. Alguém que não compreende completamente a psicologia evolucionista nunca faria perguntas como esta. Ainda que seja bastante perspicaz e engenhosa a sugestão do Sr. Perreault, não penso que o Princípio da Savana funcione neste exemplo particular, por duas razões.

Primeiramente, eu creio que as famílias descritas nos programas de TV têm menor probabilidade de divórcio e de freqüentes situações de tensão e conflito do que as famílias americanas reais. É verdadeiro que, comparados a anos atrás, hoje cada vez mais os programas de TV apresentam famílias quebradas e reconstituídas. Mas eu penso que a proporção de famílias divorciadas é mais baixa na TV do que na vida real, e que nos programas de TV as famílias com tensão e conflitos severos são subrepresentadas. Tais famílias simplesmente não fornecem material para comédias.

Segundo, e mais importante, como eu menciono em post anterior, o mecanismo (bioquímico) aproximado mais provável pelo qual a ausência do pai provoca o adiantamento da são os feromônios transmitidos à menina pelos homens não relacionados à família (padrasto, o novo namorado da mãe, etc.). Se este for o caso, é muito pouco provável que simplesmente assistir a famílias divorciadas com um padrasto na TV possa provocar a antecipação da menarca em uma menina, mesmo que se seu cérebro implicitamente pense que ela está vivendo agora com um padrasto, isso porque os sinais da TV não carregam feromônios.




Pesquisa e tradução: Marcos Brunini (marcosbrunini@yahoo.com.br).



[1] Why has the age of puberty declined in recent decades? III, disponível em http://blogs.psychologytoday.com/blog/the-scientific-fundamentalist/200810/why-has-the-age-puberty-declined-in-recent-decades-ii, acessado em 04/02/2009.

[2] Satoshi Kanazawa, psicólogo evolucionista, leciona na London School of Economics and Political Science e é coautor (com Alan S. Miller) de Por Que Homens Jogam e Mulheres·Compram Sapatos - Como A Evolução Molda Nosso Comportamento. Rio de Janeiro: Prestigio Editorial. 2007.

alexandre mohor - poesia


REVOLUÇÃO, CONTESTAÇÃO*


Estavam todos ali,

tentando entrar,

dizendo que devia abrir.


E veio o poeta escrever

uma longa e profunda poesia

analisando o erro do dono da porta.

E veio o rebelde contestador

dar chutes, jogar pedras

e berrar incitando a multidão.

E veio o estudante

fazer um inteligente discurso

falando da democracia

num microfone instalado

por um outro, cidadão desconhecido.

E vieram o repórter e o fotógrafo

pegaram flagrantes do dono da porta

e fizeram uma longa crítica

e uma grande manchete arrasadora

para o dia seguinte.


E num dia

ouviu-se um barulho de chaves

do lado de dentro da porta.

Ela abriu.

Alguém saiu, sorriu e falou:

- Entrem. Vamos tomar um café.

E cada um então

virou as costas e foi para um lado,

procurando uma porta fechada,

sonhando com uma revolução.


Belo Horizonte / Setembro de 1979


* poeta.