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sábado, 12 de setembro de 2009

poesia - fatima rezende*


QUERO TEU ABRAÇO





Quero um abraço, forte e profundo...


Um grande abraço... bem apertado


Que me faça esquecer o mundo


E da realidade me refugiar...


E só por um minuto ser feliz,


Na magia... Minha alma entregar


E no silêncio deste abraço sonhar!


Sonhar com o impossível!


No entrelaço dos braços...


Minha energia recarregar...


Sentir os braços teus... e meu coração a pulsar


Num descompasso silencioso...


Guardando segredo meu...


Ah ! abraço...entrelaço...


Quiçá este momento eternizar!


No tempo e no espaço... deste abraço


Minha alma acalentar...


Pois... só quero um abraço


E no silêncio a saudade findar...


*Poeta e psicóloga. Contato: fatima-rezende@hotmail.com

iniciativa na escola - profa. sandra martins modesto*


O SEGREDO DOS AMULETOS





O projeto que apresento para vocês é a criação de um livro de ficção, que é o primeiro de uma série de 10 volumes, mas não só um livro de ficção, é um trabalho de alunos da 7ª série do Ensino Fundamental da Rede Pública de Ensino, sob a minha supervisão. O que lhe apresento é um trabalho desenvolvido por quatro adolescentes na faixa etária de 12 a 14 anos, que escrevem simultaneamente roteiro para desenvolver a mesma história, os mesmos personagens e os mesmo critérios de escrita para criar um livro.


São quatro alunos, o que para a maioria vai parecer estranho, mas esse é realmente um trabalho a oito mãos. Reunir quatro mentes, pessoas distintas com idéias e formas de escrever diferentes. Desta forma pareceria difícil conseguir uma história única e coerente, no entanto, esta façanha rendeu um livro com 180 paginas e continua a render a seqüência dos volumes, tendo hoje até mais um aluno envolvido no processo.


Para escrever o livro os alunos se reuniam na escola e em horários extra-escolares, em sua residência ficava o trabalho de escrita individual. O processo de confecção do livro se deu com discussões, desenhos (story board), encenação e a partir disso era construída uma seqüência para a história, tudo isso antes que ela fosse para o papel, então dividimos quem ia escrever o quê, assim eram produzidos mais de dez capítulos de uma vez. Os alunos escreviam os capítulos a mão ou digitados e nós nos reuníamos para costurar e revisar a história. O livro que estou falando foi escrito em três rápidos meses, já com partes do segundo, sendo escritas simultaneamente.

Apresento-lhe a sinopse do livro:


Uma vida pacata com seu pai, amigos e amores. Quem não sonharia com isso?
Quem diria que o destino do mundo estaria nas mãos de um simples garoto de 11 anos, que se descobre portador de um amuleto capaz de destruir ou salvar o mundo.


Marcelo começa a fazer inúmeras descobertas sobre seu próprio poder e sobre sua família, mas antes que ele possa novamente ser feliz terá que travar uma batalha com um homem que é o “Senhor do mal” e talvez enfrentar quem ele menos espera... Será que esse menino controlará todo esse poder?


O segredo dos Amuletos – O começo, conta o início da trajetória de alguém que se transformará em um grande herói.
*Profa. Sandra Martins Modesto leciona na EE Profº. Sérgio da Costa, em São Paulo, Capital.


Me predisponho a dar maiores informações sobre todo o trabalho, seja através do Blog: http://osegredodosamuletos.zip.net, pelo e-mail: sandramartinsc@uol.com.br ou pelos telefones: (11) 2996 7789 c/ Sandra (11) 22673376 c/ Luan

domingo, 6 de setembro de 2009

conto - ronaldo duran


A CAPA DA AFRODITE*


Sinceramente nem ela mesma compreendia por que tamanha apreensão. Dos amigos, de alguns parentes e ex-namorados, o apoio parecia unânime. Ninguém a repreendeu quando comentou sobre o convite.


_ Se o cachê for bom, minha filha, pose _ era a opinião da tia Neuza.


