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sábado, 5 de dezembro de 2009

crônica - ronaldo duran*



RUMOS DA INTERNET



Havia dado uma caminhada pelo quarteirão. Fim de semana. Sábado. Abriu a porta de casa. Direto para o banheiro. Lavar o rosto. Depois de quase quarenta minutos caminhando, e numa manhã ensolarada, claro que o suor é inevitável. Toalha úmida deslizando em volta do pescoço pra refrescar.



De volta para a sala de estar, pegou a pasta do notebook. Abriu-a. Ligou o aparelho. Colocou o plug da bateria no soquete da cozinha. Ainda bem que o fio é longo. Em seguida, o mouse e o fone de ouvidos são espetados no computador portátil. O wireless e o roteador permitem que a internet seja acessada de qualquer canto da casa.



Na cabeça, um pouco de nostalgia. De vez em quando, ele se pega admirando a capacidade da rede. E perguntas infalíveis saltam: como vivemos tanto tempo sem? Como viveríamos sem ela se acabasse? Nada de fatalismo. Ele sabe que a vida existiria – como existiu outrora – sem a rede.



É ótimo acessar a rede, ah, isto é. Abrir o site de música, ou assistir um vídeo. Ouvia a Lady Gaga. Não que fosse fã. Para dar um tempo do U2. Carregou o programa de desenho gráfico, corel draw.



Formado em desenho industrial em 1993 pela UEP de Bauru, teve que praticamente aprender a desenhar quando conheceu o Corel Draw, tamanha a diferença que sentiu em produzir no papel e na tela do computador. Antes, ele debruçava-se sobre a banqueta na faculdade ou em cima da que tinha no quarto. E os traçados saíam da ponta do lápis ou eram realçados pela caneta nanquim. A novidade lhe irritou no início. Tanto que fazia os desenhos no papel e só depois passava para o programa. Levou muito tempo para finalmente criar a partir do aplicativo.
Hoje, trabalha em casa fornecendo arte final para embalagens às empresas.



A internet ajuda. Pela webcam, ele fala com o gerente de uma empresa em Atlanta, EUA ou com o proprietário de uma agência de publicidade em Salvador, Bahia. Não é como se estivesse numa ligação telefônica. Vai além. O cara do outro lado pode inclusive dar palpite no traçado do desenho que o designer exibe na tela do computador. Através do e-mail, em arquivo anexado, envia a prova final do desenho para avaliação do cliente.



Antes da rede, quem trabalhasse em casa sentir-se-ia como um Robson Crusoé ilhado. Hoje, não. A internet é uma enorme empresa, de milhares de departamentos. Ontem mesmo baixou como editorar um livro. É como se tivesse vários professores à disposição, prontos para ajudar a solucionar um problema, desde que a pergunta seja feita corretamente no Google.



Paciência é a alma do negócio em tudo. Na internet não é diferente. Tudo parece estar pronto? Certo. Mas o que conta é menos achar o que procura, e sim aprender a dominar o que encontra, pensa o designer.



Na rede também tem muita porcaria. Pedofilia. Malandro enviando e-mails com as fotos-que-tiramos-juntos ou aqui-está-o-comprovante-de-depósito para você acessar e ter senhas capturadas. E muitos outros trambiques. Contudo, até nisso a educação que a rede proporciona faz a diferença. Ela ensina como escapar das armadinhas.



Os rumos da internet, quais serão? Ia refletindo ele. Seria complicado prever. O que importa é ir usando, aprendendo, socializando.



Foi à cozinha. Abriu a geladeira. Suco e um chocolate pra despertar. De volta ao computador, pegaria firme no trabalho. “Chega de pensamentos”, disse para si.





*Ronaldo Duran, romancista. twitter.com/ronaldoduran_