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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Um Feliz Natal Verde - elenice carmo*









As pessoas preocupadas com a ecologia certamente estão sempre se perguntando nesta época do ano sobre qual a melhor opção em termos de impacto ambiental para a tradicional árvore de natal.


Uma árvore natural ou uma artificial? Natural, claro! Mas proveniente de onde? Limpezas florestais, horto florestal, viveiros, podem ser ótimas opções.


Porém, devemos levar em conta que uma árvore demora muitos anos para atingir o estado adulto e não devem ser abatidas para este fim, que é o de ornar uma sala ou algum cômodo da casa na época do Natal.


Também, não se devem ocupar terrenos para criação de árvores para abate sem que tenham atingido o tamanho adulto, já que é neste estado que elas reciclam o CO², refrigeram o planeta, produzem a umidade, dão abrigo aos pássaros entre tantos outros benefícios. Mesmo que, nestes locais específicos sejam plantadas outras no lugar das que foram abatidas, existe o problema dos pesticidas e fertilizantes utilizados para o crescimento das mesmas.


As árvores artificiais parecem, então, serem a melhor opção – são bonitas e duráveis, porém, elas são feitas à base de plástico ou vinil, derivados do petróleo. Frequentemente elas contem chumbo. Isto significa um grande gasto de energia na sua produção e um potencial foco de poluição.


Então, que tal um pinheirinho vivo dentro de casa? Pode ser provenientes de limpezas florestais, serem comprados em viveiros ou em floriculturas. O tamanho não pode ser muito grande, para poder crescer durante alguns anos dentro de um vaso que pode ser mantido na varanda, no alpendre, em um corredor fora de casa e ser levado para dentro no mês de dezembro, para cumprir sua função decorativa (tendo em vista que devem regá-lo com frequência para que possa suportar a temperatura interior e o ar mais seco). Assim que a árvore atingir um tamanho que não possa mais viver dentro do vaso é só escolher um local para plantá-lo.


As pessoas que tem um jardim podem plantar o pinheirinho ali mesmo, mas, se não tem, pode plantar no jardim de um amigo, no de seu prédio ou em algum local na cidade onde haja poucas árvores (existem muitos terrenos ociosos em nossas cidades), depois, é só visitar o seu pinheirinho de tempos em tempos.


As pessoas podem fazer um Natal Verde durante todo ano adquirindo uma árvore para comemorar datas importantes como o nascimento de um filho, comemoração da data de um namoro, primeiro ano de casamento, presente de Natal para o Menino Jesus e ir assinalando a passagem do tempo através do crescimento da árvore.


Nesta época tão bonita, abusem na generosidade, no bom censo, na conscientização da importância da ecologia, na essência Cristã que é o amor por todo o tipo de vida. Tenham em mente que o Menino Jesus não quer que o seu aniversário seja comemorado com mortes desnecessárias, mas sim, com muito amor e respeito por todos os tipos de seres vivos.


Tenham em mente que o Menino Jesus os abençoa e deseja a todos um Feliz Natal Verde e um Próspero Ano Novo cheio de realizações.


sábado, 19 de dezembro de 2009

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sábado, 12 de dezembro de 2009

educação - nelson valente*

DESCONHECER AS LÍNGUAS SEMPRE PRODUZ A INTOLERÂNCIA


Agora, a unificação ortográfica tornou-se viável, de certa forma respeitando-se ainda o critério fonético (ou da pronúncia) em que se baseia na ortografia portuguesa. Mas desde logo um fato que nos tranquiliza: morreu o trema em palavras portuguesas ou aportuguesadas. Era um sinalzinho que não servia mesmo para nada.

Cabe-nos denunciar os maus uso da língua nessas formas de comunicação, para que seus erros não venham a ser motivo de vergonha para nós. Entre as incorreções que destoam no uso da língua, são frequentes pequenos descuidos, até perdoáveis, mas há casos de barbarismo contra a pureza da língua nos aspectos sintáticos, regenciais, ortográficos, sem falarmos de troca tão comum de tratamento, como também de organização ilógica de ideias, o que acarreta, frequentemente, ambiguidades e interpretações errôneas de pensamento. A língua é uma força biológica: não se pode modificá-la com uma decisão política. Pode-se, quando muito, influenciar o uso. É uma função dos jornalistas, escritores, professores e da mídia.

Um bom uso mostra-se pela flexibilidade com que as palavras são aceitas. Todas as línguas estão repletas de palavras estrangeiras que foram naturalizadas. Os editores, os donos de televisão, jornais e os críticos literários não entenderam que houve uma revolução espiritual, que o nível geral subiu. Comunidade Linguística da Língua Portuguesa: em que se luta para que o português seja reconhecido também como língua oficial da ONU; em que o português vai alcançando o 4º lugar entre as línguas mais falada no planeta. Não podemos deixar que ela se desfigure e se deturpe de maneira tão galopante, como está acontecendo nos meios de comunicação. Em geral, o erro linguístico depõe contra quem o cometeu.

Convivemos neste século (desde 1911) com duas ortografias oficiais da língua portuguesa, o que sempre foi prejudicial. Aí pode estar a razão de não ter sido o português acolhido, na família ONU, como língua oficial. Em 1931 estabeleceu-se o primeiro acordo ortográfico em ter Brasil e Portugal, sem efeitos práticos. A convenção de 1943 e depois as de 45, 71 e 75 mantiveram sérias divergências. Portugal rejeitou o acordo de 86, com a participação de toda a comunidade lusófona, mostrando que a imposição de uma unificação ortográfica absoluta jamais seria aceita.
Cada língua propõe um modelo de mundo diferente. Por isso não é possível tentar instituir uma língua universal. É preciso, portanto, tentar passar de uma língua para outra. Eu sou a favor do polilinguísmo. A diversidade das línguas é uma riqueza. Esse é um fato indiscutível, ligado, provavelmente à natureza humana. Durante séculos, não desfrutamos desse tesouro, porque sempre houve uma língua que predominava sobre as demais: o grego, o latim, o francês, o inglês. Creio que, dentro de uma geração, teremos uma classe dirigente bilíngue. Desconhecer as línguas sempre produz a intolerância. Conhecê-las, porém, não é garantia de tolerância. Nos Bálcãs, os sérvios e os croatas entendem-se, e contudo... No passado, os que se revoltavam mais ferozmente contra o colonizador haviam estudado na metrópole. Pode-se massacrar uma população conhecendo-se perfeitamente sua língua e sua cultura.

O conhecimento torna-se, então, um elemento de irritação ou de rejeição, do mesmo modo que um marido e sua mulher podem acabar brigando cada vez mais à medida que vão convivendo. A língua tem razões que a própria razão desconhece. Minha filha, que é bilíngue, pediu à sua mãe uma noite dessas: “Mamãe, conte-me uma Geschichte.” Para ela, Geschichte é o conto, a história de Chapeuzinho Vermelho. Para nós, é História em 12 volumes.

Os franceses fazem de conta que brigam com o inglês, mas têm medo mesmo é do alemão. Desde a queda de Berlim, a Europa do Leste transformou-se num bolsão de poliglotismo alemão e há muita probabilidade de que o alemão se imponha na Europa! Nunca, no mundo, alguém conseguiu impor a língua estrangeira dominante.

Os romanos foram mestres do mundo, mas seus eruditos conversavam em grego entre si. O latim se tornou a língua europeia quando o império romano desmoronou. No tempo de Montaigne, o italiano era o vetor da cultura. Depois, durante três séculos, o francês foi a língua da diplomacia. Por que o inglês, hoje? Porque os Estados Unidos ganharam a guerra e porque é mais fácil falar mal o inglês do que falar mal o francês ou o alemão. O que não impede que os franceses falem de uma "colonização" de sua língua pelo inglês.

O filólogo Antônio Houaiss costuma dizer que “a língua portuguesa tem enorme vitalidade e cresce toda noite”. Quando dirigiu os trabalhos de montagem e edição do Vocabulário Ortográfico, uma obrigação da Academia Brasileira de Letras, totalizou cerca de 350 mil verbetes, mas hoje desconfia que o número possa ter subido para 400 mil.

