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sábado, 29 de agosto de 2009

marcos brunini - psicologia evolucionista



POR QUE A EVOLUÇÃO HUMANA PRATICAMENTE PAROU HÁ APROXIMADAMENTE 10.000 anos[1]




Satoshi Kanazawa[2]

O geneticista britânico Steve Jones recentemente fez uma palestra no University College London intitulada A evolução humana acabou? A resposta a sua própria pergunta é sim. Eu concordo com Jones que a evolução humana praticamente cessou, mas por razões inteiramente diferentes.




Seu argumento é o de que a evolução humana, pelo menos nas sociedades ocidentais, parou ou retardou porque poucos homens mais idosos em tais sociedades reproduzem.




O esperma dos homens mais idosos carrega muito mais mutações do que o de homens mais jovens. As mutações fornecem a fonte de variações genéticas em que a seleção natural trabalha. Assim, sem pais mais velhos, sem mutações genéticas, sem evolução.



Jones pode estar certo; entretanto, eu creio que ele está estimando para mais a época em que evolução humana parou. Eu penso que parou faz aproximadamente 10.000 anos, com o advento da agricultura.



A evolução ocupa muitas gerações, sendo a velocidade de evolução de uma espécie relacionada ao tempo necessário para o amadurecimento sexual dos indivíduos da espécie para que comecem a reproduzir (outra importante determinante da velocidade de evolução é a força da pressão de seleção, que, no momento, permanece constante).




A evolução acontece mais rapidamente para espécies de amadurecimento rápido e mais lentamente para espécies de amadurecimento mais vagaroso. As moscas de fruta, as drosófilas, são exemplos de uma das espécies de amadurecimento rápido na natureza, e os seres humanos são exemplos de uma das mais lentas. Leva somente sete dias para que as drosófilas amadureçam sexualmente sob circunstâncias ideais, ao passo que para seres humanos são necessários de 15 a 20 anos. Significa dizer que pode haver mais de 50 gerações de drosófilas em um ano, antes que um bebê humano possa mesmo começar a andar.




Há mais de mil gerações de drosófilas em uma geração humana (20 anos), sendo necessários mais de 20.000 anos para a mesma quantidade de gerações humanas. A evolução para drosófilas pode acontecer bastante rapidamente, razão pela qual é a espécie favorita para que os geneticistas estudem. A evolução humana acontece muito, muito mais lentamente. Nenhum cientista pode vê-la em ação do modo que pode observar a evolução da mosca de fruta ocorrendo no laboratório.



A seleção natural sob muitas circunstâncias exige um ambiente estável, constante para muitas, muitas gerações (mais uma vez, a menos que a pressão da seleção seja extremamente forte). Por exemplo, se o clima permanecer muito frio por séculos e milênios, gradualmente indivíduos com a melhor resistência ao frio serão favorecidos pela seleção natural, e seus vizinhos que têm menos resistência ao frio (que são mais adaptados a um clima quente) morrerão antes que possam deixar muitas crianças.




Isto acontecerá geração após a geração, até que um dia todos os seres humanos tenham grande resistência ao frio: um traço novo - resistência ao frio - teria evoluído e se tornado parte da natureza humana universal. Mas este traço não poderia ter evoluído se o clima ficasse frio durante um século (somente cinco gerações humanas, embora 5.200 gerações de drosófilas) e então quente por outro século, para ficar novamente frio no terceiro século. A seleção natural não saberia quem (que traços) selecionar.



Desde o advento da agricultura, há aproximadamente 10.000 anos, e o nascimento da civilização humana que logo se seguiu, os seres humanos não têm um ambiente estável de encontro ao qual a seleção natural possa operar. Por exemplo, há meros dois séculos (10 gerações) os Estados Unidos e o resto do mundo ocidental eram largamente agrários; muitas pessoas eram fazendeiras. Na sociedade agrária, homens conseguiram status mais elevado sendo os melhores fazendeiros; aqueles que possuíram determinados traços que os fizeram bons fazendeiros tiveram um status mais elevado e assim maior sucesso reprodutivo do que os que não possuíram tais traços.



Então, somente um século mais tarde, os Estados Unidos e a Europa tornaram-se sociedades predominantes industriais; a maioria dos homens viveu para as fábricas. Os traços que fazem os homens bons operários (ou, melhor ainda, proprietários de fábricas) podem ou não ser os mesmos que lhes fazem bons fazendeiros.




Determinados traços - tais como a inteligência, a diligência, e a sociabilidade – provavelmente permaneceram importantes, mas outros - tais como sensibilidade para a natureza, o solo, e os animais, e a habilidade para trabalhar ao ar livre ou prever o tempo - deixaram de ser traços importantes, e outros - tais como a pontualidade, a habilidade de seguir instruções, sensibilidade para a maquinaria ou aptidões mecânicas, e a habilidade de trabalhar em ambiente fechado - de repente se tornaram importantes.



