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terça-feira, 20 de julho de 2010

CRÔNICA DA SEMANA - EXPLOSÃO

Olá, Amigo,

 

Neste ano sou candidato a Deputado Estadual em São Paulo. Falo hoje, pois eu estava dependendo da minha inscrição junto aos órgãos oficiais.

 
O que me leva a política é um montão de coisas: principalmente o poder. Poder mudar ou interferir no que julgo estar errado.

 
Sei do lado ruim da política. Se nos tempos da ditadura ser político era correr o risco de ser morto por um Estado Opressor, hoje, quem se envereda por esse caminho é chamado de ganancioso ou coisa pior.

 
Longe de negar que muitos políticos contribuíram para essa péssima imagem. Mas a luta deve continuar para que um dia a política seja admirada ou pelo menos valorizada como um bem necessário...

 
E uma força interior me leva a querer fazer parte desta mudança.

 
Obrigado pela escuta. E querendo fazer parte do grupo de amigos que estão me apoiando, será uma grande honra contar com você.

 
Ronaldo






                                                                           EXPLOSÃO*



“Oh, cara, acorda! É tua vez”, meu parceiro no truco grita. Volto a mim e colaboro na partida. Não foi a primeira vez que me chamou a atenção. Eu estava meio avoado. Como prevendo que algo ia acontecer. Tudo bem, se eu falasse olha, acho que vai acontecer algo de terrível, ele ia me zoar: “alôoo, só para te lembrar somos bombeiros”.

 
Sei lá, deve ser cisma do tempo de pequeno, quando ouvia minha avó contar casos. Tipo um pai de família que não queria ir trabalhar por causa de uma sensação, um calafrio e acabou sendo atropelado.

 
fonte: odiario.com/blogs/edsonlima/category/pesquisa/




Sacudi a cabeça. Nada a ver ficar esperando pelo pior: na profissão que escolhi o pior é o normal e a gente desconfia do dia tranqüilo. Teve uma vez que entrei em crise de consciência.

Pô, tanta profissão e fui justamente escolher esta, que não remunera tão bem e que arriscar a pele é um exercício constante. Sou formado em educação física, podia ser professor. Quem sabe, entrar como técnico da receita federal. Tudo, menos pôr meu pescoço em risco.

Em meio a estas encanações, tive meu dia de ao mestre com carinho, dia em que percebi que se eu podia ter qualquer outro ganha-pão, talvez não me realizasse tanto quanto neste: o de salvar vidas. Foi de uma hora pra outra que tive esta certeza? Claro que não. Precisou o lance do perigo inesperado.



Um prédio em labaredas, na periferia, quatro andares. Dentro, uma senhora preta com o neto de sete anos: a filha havia saído para ganhar o sustento da família. Eu ali os retirando das garras do fogo implacável. A tragédia me fez um bem danado. Quê? Sim, percebi a vocação junto com minha missão: salvar vidas.


Tá, a grana curta. Controlar o impulso consumista quando a TV diz o contrário por imagens sedutoras? Tarefa difícil. Mas se eu estivesse na receita federal, se todos os bombeiros estivessem em profissões mais rendosas, médicos ou juristas, quem salvaria aquela senhora e o neto?

Hoje. Eu aqui em Congonhas, que loucura! O avião lá dentro. Pessoas pulando do prédio. A droga da escada que não dá para todos. Explosão.

“Cara, toma cuidado”, gritei pro meu colega de truco. “Pô, se eu não subir o sujeito pula”, ele berrou de lá. E fomos pra lá. Salvamos um, dois, três... “Cara, tu tá louco, isto não dá. A parede vai desabar”, adverti. “Tem horas que a gente tem que arriscar... eles vão morrer tostados”. Meu colega sequer teve tempo. A parede desabou.


Com uma moça ensangüentada nos meus braços, corri para fora, para salvá-la. Meu coração queria voltar para meu amigo sob os escombros, meu racional dizendo: salva esta pessoa que está nos teus braços por que ele já cumpriu a missão na terra.

*escritor ronaldo duran, psicólogo da Fundação Casa- SP, colabora em jornais.