O acordo ortográfico de unificação da nossa língua não passa de 2% desse total, estaremos diante de aproximadamente oito mil vocábulos para serem apreendidos pelos que usam o idioma como ferramenta de trabalho, como é o caso de professores, escritores e jornalistas.

Segundo o acadêmico, Arnaldo Niskier: “É preciso, porém, ainda mais agora com a decadência do ensino e a enormidade de erros veiculados pelos meios de comunicação, distinguir o que pode ser (ou vir a ser) que agride o vernáculo, transfigurando-o, impregnando-o de palavras e expressões alienígenas, absolutamente dispensáveis, tolos modismos e até mesmo erros crassos”. A unificação chegou em boa hora.

*Professor universitário, jornalista e escritor. Contato: nelsonvalenti@hotmail.com

sábado, 5 de dezembro de 2009

crônica - ronaldo duran*



RUMOS DA INTERNET



Havia dado uma caminhada pelo quarteirão. Fim de semana. Sábado. Abriu a porta de casa. Direto para o banheiro. Lavar o rosto. Depois de quase quarenta minutos caminhando, e numa manhã ensolarada, claro que o suor é inevitável. Toalha úmida deslizando em volta do pescoço pra refrescar.



De volta para a sala de estar, pegou a pasta do notebook. Abriu-a. Ligou o aparelho. Colocou o plug da bateria no soquete da cozinha. Ainda bem que o fio é longo. Em seguida, o mouse e o fone de ouvidos são espetados no computador portátil. O wireless e o roteador permitem que a internet seja acessada de qualquer canto da casa.



Na cabeça, um pouco de nostalgia. De vez em quando, ele se pega admirando a capacidade da rede. E perguntas infalíveis saltam: como vivemos tanto tempo sem? Como viveríamos sem ela se acabasse? Nada de fatalismo. Ele sabe que a vida existiria – como existiu outrora – sem a rede.



É ótimo acessar a rede, ah, isto é. Abrir o site de música, ou assistir um vídeo. Ouvia a Lady Gaga. Não que fosse fã. Para dar um tempo do U2. Carregou o programa de desenho gráfico, corel draw.



Formado em desenho industrial em 1993 pela UEP de Bauru, teve que praticamente aprender a desenhar quando conheceu o Corel Draw, tamanha a diferença que sentiu em produzir no papel e na tela do computador. Antes, ele debruçava-se sobre a banqueta na faculdade ou em cima da que tinha no quarto. E os traçados saíam da ponta do lápis ou eram realçados pela caneta nanquim. A novidade lhe irritou no início. Tanto que fazia os desenhos no papel e só depois passava para o programa. Levou muito tempo para finalmente criar a partir do aplicativo.
Hoje, trabalha em casa fornecendo arte final para embalagens às empresas.



A internet ajuda. Pela webcam, ele fala com o gerente de uma empresa em Atlanta, EUA ou com o proprietário de uma agência de publicidade em Salvador, Bahia. Não é como se estivesse numa ligação telefônica. Vai além. O cara do outro lado pode inclusive dar palpite no traçado do desenho que o designer exibe na tela do computador. Através do e-mail, em arquivo anexado, envia a prova final do desenho para avaliação do cliente.



Antes da rede, quem trabalhasse em casa sentir-se-ia como um Robson Crusoé ilhado. Hoje, não. A internet é uma enorme empresa, de milhares de departamentos. Ontem mesmo baixou como editorar um livro. É como se tivesse vários professores à disposição, prontos para ajudar a solucionar um problema, desde que a pergunta seja feita corretamente no Google.



Paciência é a alma do negócio em tudo. Na internet não é diferente. Tudo parece estar pronto? Certo. Mas o que conta é menos achar o que procura, e sim aprender a dominar o que encontra, pensa o designer.



Na rede também tem muita porcaria. Pedofilia. Malandro enviando e-mails com as fotos-que-tiramos-juntos ou aqui-está-o-comprovante-de-depósito para você acessar e ter senhas capturadas. E muitos outros trambiques. Contudo, até nisso a educação que a rede proporciona faz a diferença. Ela ensina como escapar das armadinhas.



Os rumos da internet, quais serão? Ia refletindo ele. Seria complicado prever. O que importa é ir usando, aprendendo, socializando.



Foi à cozinha. Abriu a geladeira. Suco e um chocolate pra despertar. De volta ao computador, pegaria firme no trabalho. “Chega de pensamentos”, disse para si.





*Ronaldo Duran, romancista. twitter.com/ronaldoduran_

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

jânio quadros - nelson valente*


JÂNIO: LEMBRANÇAS DE FAMÍLIA E DA ESCOLAS





Estas breves e inéditas reminiscências de infância e juventude constituem um dos raros depoimentos do presidente Jânio Quadros sobre sua vida pessoal. Gravadas em 26/09/1989, por Nelson Valente ( autor de 12 livros sobre o ex-presidente Jânio Quadros).


1ª Parte


Volto as minhas reminiscências da mocidade. Vejo-me no bonde pequenino e inseguro que me levava ao internato, onde fiz parte do curso secundário.Meu pai experimentou os três regimes comigo: era aluno comum ou semi-interno e interno. Os dois últimos me causavam pavor. Ficar o dia inteiro enjaulado em imóvel frio, impessoal, de altas paredes, entregues as normas de disciplina rígidas e impessoais também.


De qualquer forma, meio aturdido pela surpresa, ali estava eu, prisioneiro das notas baixas do passado, sobretudo na aritmética, e sofria com a disciplina. Fora colocado entre os alunos menores, submetido por acréscimo à vigilância dos médios e dos maiores. Os últimos que gozavam de algumas regalias sentiam-se predispostos a exercer essa vigilância com tirania. Dentre eles estava um primo que viera do Mato Grosso, meu estado Natal. Era dos piores. Não perdoava nada, muito menos o toco de cigarro retirado das dobras do uniforme para uma chupada na privada na privada mais próxima.

O colégio era enfadonho e triste: a rotina invisível, cronometrada, tornava-se um suplício.

Alegrava-nos a existência de um padre que considerávamos santo, o Mielli, quase cego. Generoso, fraternal, não só perdoava os nossos pecadinhos, como parecia encorajá-los.

Arrastei o ano de 1930 nesse cárcere, onde, para agravar o quadro, tornando-o intolerável, havia um professor chamado Leopoldino que, a menos que reformado nos costumes e práticas, o Florentino deve tê-lo posto em um dos círculos mais temíveis do seu livro imortal. O Leopoldino personificava tudo que havia de mau. Aprendia os cigarros, que fumava depois, revelado com gestos e caricaturas o quanto se deliciava com o ato. Rondava-nos de surpresa para toas os livros e revistas que nos chegavam às mãos, filhos do difícil contrabando. Espancava os recalcitrantes. Homenzarrão atlético, causava-nos horror vê-lo dando bofetadas a alunos, que se cobriam com os braços para escapar aos muros, perante a platéia impotente.

Chegou a minha vez. Surrou-me o quanto queria. Enfurecido. Purpúreo. Não deixei de contar tudo a meu pai, à primeira folga, das raras que tive ao fim de semana, quando era lícito passar o domingo com a família em Curitiba. Meu pobre pai, com ira paternal, foi ao internato tomar contas ao Leopoldino.

Eram ambos, sanguíneos e irascíveis. Não sei o que ocorreu, mas nada menos que um pugilato. Fui convidado, a seguir, a deixar o ginásio.

Corria o fim do ano e o quadro político sombrio previa o desfecho da praxe republicana. Eclodiu, de fato, a revolução que a Aliança Liberal prometia. E com ela, a vinda da família pra São Paulo.


2ª Parte


A vela da minha vida bruxuleia. Há dias, este para apagar-se levada pelo coração enfraquecido.