Tia Neuza da pá-virada, tipo hippie neoliberal. Complicado se espelhar nela. Mas se os demais pouco ou nada diziam em oposição. Um martírio decidir-se sozinha.


Os ex-namorados davam a maior força. Pena que estava sem companheiro há dois anos. Será que se estivesse namorando o sujeito aceitaria numa boa? Provavelmente não. É o que lhe diz o sexto sentido, desenvolvido diante do estilo bem possessivo dos rapazes de Maringá.


Jacqueline Began Khour, dezoito anos, faltando um mês para atolar os pés nos dezenove, estava num dos maiores impasses de sua vida. Recebera um convite, de seu empresário, para posar nua na Afrodite, edição de março de 1998.


_ E isto é o começo, fofura! Se gostarem da sua carcaça, é quase certo que consiga lugar numa revista estrangeira. Tudo depende do primeiro trabalho.


As palavras vinham de Rafaelo De Poli, agente de modelos. Bem-sucedido, rodava o mundo. Diante dele, que mulher, por mais segura e experiente, não se sentia fragilizada, carne exposta no açougue? Rafaelo nunca encostava a mão nas modelos, era gay. Em contrapartida, o olhar que cravava nas coitadas queimava que nem óleo fervendo.


A jovem paranaense nunca havia se esbarrado com uma raposa da nudez mercantilizada. Natural que o constrangimento a envolvesse.


A proposta é um divisor de águas em sua carreira.


Subiu na passarela aos nove anos. Um desastre. Seu forte seria posar como capa de revista. Quantas capas feitas? Perdeu as contas. Na idade de dez a treze anos, as fotos angelicais fizeram muito sucesso (realçando os cabelos bem pretos e uma carinha de leite). Os traços delicados do rosto chamavam atenção para os produtos infantis.


Dos catorze aos dezoito anos, mudou de atuação. Vieram os perfumes, absorventes, chocolates, desodorantes, dia dos namorados. Sem faltar os anúncios para vestibular e festas em rodeios.

Nunca posou nua. Durante os seis primeiros anos de trabalho, os pais sequer permitiam que algum fotógrafo avançadinho a saboreasse em peças mais decotadas.


Duas semanas atrás, veio a bomba.


Cândido Basbalho Silva, o chefe de Jacqueline, assim que Rafaelo encerrou a fala, acrescentou:


_ Você está muito conhecida. O mercado é rotativo, requer coisa nova, cara nova. O consumidor se cansa de ver o mesmo rosto todos os dias, associado a um produto. O que é repetitivo fica monótono na propaganda. Veja, mesmo a Xuxa já deu no saco. A rainha dos baixinhos se segura porque é multifacetada. Banca de empresária numa hora; noutra, de apresentadora; às vezes, agente humanitária; noutra, de garota propaganda. Se ficasse só exibindo o corpo pra vender, quebraria. Mas você não é nenhuma Xuxa. Vai ter que diferenciar.


Jacqueline embirrou, único meio de mostrar que não estava afim da proposta.


_ É para teu bem. Quero te ver brilhar. Ora bolas! Quantos rostinhos bonitos entram por aquela porta toda semana? Você mesmo vê. E eu nunca te deixei na mão, sempre quebrando galho. Lembra-se quando o papel de criancinha inocente já não caía bem, eu te conservei. Outro te dispensaria.


Quanto você ganhará, aproveitador?”, pensou Jacqueline. Acostumada com as manobras do empresário, sabia que boa ação é sinônimo de enganação. Tudo tinha preço.


_ Então, vai pegar ou largar? _ Cândido intimou.


Jacqueline teimava no silêncio.


Basbalho, vendo que a resposta viria a custo e como estava prestes a viajar, concluiu:


_ Vou ficar uma semana em Curitiba. Terá tempo de sobra para pensar. Seu contrato venceu ontem. Se aceitar posar, além da grana que vai encher teu bolso, eu prometo que o renovo por mais um ano. Você viu que nesse ano tirou meia dúzia de fotos, mas nem por isso deixei de depositar todo santo mês teu salário. Leve isto em consideração.