Ciente disso estão os meus amigos, exatamente os que mais prezo. Geralmente conquistados na vida pública, eis que ela os distancia. Encontra-se os supérstites nos chapadões no Mato Grosso ou nas araucárias do Paraná.

É raro nos vermos. De quando em quando eu era surpreendido por uma carta ou simples cartão com que a mão generosa vencia os espaços. Se, com endereço, respondia feliz. Agradava-me revelo nas linhas que me dirigia, sumido o colega nas vastas regiões do sul-mato-grossense ou nas planícies que caracterizavam o Estado nascido também da coragem e ambição paulistas.

Relembro agora minhas primeiras letras no grupo escolar de Curitiba. Depois de ter estado com os Maristas no colégio da Rua Quinze e ter sido aluno interno do ginásio religioso daquela cidade, vi-me arrancado pela revolução de 30, que expulsou a pobre família na direção do altiplano paulista.

Aqui prossegui os estudos no arquidiocesano, após estágio de um ano – castigo, porque terrivelmente levado – no magnífico Colégio Salesiano de Lorena.

Diplomei-me pelos Maristas. A ele devo a minha autodisciplina, meu gosto pelas línguas, sobretudo a portuguesa, e o meu amor aos livros. Esse amor marcou-me como paixão solta, infrene.

Altas horas da madrugada meu pobre pai batia à porta do quarto em que devia estar dormindo para ordenar que apagasse a luz incerta eu lia para escapar a denúncia da réstia sob a porta.

Fui para a faculdade, a seguir. Com grande professores.

Não posso esquecer, porque seria injusto, a figura extraordinária de Mário Mazagão que me impressionou pelo seu rigor na vida pública e privada. Rigor de asceta de uma nobre vida que, diariamente, exigia contas de si próprio. O resto é história conhecida. A rápida, fulminante carreira, regida pela moralidade, na política de São Paulo e do País.

A vaidade que tenho é não se terem perdido as lições que colhi de mestres notáveis, que revejo agora, os olhos nos olhos.

Nesta quadra da vida, quase cego e com a memória falha, dou graças a Deus por ter me conduzido a uma esposa virtuosa. Era um encantamento de mulher e deu-me uma filha da qual me envaideço.

Esta atravessou dificuldades sérias, mas venceu-me. Hoje é deputada federal, as netas bem casadas. A família feliz.

Não é muito o que tenho a contar, nem isso é um arremedo de biografia.

Detesto esse gênero literário que só canta loas a seu autor, quase sempre imerecidas.

Os homens são bons e maus. Raramente santos. Poucas vezes sábios.


3ª Parte


Não escrevo por motivos óbvios, nada sobre política, nem pretendo discorrer sobre matéria cediça. Literatura, por exemplo, sociologia ou o pobre e maltratado vernáculo. Não prossigo nas minhas reminiscências, recortadas até com sacrifício pessoal, dada a minha saúde precária.

Falava no artigo anterior de meu internato no Ginásio Paranaense. Vou dar aquele domingo a continuidade possível.

Dentre os fatos maiores ocorridos em 1930, devo destacar, também, o casamento da minha prima Lourdes com Afonsinho Camargo. Este era filho do governador do Estado e, possivelmente, o moço disponível e dos sonhos de cada donzela curitibana. Saudável, bonito, viril, o jovem Camargo ficara famoso por suas tropelias no belo sexo. Era o terror e, ainda, a esperança sussurrada das famílias que tinha uma jovem casadoura. Pois bem. O namoro com a prima, também mato-grossense e de rara beleza, marcou-se pela rapidez fulminante. Em pouco tempo, para desespero das rivais, a Lourdes levava o Afonsinho ao altar.

Ao mesmo tempo os céus da política turvavam-se, ameaçadores. Eclodiu a Revolução, vitoriosa num ápice, sem tiros no Sul ou resistências firmadas.

Desabava o nosso mundo. Meu pai, que fora nomeado médico do Estado, preparou-se para a vinda a São Paulo, à procura de um governo perrepista (PRP).

O governador paraense deixou o palácio e alcançando o litoral encetou uma penosa fuga na direção do norte, onde a temível Força Publica assegurava ás autoridades centrais aparente solidez na tranqüilidade.

Lembro-me bem da excitação que marcou nossa viagem. São Paulo é que da café dizia o verso patriótico de canção repetida por todas as bocas, inclusive a das crianças taludas. De fato, desmoronava-se a estrutura da velha República.

Ocupando o Paraná e detidos os revolucionários em Itararé, com Minas subelevada e a figura rebelde Juarez no Nordeste, era tudo uma questão de tempo. O tempo necessário para que a guarnição do Rio de Janeiro constituísse a chamada junta militar com o dever procípuo de depor a Hidra do Catete – assim era chamado o honrado presidente Washington Luiz. Esse episódio, inglório antecedeu de pouco tempo a nossa chegada à Paulicéia.

Com energia singular, meu pai conseguira trazer com a mudança a humilde botica, agora em Santana, bairro que elegeu para a nossa residência, em uma altissonante, embora paupérrima, Farmácia do Povo.

A duras penas e com assombrosa firmeza, conseguia ele instalar-se e instalar-nos na capital. Alugou para residência um sobrado à Rua Voluntários da Pátria.

Desdobrava-se trabalhando. Médico e farmacêutico, infatigável e imaginoso, provia a família composta de minha mãe e uma irmã de nome Dirce, com o mínimo necessário. Nunca nos faltou nada. Excetuando o luxo, tudo o mais tínhamos com abundância.

Eu, porém, era um estorvo, Magricela, olhos tristes, refugiava-me na leitura, errando pela casa, na indolência forçada. Certa noite, ouvi do meu quarto, que era traçado o meu destino. Cedo, à roda das sete horas, coube à minha mãe, uma santa e fadigada mulher, comunicar-me o decidido: Seria internado no Colégio Arquidiocesano, com saída semanal aos domingos. Isso, se bem comportado.

Dava assim um adeus definitivo ao cinema ocasional, aos jogos mais ou menos inocentes, inclusive o futebol, às coleções de selos, à leitura errática, da qual consumia as noites até as primeiras luzes da aurora.

A seguir, o Ginásio, A Faculdade de Direito e a Política.



*Professor universitário, jornalista e escritor. Contato: <nelsonvalenti@hotmail.com>

domingo, 22 de novembro de 2009

Artigos - Hojems - Três Lagoas

Artigos - Hojems - Três Lagoas

crônica - ronaldo duran






A JAULA*


Sempre que ouço o povo malhando alguém famoso como pessoa instável, volúvel, aproveitadora, quando o assunto é casório, eu fico na reserva. Quem tem culpa no cartório se cala para que o alvo de crítica não se volta para si.




Longe de mim comparar-me a um Don Juan em número de conquistas, e não é pelo fato de eu ser mulher, quarentona, pois tenho amigas que em nada perdem para os popstars. De casamento passei por dois. E estou no segundo namorado, que quer me enlaçar matrimonialmente.




O primeiro casamento, tinha a curiosidade sexual como atrativo, visto que era virgem.



Curiosidade, sim, ainda que inconsciente. Afinal no tempo em que eu era uma adolescente, o ficar ainda não estava institucionalizado, e pai e mãe eram muito amigos, mas igualmente castradores. Vigiavam-me mentalmente por onde eu estivesse.




Claro que quem quer sempre há como escapar. E curtir. E muitas curtiram e eu querendo ir no vácuo, me estrepei. De primeira, engravidei. Nada de neurose, adorei. Dei um salto, virei mãe e dona-de-casa, deixando para trás um emprego legal e uma promissora carreira para adentrar numa mais ainda promissora carreira maternal.




O príncipe do meu lado se transformou. Evito o clichê de que virou sapo. Porque até nós mulheres quando estamos interessadas em conquistar fingimos o que não somos, ainda que não percebamos esta atitude. Imagina o homem que tem mais pressa.




Ele começou a mamar álcool, destoar do que era quando namorávamos. Depois de comer um quilo de sal juntos é que se conhece um pouco o companheiro, diz o ditado.




E as brigas, os desentendimentos, os choros ora sufocados ou gritados, o desânimo visceral, desespero mortal, os dias de semana separados pelo trabalho, o fim de semana separados pela cachaça. Tá, tinha a parada básica, biologicamente determinada. Um beijo aqui, uma carícia ali. Mas chega uma hora que a aversão murcha qualquer libido e queremos mais é se esquivar.




O casamento por vezes parece ser uma jaula na qual se entra e jogamos a chave fora, e quando percebemos, damos de cara com os dentes caninos, as unhas afiadas, a língua venenosa do parceiro que achávamos ser a tal alma gêmea. Vai ver eu esteja exagerando. Vai ver é fruto dessa cabeça meio revoltada, mimada, que tendo tudo, não precisando sofrer por comida, emprego, salário, encana com coisas triviais. Quem sabe eu seja a insatisfeita.




Há quem viva com a Kama Sutra debaixo do braço, com o intuito de não deixar o fogo apagar. Mas viver a dois vai muito além da cama. A cama só é a porta de entrada numa relação duradoura, uma gota de água no oceano chamado casamento.




Por que a paixão diminui? Rebelar-se com esta realidade não se assemelha a revoltar-se contra o fato de que nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos?



Eu vou tratar de cozinhar meu arroz e feijão, lavar minha roupa, me preparar para receber ele à noite. Vamos namorar. Novamente vou fingir não ouvir o pedido de casamento. Até que ele volte para seu apartamento e eu tranque o meu.









Romancista, colabora em jornais. www.ronaldoduran.com

domingo, 15 de novembro de 2009

ESPAÑOL INSTRUMENTAL I - CIENCIAS


EL ORIGEN DE LAS ESPECIES*


por Charles Darwin





INTRODUCCIÓN



Cuando estaba como naturalista a bordo del Beagle, buque de la marina
real, me impresionaron mucho ciertos hechos que se presentan en la distribución
geográfica de los seres orgánicos que viven en América del Sur
y en las relaciones geológicas entre los habitantes actuales y los pasados
de aquel continente. Estos hechos, como se verá en los últimos capítulos
de este libro, parecían dar alguna luz sobre el origen de las especies, este
misterio de los misterios, como lo ha llamado uno de nuestros mayores
filósofos.

VOCABULARIO*

cuando - quando
del- do
buque - navio
marina - marinha
hechos- feitos
en las - nas

A mi regreso al hogar ocurrióseme en 1837 que acaso se podría
llegar a descifrar algo de esta cuestión acumulando pacientemente y reflexionando
sobre toda clase de hechos que pudiesen tener quizá alguna
relación con ella. Después de cinco años de trabajo me permití discurrir
especulativamente sobre esta materia y redacté unas breves notas; éstas
las amplié en 1844, formando un bosquejo de las conclusiones que entonces
me parecían probables. Desde este período hasta el día de hoy me he
dedicado invariablemente al mismo asunto; espero que se me puede excusar
el que entre en estos detalles personales, que los doy para mostrar
que no me he precipitado al decidirme.


mi - mim
al - ao
hogar - lar
ocurrióseme- me ocorreu
después - depois
hasta - até


Mi obra está ahora (1859) casi terminada; pero como el completarla me
llevará aún muchos años y mi salud dista de ser robusta, he sido instado,
para que publicase este resumen. Me ha movido, especialmente a hacerlo
el que míster Wallace, que está actualmente estudiando la historia natural
del Archipiélago Malayo, ha llegado casi exactamente a las mismas
conclusiones generales a que he llegado yo sobre el origen de las especies.
En 1858: me envió una Memoria sobre este asunto, con ruego de que
la transmitiese a sir Charles Lyell, quien la envió a la Linnean Society y
está publicada en el tercer tomo del Journal de esta Sociedad. Sir C. Lyell
y el doctor Hooker, que tenían conocimiento de mi trabajo, pues este último
había leído mi bosquejo de 1844, me honraron, juzgando, prudente
publicar, junto con la excelente Memoria de míster Wallace, algunos breves
extractos de mis manuscritos.


ahora - agora
casi - quase
pero - porém
Me he movido - me movi
yo - eu
pues - pois



Este resumen que publico ahora tiene necesariamente que ser imperfecto.
No puedo dar aquí referencias y textos en favor de mis diversas
afirmaciones, y tengo que contar con que el lector pondrá alguna confianza
en mi exactitud. Sin duda se habrán deslizado errores, aunque espero
que siempre he sido prudente en dar crédito tan sólo a buenas autoridades.


resumen - resumo
tiene - tem
no puedo - não posso
y - e
tengo - tenho
pondrá- poderá


No puedo dar aquí más que las conclusiones generales a que he
llegado con algunos; hechos como ejemplos, que espero, sin embargo, serán
suficientes en la mayor parte de los casos. Nadie puede sentir más
que yo la necesidad de publicar después detalladamente, y con referencias,
todos los hechos sobre que se han fundado mis conclusiones, y que
espero hacer esto en una obra futura; pues sé perfectamente que apenas
se discute en este libro un solo punto acerca del cual no puedan aducirse
hechos que con frecuencia llevan, al parecer, a conclusiones directamente
opuestas a aquellas a que yo he llegado. Un resultado justo puede obtenerse
sólo exponiendo y pesando perfectamente los hechos y argumentos
de ambas partes de la cuestión, y esto aquí no es posible.


más - mais ( não confundir com mas sem acento)
generales - gerais
sin emborago - no entanto
serán - serão
hacer - fazer
libro - livro

Siento mucho que la falta de espacio me impida tener la satisfacción de
dar las gracias por el generoso auxilio que he recibido de muchísimos naturalistas,
a algunos de los cuales no conozco personalmente. No puedo,
sin embargo, dejar pasar esta oportunidad sin expresar mi profundo
agradecimiento al doctor Hooker, quien durante los últimos quince años
me ha ayudado de todos los modos posibles, con su gran cúmulo de conocimientos
y su excelente criterio.


siento mucho - sinto muito
me impida tener - me impeça ter
dar las gracias - agradecer
he recebido - recebi
algunos de los cuales - alguns dos quais
quien - quem

Al considerar el origen de las especies se concibe perfectamente que
un naturalista, reflexionando sobre las afinidades mutuas de los seres orgánicos,
sobre sus relaciones embriológicas, su distribución geográfica,
sucesión geológica y otros hechos semejantes, puede llegar a la conclusión
de que las especies no han sido independientemente creadas, sino
que han descendido, como las variedades, de otras especies.


el origen - a origem ( em espanhol palavra masculina, portanto, artigo definido el)
orgánicos - orgânicos ( o acento circunflexo cede espaço ao agudo)
sus - suas
otros - outros
llegar - chegar
han descendido - descendeu


Sin embargo,esta conclusión, aunque estuviese bien fundada, no sería
satisfactoriahasta tanto que pudiese demostrarse cómo las innumerables especies
que habitan el mundo se han modificado hasta adquirir esta perfección
de estructuras y esta adaptación mutua que causa, con justicia, nuestra
admiración. Los naturalistas continuamente aluden a condiciones externas,
tales como clima, alimento, etc., como la sola causa posible de variación.

conclusión - conclusão
aunque - ainda que
pudiese - pudesse ( o s entre duas vogais tem som de s mesmo, não de z)
los- os ( plural de el)
aluden - aludem
tales - tais


En un sentido limitado, como veremos después, puede esto ser verdad;
pero es absurdo atribuir a causas puramente externas la estructura,
por ejemplo, del pájaro carpintero, con sus patas, cola, pico y lengua tan
admirablemente adaptados para capturar insectos bajo la corteza de los
árboles. En el caso del muérdago, que saca su alimento de ciertos árboles,
que tiene semillas que necesitan ser transportadas por ciertas aves y que
tiene flores con sexos separados que requieren absolutamente la mediación
de ciertos insectos para llevar polen de una flor a otra, es igualmente
absurdo explicar la estructura de este parásito y sus relaciones con varios
seres orgánicos distintos, por efecto de las condiciones externas, de la
costumbre o de la voluntad de la planta misma.