Chegou em casa meio grogue. Estava em conflito. Conversou com a mãe durante um bom tempo. Óbvio que a notícia arrancou de dona Regina Began Khour arrepios de apreensão. Através de palavras brandas, a mãe dizia que se dependesse da vontade dela a filha descartaria a proposta. O pai, hora mais tarde, emitiria idêntica opinião, com tom mais explícito.


_ Seria um grande erro aceitar. É assim que os desavergonhados começam. Quando fotografias decentes não agradam mais, querem desgraçar a vida das pobres...


A filha, constantemente tão contrária às palavras paternas, desta vez meio confusa, até as considera sensatas.


Por que os pais de Jacqueline, embora revoltados com a notícia, não a impedem de cometer o que classificam de falta grave? Simples: acreditam que perderam direito de mando.


A vontade soberana da filha teve início a partir do momento em que passou a receber os bons salários pelos primeiros serviços como modelo.


Se houve uma certa resistência no começo, meses mais tarde os pais a tratariam como o orgulho da família. Foi uma alegria inenarrável quando um vizinho, há oito anos, trouxe a primeira revista. Na capa, pequenina, olhos castanho-claros, cabelos negros e compridos, pele muito branca e uma denguice pouco comum aos descendentes de imigrantes europeus instalados no interior do Paraná.


Devido à melhora do padrão de vida da família, através da grana que o sucesso da filha arrecadara durante anos, os pais se inibem de promover qualquer retaliação à sua carreira profissional.


Os amigos se dividiam. Havia quem estimulasse e quem achasse inconveniente.
Nos pais, doía a impotência de não poder fazer valer a vontade de impedir a decadência escancarada.


Durante um almoço com a tal tia da pá-virada, haveria um xeque-mate para a situação conflitante.


_ Pose minha filha... É supernormal. Antigamente era reservado às mulheres da vida se aventurarem nesse terreno. Hoje, cocotinhas das classes alta e média disputam aos tapas quem tira a roupa primeiro. Quem tem um corpo mais ou menos em cima deve aproveitar a mão que a sorte estende. Mesmo porque a concorrência cresce a cada dia. Se você não posar, outra o fará e levará a grana.


_ Mas...


_ Pare de recear. Veja nas academias, a moda do corpo sarado. As mulheres que não tiveram a sorte de possuir seu corpinho só faltam botar os bofes para fora de tanto malhar; comida natural, dieta, e por aí vai. Até as famosas, que posaram duas ou três vezes, com medo da concorrência, se submetem a retoques, tirando bunda, colocando seio, rasgando rosto, implantando cabelo... Que loucura! Vá menina. Aproveita o que ganhou de graça da natureza e faça seu pé-de-meia. Ah, se fosse comigo!


Aceitou. Não muito pelos conselhos de Neuza. Aceitou, aceitando. Como o funcionário que cede suas férias a pedido do patrão, mas sem qualquer vontade.


Um sucesso. Trezentos mil exemplares vendidos em duas semanas.


_ Isto, garota, ficou uma maravilha! _ Rafaelo dava pulos de satisfação, elogiando as fotos.


_ Melhor, impossível _ Basbalho aplaudiu.


Vendo a exaltação de Cândido, Rafaelo emitiu opinião mais perfeccionista.


_Para começo está bom. Mas quando for para gringos, a gente vai ter que caprichar.


Cândido deu uma cotovelada no sócio. Conhecendo Jacqueline, sabia que estaria extremamente envergonhada diante de Rafaelo, que olhava e manipulava as fotos despudoradas de maneira tão desconcertante.


Rafaelo, alçado por um resquício de sensibilidade, aceitou a advertência. Cessou a brincadeira. Resolveu ir direto ao assunto: a grana. “Agora quero ver se a vagabunda terá tanta frescura”, vociferou consigo o infame empresário.


_ A senhora sabe quanto ganhou?


_ Nem imagino.


_ Chute. Quanto? Leve em consideração que a revista roda o Brasil de norte a sul.


_ Cinqüenta mil? _ arriscou sinceramente Jacqueline.