un - um
veremos - veremos ( o v tem som de b)
esto - isto
verdad- verdade ( o d final não é produnciado)
pájaro- pássaro
muérdago - visco

Es, por consiguiente, de la mayor importancia llegar a un juicio claro
acerca de los medios de modificación y de adaptación mutua. Al principio
de mis observaciones me pareció probable que un estudio cuidadoso
de los animales domésticos y de las plantas cultivadas ofrecería las mayores
probabilidades de resolver este obscuro problema. No he sido defraudado:
en éste y en todos los otros casos dudosos he hallado invariablemente
que nuestro conocimiento, aun imperfecto como es, de la variación
en estado doméstico proporciona la guía mejor y más segura. Puedo
aventurarme a manifestar mi convicción sobre el gran valor de estos estudios,
aunque han sido muy comúnmente descuidados por los
naturalistas.


mayor - maior
juicio - juízo
medios - meios
probable -provável
no he sido desfraudado - não me enganei (aqui)
variación - variação


Por estas consideraciones, dedicaré el primer capítulo de este resumen
a la variación en estado doméstico. Veremos que es, por lo menos, posible
una gran modificación hereditaria, y, lo que es tanto o más importante,
veremos cuán grande es el poder del hombre al acumular por su selección
ligeras variaciones sucesivas.


dedicaré - dedicarei
primer - primeiro
de este - deste
por lo menos - ao menos
gran - grande
lo - o ( não confundir el e lo. O primeiro é artigo definido)


Pasaré luego a la variación de las especies en estado natural pero,
desgraciadamente, me veré obligado a tratar este asunto con demasiada
brevedad, pues sólo puede ser tratado adecuadamente dando largos
catálogos de hechos. Nos será dado, sin embargo, discutir qué circunstancias
son más favorables para la variación. En el capítulo siguiente se examinará la
lucha por la existencia entre todos los seres orgánicos en todo el mundo, lo
cual se sigue inevitablementede la elevada razón geométrica de su aumento.

pasaré - passarei
en - em
asunto - assunto
con - com
qué - que
razón - razão




Es ésta la doctrinade Malthus aplicada al conjunto de los reinos animal y vegetal.
Como de cada especie nacen muchos más individuos de los que pueden sobrevivir,
y como, en consecuencia, hay una lucha por la vida, que se repite frecuentemente,
se sigue que todo ser, si varía, por débilmente que sea, de
algún modo provechoso para él bajo las complejas y a veces variables
condiciones de la vida, tendrá mayor probabilidad de sobrevivir y de ser
así naturalmente seleccionado. Según el poderoso principio de la herencia,
toda variedad seleccionada tenderá a propagar su nueva y modificada
forma.

especie - espécie
nacen- nascem
sobrevivir - sobreviver
se sigue - segue-se
si - se
según - segundo



Esta cuestión fundamental de la selección natural será tratada con alguna
extensión en el capítulo IV, y entonces veremos cómo la selección
natural produce casi inevitablemente gran extinción de formas de vida
menos perfeccionadas y conduce a lo que he llamado divergencia de caracteres.
En el capítulo siguiente discutiré las complejas y poco conocidas
leyes de la variación.


cuestión - questão
selección - seleção
alguna - alguma
produce - produz
cómo - como
poco - pouco

En los cinco capítulos siguientes se presentarán las
dificultades más aparentes y graves para aceptar la teoría; a saber: primero,
las dificultades de las transiciones, o cómo un ser sencillo o un
órgano sencillo puede transformarse y perfeccionarse, hasta convertirse
en un ser sumamente desarrollado o en un órgano complicadamente
construido; segundo, el tema del instinto o de las facultades mentales de
los animales; tercero, la hibridación o la esterilidad de las especies y fecundidad
de las variedades cuando se cruzan; y cuarto, la imperfección
de la crónica geológica.

En los cinco - nos cinco
se presentarán - se apresentarão
dificultades - dificuldades
o - ou
sencillo - simples
facultades - faculdades


En el capítulo siguiente consideraré la sucesión
geológica de los series en el tiempo; en los capítulos XII y XIII, su clasificación
y afinidades mutuas, tanto de adultos como en estado embrionario.
En el último capítulo daré un breve resumen de toda la obra, con algunas
observaciones finales.

siguiente - seguinte
sucesión - sucessão
su - sua
mutuas - mútuas
daré - darei
finales - finais


Nadie debe sentirse sorprendido por lo mucho que queda todavía
inexplicado respecto al origen de las especies y variedades, si se hace el
cargo debido de nuestra profunda ignorancia respecto a las relaciones
mutuas de los muchos seres que viven a nuestro alrededor. ¿Quién puede
explicar por qué una especie se extiende mucho y es numerosísima y
por qué otra especie afín tiene una dispersión reducida y es rara? Sin embargo,
estas relaciones son de suma importancia, pues determinan la
prosperidad presente y, a mi parecer, la futura fortuna y variación de cada
uno de los habitantes del mundo.

nadie deve sentirse - ninguém deve se sentir
queda todavía- fica ainda
respecto - respeito
relaciones - relações
a nuestro alrededor - ao nosso redor
extiende - extende





Todavía sabemos menos de las relaciones mutuas de los innumerables
habitantes de la tierra durante las diversas épocas geológicas pasadas de
su historia. Aunque mucho permanece y permanecerá largo tiempo
obscuro, no puedo, después del más
reflexionado estudio y desapasionado juicio de que soy capaz, abrigar
duda alguna de que la opinión que la mayor parte de los naturalistas
mantuvieron hasta hace poco, y que yo mantuve anteriormente -o sea
que cada especie ha sido creada independientemente-, es errónea.




innumerables - inumeráveis
tierra - terra
pasada - passada
soy - sou
duda alguna - dúvida alguma
hasta hace poco - há pouco tempo (aqui)


Estoy completamente convencido de que las especies no son inmutables y de
que las que pertenecen a lo que se llama el mismo género son descendientes
directos de alguna otra especie, generalmente extinguida, de la
misma manera que las variedades reconocidas de una especie son los
descendientes de ésta. Además, estoy convencido de que la selección natural
ha sido el medio más importante, pero no el único, de modificación.

estoy - estou
son- são
pertenecen a lo que se llama- pertencem ao que se chama
directos - diretos
misma - mesma
manera - maneira


*Translator: Antonio de Zulueta e disponível em pdf no site http://www.feedbooks.com/



**Vocabulário e adaptação Ronaldo Duran

sábado, 7 de novembro de 2009

capa informativo literatura viva ano II no. 7


educação - nelson valente*


DESPREZO PELA CULTURA !





Um nazista foi enfático ao se deparar com a palavra cultura: - "Quando a ouço, tenho vontade de puxar o revólver e sair atirando".Tornou-se clássico o desprezo totalitário pelo conceito de cultura e os seus naturais desdobramentos.


Hoje, cultura merece o respeito das nações pós-industrializadas. É pensada, como ocorre nos Estados Unidos, até como próspero negócio, onde circulam bilhões de dólares. Como seria natural, no mundo cultural também se busca o aumento da eficiência, o banimento do amadorismo, enfim a qualidade total. Para que isso ocorra, são necessários dois pré-requisitos essenciais: a sensibilização humana e a capacitação técnica.


Os especialistas em marketing cultural proclamam que os empresários da área têm essas duas qualificações, o que infelizmente nem sempre é verdadeiro. Há filmes abaixo da crítica e peças teatrais que jamais deveriam ter sido montadas. Essas obras "geniais" muitas vezes contam com expressivos recursos de patrocínio oficial, que costuma premiar os filhotes costumeiros. O curioso é que se reclama do montante de recursos disponíveis para o financiamento de tais produções.


Como não existe uma política cultural digna do nome, a premiação é feita por critérios estritamente pessoais, muitas vezes aquinhoando elementos conhecidos das "panelas" que se estabeleceram para disputar esse tipo de paternalismo.


O presidente da República não tem planos concretos para a área cultural, como não poderia deixar de ser, tendo ele a biografia de um permanente comprometimento no campo das idéias: cultura zero. Com Ministério ou Secretaria será possível criar fatos novos na área, a começar pelo desmantelamento da influência dos produtos culturais de gabinete. Não se deseja paternalismo, nem assistencialismo, nem protecionismo.


A partir daí será possível criar um esquema novo de trabalho, nesse importante setor da vida brasileira.



*Professor universitário, jornalista e escritor. Contato: nelsonvalenti@hotmail.com

sábado, 31 de outubro de 2009

francês instrumental I




DU CONTRAT SOCIAL*





ou Principes du droit politique





par Jean-Jacques Rousseau (1762)





AVERTISSEMENT






Ce petit traité est extrait d'un ouvrage plus étendu, entrepris autrefois sans avoir consulté mes forces, et abandonné depuis longtemps. Des divers morceaux qu'on pouvait tirer de ce qui était fait, celui-ci est le plus considérable, et m'a paru le moins indigne d'être offert au public. Le reste n'est déjà plus.





Vocabulaire**





ce - este


petit- pequeno


traité - tratado


est (verbe être ) - é


extrait - extraído


d'un - de um


ouvrage - trabalho


plus- muito


étendu - extenso


entrepris - empreendimento


autrefois - outrora


sans - sem


avoir - ter


mes - meus


depuis- desde


morceaux- pedaços


qu'on - que se


celui-ci - este


le - o


et - e


m'a paru - pareceu-me


déjà - já















LIVRE 1 Je yeux chercher si, dans l'ordre civil, il peut y avoir quelque règle d'administration légitime et sûre, en prenant les hommes tels 'qu'ils sont, et les lois telles qu'elles peuvent être. Je tâcherai d'allier toujours, dans cette recherche, ce que le droit permet avec ce que l'intérêt prescrit, afin que la justice et l'utilité ne se trouvent point divisées.








je - eu


yeux (veux) - quero


chercher - buscar (aqui, saber)


sûre - segura


tâcherai - procurarei


d'allier - aliar


toujours - sempre


recherche - pesquisa


droit - direito


avec - com


l'intérêt - o interesse prescreve


afin - a fim


utilité- utilidade


point divisées - pontos conflitantes (lit. - pontos divididos)





J'entre en matière sans prouver l'importance de mon sujet. On me demandera si je suis prince ou législateur pour écrire sur la politique. Je réponds que non, et que c'est pour cela que j'écris sur la politique. Si j'étais prince ou législateur, je ne perdrais pas mon temps à dire ce qu'il faut faire; je le ferais, ou je me tairais.





j'entre - eu entro


prouver - provar


mon - meu


sujet - assunto


on me demandera - me perguntarão


écrire - escrever


cela - isto


si - se


prince - príncipe


qu'il faut faire - que deve fazer


tairais - calarei





Né citoyen d'un État libre, et membre du souverain, quelque faible influence que puisse avoir ma voix dans les affaires publiques, le droit d'y voter suffit pour m'imposer le devoir de m'en instruire: heureux, toutes les fois que je médite sur les gouvernements, de trouver toujours dans mes recherches de nouvelles raisons d'aimer celui de mon pays!





- nascido


citoyen - cidadão


souverain - soberania


quelque - alguma


faible - fraca


que puisse avoir ma voix - que possa ter minha voz


dans les - nos


affaires - negócios


d'y- de aí


suffit - basta


de m'en instruire - de nele me instruire


heureux - feliz


toutes - todas


trouver - achar



* versão disponível em pdf http://abu.cnam.fr/
** tradução e adaptação por Ronaldo Duran

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

political economy - adam smith



THE WEALTH OF NATION*


by Adam Smith




INTRODUCTION AND PLAN OF THE
WORK



THE ANNUAL LABOUR of every nation is the fund which
originally supplies it with all the necessaries and
conveniencies of life which it annually consumes, and
which consist always either in the immediate produce of that labour,
or in what is purchased with that produce from other nations.
According, therefore, as this produce, or what is purchased with
it, bears a greater or smaller proportion to the number of those who
are to consume it, the nation will be better or worse supplied with
all the necessaries and conveniencies for which it has occasion.


vocabulary**


labour - trabalho

fund - fundo - recurso

to supply - suprir, fornecer

annually - anualmente

which - o qual, que

either - ou

produce - produto, produção

purchased - comprado

according - de acordo com

therefore - portanto

to bear - apoiar, garantir

to be better or worse - ser melhor ou pior

occaion - ocasião.



But this proportion must in every nation be regulated by two
different circumstances: first, by the skill, dexterity, and judgment
with which its labour is generally applied; and, secondly, by the
proportion between the number of those who are employed in
useful labour, and that of those who are not so employed. Whatever
be the soil, climate, or extent of territory of any particular
nation, the abundance or scantiness of its annual supply must, in
that particular situation, depend upon those two circumstances.



must - deve

dexterity - destreza

secondly - em segundo lugar

soil - solo

climate - clima

scantiness - escassez




The abundance or scantiness of this supply, too, seems to depend
more upon the former of those two circumstances than upon
the latter. Among the savage nations of hunters and fishers, every
individual who is able to work is more or less employed in useful
labour, and endeavours to provide, as well as he can, the necessaries
and conveniencies of life, for himself, and such of his family
or tribe as are either too old, or too young, or too infirm, to go ahunting
and fishing
. Such nations, however, are so miserably poor,
that, from mere want, they are frequently reduced, or at least think
themselves reduced, to the necessity sometimes of directly destroying,
and sometimes of abandoning their infants, their old people,
and those afflicted with lingering diseases, to perish with hunger,
or to be devoured by wild beasts.


supply - suprimento

to seem - parecer

depend upon - depende de

former - antigo, anterior

savage - selvagem

to provide - prover

to go ahuntingand fishing - ir caçar ou pescar

their infants, their old people - suas crianças, seus idosos

lingering diseases - doenças crônicas ou que demanda muito cuidado

to perish with hunger - morrer de fome

wild beasts - feras selvagens




Among civilized and thriving nations, on the contrary, though

a great number of people do not
labour at all, many of whom consume the produce of ten times,
frequently of a hundred times, more labour than the greater part
of those who work; yet the produce of the whole labour of the
society is so great, that all are often abundantly supplied; and a
workman, even of the lowest and poorest order, if he is frugal and
industrious, may enjoy a greater share of the necessaries and
conveniencies of life than it is possible for any savage to acquire.


Among - entre (várias possibilidades)

thriving nations - nações prósperas

at all - de modo algum

yet - contudo

workman - trabalhador

even - mesmo

lowest and poorest order - mais baixa e pobre ordem

share - partilha, quantidade

to acquire - adquirir




The causes of this improvement in the productive powers of
labour, and the order according to which its produce is naturally
distributed among the different ranks and conditions of men in
the society, make the subject of the first book of this Inquiry.
Whatever be the actual state of the skill, dexterity, and judgment,
with which labour is applied in any nation, the abundance
or scantiness of its annual supply must depend, during the continuance
of that state, upon the proportion between the number
of those who are annually employed in useful labour, and that of
those who are not so employed.



improvement - melhoramento

productive powers - forças produtivas

ranks - fileiras

Inquiry - investigação

skill - habilidade

continuance - continuação

between - entre (duas possibilidades)


The number of useful and productive
labourers, it will hereafter appear, is everywhere in proportion
to the quantity of capital stock which is employed in setting
them to work, and to the particular way in which it is so
employed. The second book, therefore, treats of the nature of capital
stock, of the manner in which it is gradually accumulated, and of
the different quantities of labour which it puts into motion, according
to the different ways in which it is employed.