_ Bobinha... Se o Basbalho fosse mau caráter ficaria rico às suas custas. Cinqüenta mil reais hein?

Cândido quis seguir a brincadeira.


_ Trezentos e cinco mil reais... Está bom para você?


_ Claro.


Rafaelo fez o cheque e depositou em suas mãos.


_ Isto é só o começo.


_ Como assim? _ perguntou Jacqueline.


_ Se tudo correr bem, mês que vem teremos novidade. Outro convite.


Puxa, trezentos mil. Dava para fazer muita coisa. Jamais recebera tamanha quantia. Houve uma vez, 1993, que ganhou um gordo cachê. Coisa de trinta mil. Tinha sido o maior prêmio.


Jacqueline caminhou do estúdio em direção ao estacionamento. Desligou o alarme do carro, nada menos que um Peugeot 97. No porta-luvas jazia a revista. Podia pegar no estúdio, mas não o fez. Comprou na banca. Apesar de normal para uns, a verdade é que o marinheiro de primeira viagem tem lá suas apreensões quando está prestes a ver sua nudez estampada e sujeita ao julgamento do grande público.


Logo cedo, apareceu numa banca distante de sua casa e nunca antes visitada. Buscava o exemplar. O jornaleiro, tão preocupado em dar atenção à clientela assídua, sedenta por seus jornais diários, nem notou a pequena. Da parte dos clientes, houve quem lhe passasse uma cantada, tipo lobo faminto. O garanhão só não gostou da resposta da garota, nem do riso dos circundantes.


_ Vá procurar sua turma _ bradou elegantemente Jacqueline.


Minutos mais tarde, à direção do confortável importado, passeava pelas ruas de Maringá. Os pontos turísticos, as pessoas na rua, o trânsito complicado em certos trechos, os pedintes, os mendigos, os ônibus carregando os trabalhadores, nada interessava. Apenas as revistas dependuradas nas bancas chamavam sua atenção.


Impossível esconder a recaída ao enxergar seu pôster. O pudor latente a atormentou. Se pudesse, sairia do carro e, arrancando-o, faria pedacinhos.


Dali a uma hora, em casa, meio desconcertada, começaria a receber os telefonemas. Algumas amigas elogiando, falando que estava bonita, e que tudo ia dar certo. Houve outras que nem deram as caras, sequer ligaram. O radicalismo presente forçaria a perda de amizades de longa data.


À tarde, um telefonema grosseiro. Com certeza algum conhecido de uma amiga ou ex-amiga sua. Só podia ser. Primeiro, porque a voz era estranha; segundo, ele estava com seu número de telefone.


_ Alô, de onde fala?


_ Aqui é a Jacqueline.


_ A gostosa que saiu nua? Comprei a revista. Gostei das curvas. Olha, você já está fazendo programa? Quanto é?


Ela desligou.


Doeu pra caramba.


Seria o início do tumulto que duraria meses. Passou a evitar e ser evitada no bairro em que morava. Os parentes, alguns, nunca mais voltariam a pisar na casa dos seus pais. Dois dos ex-namorados, diante dos colegas de farra, abusaram de rótulos pejorativos, humilhando-a.


Quem queria namorá-la? Ninguém naquela cidade. Os telefonemas escandalosos, atirados e maldosos, choviam quase todos os dias. Eventuais pichações nos muros da vizinhança aviltavam sua pessoa.


Mudou-se com a família para Curitiba.


_ Posar é apenas a ponta do iceberg. O obstáculo maior é ter de enfrentar velhos amigos com seus preconceitos ocultos ou escancarados _ disse uma colega de profissão, ao ouvir as lamentações de Jacqueline.


Sofreu por um bom tempo.


Em dezembro de 1998, viajou para a Europa, a fim de fazer novas fotos para outra revista masculina. Longe do ninho, a coisa ficou mais fácil. O cachê ultrapassou o primeiro milhão de dólares.


*Ronaldo Duran, romancista, escreve em jornais. Este conto é do livro SONHAR É BOM, VIVER É MUITO MELHOR.