The - o, a

useful - util

everywhere - todo lugar

capital stock - estoque de papeis-moeda

to treat - tratar



Nations tolerably well advanced as to skill, dexterity, and judgment,
in the application of labour, have followed very different plans
in the general conduct or direction of it; and those plans have not
all been equally favourable to the greatness of its produce. The policy
of some nations has given extraordinary encouragement to the industry
of the country; that of others to the industry of towns. Scarce
any nation has dealt equally and impartially with every sort of industry.
Since the down-fall of the Roman empire, the policy of Europe
has been more favourable to arts, manufactures, and commerce,
the industry of towns, than to agriculture, the Industry of the country.




as to - quanto à

judgment - julgamento

to follow - seguir

of it - disso, dessa

policy - política

encouragement - apoio

towns - cidades de pequeno ou médio porte

down-fall - queda, derrocada




The circumstances which seem to have introduced and established
this policy are explained in the third book.
Though those different plans were, perhaps, first introduced by
the private interests and prejudices of particular orders of men, without
any regard to, or foresight of, their consequences upon the general
welfare
of the society; yet they have given occasion to very different
theories of political economy; of which some magnify the
importance of that industry which is carried on in towns, others of
that which is carried on in the country. Those theories have had a
considerable influence, not only upon the opinions of men of learning,
but upon the public conduct of princes and sovereign states. I
have endeavoured, in the fourth book, to explain as fully and distinctly
as I can those different theories, and the principal effects
which they have produced in different ages and nations.



third book - terceiro livro

perhaps - talvez

private interests - interesses privados

prejudices - preconceitos

general welfare - bem-estar geral

political economy - politica econômica

learning - conhecimento

sovereign states - estados soberanos

theories - teorias





To explain in what has consisted the revenue of the great body
of the people, or what has been the nature of those funds, which,
in different ages and nations, have supplied their annual consumption,
is the object of these four first books. The fifth and last book
treats of the revenue of the sovereign, or commonwealth. In this
book I have endeavoured to shew, first, what are the necessary
expenses of the sovereign, or commonwealth; which of those expenses
ought to be defrayed by the general contribution of the
whole society, and which of them, by that of some particular part
only, or of some particular members of it: secondly, what are the
different methods in which the whole society may be made to
contribute towards defraying the expenses incumbent on the whole
society, and what are the principal advantages and inconveniencies
of each of those methods; and, thirdly and lastly, what are the
reasons and causes which have induced almost all modern governments
to mortgage some part of this revenue, or to contract debts;
and what have been the effects of those debts upon the real wealth,
the annual produce of the land and labour of the society.


To explain - explicar

revenue - renda

great body - grande corpo

consumption - consumo

commonwealth - confederação

endeavoured - esforçado, empenhado

ought to be defrayed - deve ser custeado

methods - métodos

towards - para

thirdly and lastly - em terceiro lugar e por último

to mortgage - hipotecar

wealth - riqueza





*Esta versão está disponibilizada em pdf pela A PENN STATE ELECTRONIC CLASSICS SERIES PUBLICATION.

**vocabulário tradução e adaptação de Ronaldo Duran.



domingo, 4 de outubro de 2009

educação - nelson valente


ESCOLAS PARTICULARES



Quando se quer atingir alguém ou espalhar dúvida sobre o seu caráter, há uma frase que faz muito sucesso: "Cuidado com ele. É um defensor da escola particular". Não importa muito a prova. O que vale é a versão. O país se vê às voltas com as discussões em torno das leis complementares e o assunto permanece aceso.


Escolas públicas, confessionais ou filantrópicas, disputam posição nos orçamentos, enquanto as escolas particulares sofrem as consequências de uma economia perversa e brutalmente inflacionária. Se tudo sobe, seria ingenuidade supor a permanência do congelamento somente para elas. Isto seria o seu fim, com o que as pessoas de bom-senso não poderiam estar de acordo, pois um dos aspectos democráticos da Constituição de 1988 é a garantia de que o ensino será livre à iniciativa privada, com as suas características de atuação.



A preferência das verbas públicas, é claro, deve ser objetivamente dada às escolas oficiais, em todos os graus, com o respectivo compromisso de aperfeiçoar a qualidade de ensino, até mesmo para justificar o investimento que nelas se faz. O problema é que pouca gente parece preocupada com a qualidade referida. O grevismo, o assembleísmo e o corporativismo sentaram praça nos grandes centros urbanos e o resultado aí está, na falta de cumprimento físico dos calendários escolares, com o consequente rebaixamento dos padrões de ensino.


Os jovens são idealistas e neles se concentram as perspectivas do nosso futuro. Agregue-se a isso o registro de que hoje são 12 milhões de eleitores, a partir dos 16 anos, para justificar exageros que em seu nome são exercidos. O protesto contra absurdos cometidos por algumas escolas particulares é até justo, mas nem sempre as formas utilizadas podem ser consideradas defensáveis, como explodir bombas em colégios ou atirar pedras em alunos que, por qualquer razão, pensam de modo diferente. Aí chegamos ao perigoso domínio da intolerância.


A escola pública tem o seu lugar e a sua prioridade, mas deve conviver com outras formas também democráticas de oferecimento de oportunidades educacionais. Agir de modo diferente é contribuir para o desrespeito à família brasileira.



*Professor universitário, jornalista e escritor. Contato:nelsonvalenti@hotmail.com

domingo, 27 de setembro de 2009

conto - ronaldo duran*


DANÇANDO COM AS FRALDAS





Feliz de quem nunca teve uma pontinha de ciúme dos famosos, dos que têm a cara exposta na tevê, vestindo uma camisa do entretenimento.


As camisetas são várias. Futebol, novela, música, as mais freqüentes. As miúdas vêm na pele de jornalista, político, economista, sindicalista, até ginecologista. A de escritor, ainda que tímida, detém alguma presença.


Quem tem o rosto conhecido por milhões de brasileiros carrega consigo um algo especial. Assim supõe o público, ainda que a idéia nunca tenha passado pela cabeça do famoso.


Que menina, boquiaberta pelo rebolado duma dançarina de sucesso, não imaginou que se tivesse um quadril mais sensual poderia atrair igual destaque?


A febre de imitar ídolos é antiga.


Tempos atrás se imitava os chefes da tribo, os reis e rainhas. Nos dias de hoje, os meios de comunicação de massa fornecem a nova safra de ídolos.


Quem já não brigou, bateu, apanhou, ou sofreu, ou vibrou pelo time do coração? Quem nunca chorou e sentiu energia sem limite ao ouvir um cantor? Ou quis estar na pele de um galã ou atriz? Ou se enamorou dum artista?


Tarefa árdua procurar explicar o fenômeno da idolatria. Para uns, o motivo é a aparente vida fácil que o ídolo leva. Para outros, são as atitudes da pessoa famosa que dão o tom da admiração.
É justamente o segundo tipo que o conto retrata.


Lembra-se do sucesso de Madonna na década de 80? Um marco. Seu estilo influenciou o ritmo de muitos dançarinos que hoje são profissionais. Dança de alto e baixo impactos. O ritmo da rainha pop americana mexeu com as academias de dança brasileiras.


Em 1987, muitas jovens, ao ouvirem a loira cantar, afastavam as mesas e cadeiras, desobstruindo o espaço, para dançar. Que rádio em solo nacional evitava o som contagiante de Madonna? Até canais de tevê exibiam clipe.


Tânia Paliza Tallini, com 16 anos, era uma das dançarinas anônimas.


Catarinense, mora na cidade onde nasceu: Lages. Só mudou de região, indo para o novo centro. Vive com os pais num apartamento, faz uns dez anos. A infância passou na casa dos avós, na parte mais antiga da cidade. Basta ver a arquitetura predominante nas residências vizinhas.
Como a maioria, a casa possuía um quintal, suficiente para conservar um pé de laranja e um abacateiro, entre árvores não frutíferas, e uma horta, com verduras e legumes que saem dali direto para a panela. A criançada usava o espaço para brincar, correr à vontade. Tudo na maior felicidade. Nem faltavam os xingos quando a avó notava danos na plantação.


A Tânia preferia passar a maior parte do tempo na casa dos avós. Por que escolher ali em vez do bem localizado e confortável apartamento? Simples: a falta de espaço no segundo.


A segunda das filhas da sra. Paliza, a jovem Tallini sentia-se presa no apartamento para realizar o que mais gostava: dançar ao som de Madonna. Na casa de sua avó, pelo menos tinha um quarto ocioso, do tio que havia ido para o interior de São Paulo tentar a sorte como pedreiro há mais de uma década.


A avó vivia preocupada em dar conta das costuras. Apesar da aposentadoria, da ajuda dos filhos e do salário do marido, não largava mão da atividade. Uma maneira de se sentir útil. O preparo do almoço especial de domingo também dava grande satisfação.


Dona Evangelista, a avó, sabia como ninguém o que levava a neta a preferir o humilde casebre. Anos atrás, a garota já intrigava com a mania da dança. Dona Evangelista, àquela época, se emocionou, sabia que sua própria avó era uma dançarina de primeira. Em Sevilha, quem mais que os Palizas para bailar por toda la noche? Para ela, a neta herdou da tataravó o bailado irresistível, encantador. Pena que no Brasil as mulheres da família perderam o rebolado diante da rotina sofrida de imigrantes. As plantações e colheitas de milho e batata sequer davam tempo para tirar a saudosa sesta após o almoço.


A avó evitava perturbar. A neta se viu incentivada a ir lá durante uns bons anos. Pena que tudo tenha um limite. Bastou beirar os dezessete anos para a paz cessar. Era hora de definir uma profissão promissora ou um casamento vantajoso, ambos se possíveis.


Cedendo à natural preocupação materna quanto ao futuro dos filhos, a Sra. Vânia queria uma definição de Tânia. A mais velha cursava química em Joinville. A caçula ganhou uma bolsa para o colegial nos Estados Unidos, a partir do ano que vem. A patroa de dona Paliza, esposa de rico fazendeiro, deu uma força. O marido mantinha contatos importantes no Texas. Helena teve seus méritos. Atenciosa, aprendeu a bater à máquina, atender ao telefone e anotar os recados. Era a secretária mirim do casal.


Tânia é que encalhou. Manifestou uma preguiça incomum pelos estudos, se bem que nunca repetiu de série. Temendo os pais, achou melhor nunca perder um ano letivo. As notas eram razoáveis. Sabia fingir bem. Por dentro, odiava biologia, português e tudo o mais que exigisse uma concentração que ela não estava afim de dar.


Dançar, dançar e dançar era o que gostava.


Certos hábitos regionais, mesmo com o efeito da globalização, da tirania da tevê, conservam-se. Os jovens do interior de Santa Catarina raro têm acesso a toda a liberalidade dos que habitam os grandes centros.


A paixão pela dança teria apenas vazão em casa. Nos bailes e festas, Tânia se sentia meio sem graça. Odiava se expor. Sentimento esquisito, quanto mais se tratando de alguém que curte dança.


O ódio em se expor tinha lá suas razões. À medida que tentou se soltar, dançar livremente algumas vezes, as cabeças-de-bagre a fustigaram com seus preconceitos. Preferiu, pois, recuar. Dançaria o comum diante dos comuns. E o especial guardaria para quando estivesse solitária.
Preconceitos a acompanharam desde tenra idade até meados dos trezes anos, quando ainda ousava dançar na frente dos pais, dos parentes.


_ E essa menina! Nunca pára de saltitar que nem cabrito _ uma tia que falava.


_ Frango destroncado _ brincava um primo mais velho.


_ Mas para mim _ continuava a primeira _ acho que deve ficar de olho aberto... Essas coisas só servem para perder nossas crianças. Tem que ficar de olhos abertos... _ ela repetiu, acrescentando reticências alarmistas.


Os pais silenciaram.


_ Já pensou se um dia decide ganhar a vida rebolando? _ alfinetou.


_ Imagina! Antes morta... filha minha não entra nestas coisas _ berra o pai ao ouvir o disparate.


_ O mundo de hoje está perdido, meu compadre, e essas manias que vêm da cidade grande já puseram a perder muita gente. Depois que viram o juízo, não há santo que dê remédio.


_ Cruz e credo _ uma velhinha fez o sinal da cruz.


_ Culpa dos pais... é dar uma boa coça e tudo se endireita _ o pai ruminou.


Se na aparência os pais pouca atenção deram aos comentários, na prática mudariam em muito a atitude para com Tânia. Vendo a menina dançar, pediam que fizesse alguma coisa: lavar uma louça, costurar, acompanhar a mãe ao açougue. E se ela não tivesse o que fazer, inventavam. Queriam arrancá-la da ociosidade. As músicas agitadas sumiram. O AM voltou a predominar, sempre que os pais estavam em casa.


As filhas eram dependentes economicamente. O querer paterno tinha pleno poder de impedir que as meninas adquirissem os discos com músicas avançadinhas.


Tânia se viu acuada. Temente a Deus e superobediente aos pais, tudo sacrificaria para não os frustrar. Passaria a procurar a casa da avó.


Três meses mais à frente, encontrou um garoto simpático, o Joe Rinkis, vinte e um anos. As palavras gentis e o olhar acolhedor, únicos traços que o diferenciavam. Era caminhoneiro. Junto ao pai, fazia entregas em cidades de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Joe e o Sr.

Rinkis estreitaram relações com o pai de Tânia. A simpatia foi mútua.


Após um ano de namoro, Tânia, antipática aos estudos, tinha momentos de desespero. Sonhou fugir de casa, ir para Joinville, Florianópolis ou Curitiba.


Procuraria um lugar onde estudasse, aperfeiçoasse e ganhasse a vida com a dança. Embora gostasse de Joe, não hesitaria em deixá-lo se fosse necessário, se o rapaz se mostrasse relutante em acompanhá-la.


A obediência aos pais a impedia de uma atitude tão drástica.


A avó veio a falecer de doença. O avô, meses depois, seguiria a esposa, motivado pela solidão.


_ Viveram mais de cinqüenta anos juntos. O homem era uma criança... Partindo a companheira, morreria a vontade de viver.


Frases assim justificavam a ida repentina do avô.


Passada a dor pela perda dos avós, Tânia viu-se privada de espaço. A convivência no apartamento cada dia mais insuportável. Os pais, tradicionais, estavam longe do modelo dos que querem os filhos barbados e as filhas mulheres-feita grudadas à barra da sua calça.


O casamento com Joe acenava como uma solução imediata. O pai do rapaz arrumaria uma casa, simples, mas acolhedora.


Meses após o casório, as contrações no ventre anunciam um rebento.


Tânia se realizou como mãe. Gostava sinceramente do esposo. Frustrava-se pela ausência duma carreira, quando se comparava à irmã mais velha, única formada na família, ou à caçula, há dois anos nos Estados Unidos.


O marido, já de posse do próprio caminhão, em média levava uma ou duas semanas na estrada, sem dar as caras em casa.


A médica, após o parto, incentivou Tânia a praticar exercícios físicos.


_ Ajuda e muito.


Mas que exercício físico? Gostava só de dançar.


Um pouco pela ausência do marido, outro tanto pela tensão que é cuidar de filho pequeno, despertou para o antigo hábito de ouvir música na sala.


Joe adquiriu o três em um.


Pela primeira vez um disco da Madonna todinho seu. Punha para tocar e ouvia durante horas. Ouvia e dançava. E como dançava. Aí sim, se excitava para valer. Difícil os vizinhos não notarem a beleza que o corpo da dançarina dona-de-casa conservava. Pouco tempo depois, era mãe pela segunda vez.


Muitas vezes, surpreendia-se quem passava diante do portão de grades pintadas de vermelho. Olhos atentos se arregalavam face à empolgante figura, de menos de 22 anos, dançando com as fraldas, no momento que as pendurava no varal.


Uns a achavam louca. Outros, que a felicidade ali descobriu uma agradável morada.


* Romancista, escreve em vários jornais. Confira no Google.