Agora, somente um século mais tarde, estamos numa sociedade pós-industrial, onde a maioria não trabalha nem como fazendeiros nem como operários, mas na indústria de serviços. Os computadores e outros dispositivos eletrônicos tornaram-se importantes, e um conjunto inteiramente novo de traços é necessário para ser bem sucedido. Bill Gates e Sir Richard Branson (e outros homens bem sucedidos atuais) poderiam não ter sido bem sucedidos como fazendeiros ou operários.




Todas estas mudanças dramáticas aconteceram dentro de 10 gerações, e não se pode dizer o que o próximo século trará e que traços serão necessários para ser bem sucedido nele. Nós vivemos em um ambiente instável, em permanente mudança, e assim o fizemos por aproximadamente 10.000 anos.



Para centenas de milhares de anos antes, nossos antepassados viveram como caçadores-coletores na savana africana e em outras partes, num ambiente estável e imutável ao qual a seleção natural podia responder. Eis porque todos os seres humanos têm hoje os traços que lhes fariam bons caçadores-coletores na África – nos homens, a maior habilidade espaço-visual, que lhes permitiu retornar para casa com segurança, sem qualquer mapa ou GPS, após seguir animais numa caçada durante dias e quilômetros; nas mulheres, a maior memória de posição de objeto, que permitiu que recordassem onde árvores e arbustos frutíferos estavam para que retornassem lá a cada estação para a colheita, mais uma vez sem mapas ou marcos permanentes.



Nos últimos 10.000 anos, entretanto, nosso ambiente tem mudado demasiadamente rápido para que a evolução ocorra. A evolução não pode trabalhar contra alvos móveis. Isso explica porque os seres humanos não têm evoluído em nenhuma direção previsível desde aproximadamente 10.000 anos.



Eu me antecipo em acrescentar que determinadas características de nosso ambiente permaneceram as mesmas - nós sempre tivemos que conviver bem com outros seres humanos, e também sempre tivemos que encontrar e manter nossos (as) companheiros (as) – assim, certos traços, como a sociabilidade ou a atração física, foram favorecidos sempre pela seleção natural e sexual.




Mas outras características de nosso ambiente mudaram muito rapidamente em relação ao tempo de geração de nossa espécie, de uma forma relativamente aleatória: quem poderia ter previsto computadores e a internet há um século? Desta maneira, nós não temos sido capazes de nos adaptar e evoluir contra um alvo (ambiente) em constante movimento.




Pesquisa e tradução: Marcos Brunini (marcosbrunini@yahoo.com.br)

[1] Why human evolution pretty much stopped about 10.000 years, disponível em http://www.psychologytoday.com/blog/the-scientific-fundamentalist/200810/why-human-evolution-pretty-much-stopped-about-10000-years Acesso em janeiro/2009.

[2] Satoshi Kanazawa, psicólogo evolucionista, leciona na London School of Economics and Political Science e é coautor (com Alan S. Miller) de Por Que Homens Jogam e Mulheres·Compram Sapatos - Como A Evolução Molda Nosso Comportamento. Rio de Janeiro: Prestigio Editorial. 2007.

ivan de carvalho junqueira - direitos humanos

fonte: fashionkillsme.wordpress.com


DIREITOS HUMANOS, CIDADANIA & SEXUALIDADE*


Como sabido, junho passado foi o “Mês do Orgulho LGBT” em que, mais acintosamente, são transportados à tona, uma vez mais, extenso e não menos relevante rol de reivindicações, muitas das quais, ainda insistentemente não atendidas, em que pese algumas iniciativas, da parte de organismos governamentais e não governamentais, em especial, nos últimos anos, em se tendo por escopo, in concreto, o legítimo exercício à igualdade. Não apenas na lei, ao construir de magníficas palavras, mas à prática.

A propósito, o lema do 13.º Mês do Orgulho LGBT de São Paulo, promovido pela Associação da Parada GLBT foi: “Sem Homofobia, Mais Cidadania: pela isonomia dos direitos!”.

sessenta anos asseverou, brilhantemente, a Declaração Universal dos Direitos Humanos o que se segue: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”, à luz do artigo I. Vivenciávamos o término de mais uma guerra, ao chocar das atrocidades de Hitler, de pessoas vistas quão objetos, quando muito, descartáveis. Ainda que carecedora de força compulsória, na medida em que nenhum Estado é obrigado a aderi-la, inovou ao contemplar, num só documento, dos mais primorosos princípios e garantias, a despeito de outros, adstritos a todos e a cada qual de nós, independente de origem, gênero, cor, etnia, profissão, condição econômica, opção política... devendo abarcar, hoje, sem margem à dúvida, o viés da sexualidade, àquele instante, não vislumbrado (expressamente).

Com o passar de seis décadas observamos que, leis, embora fundamentais, mesmo que maravilhosamente esculpidas, à primazia da técnica jurídica e gramatical, não constituem o bastante, não assegurando, por si só, o exigível respeito. Atos de discrímen ainda persistem, a rodo e em larga escala no seio da sociedade, bastando não mais que um singelo olhar à nossa volta. Alguém duvida?

na Antigüidade, mais precisamente entre os atenienses, começara a desenvolver-se a noção de cidadania, apesar da divisão em três distintas classes: cidadãos, metecos e escravos... Daí a importância de se agregar, aliado àquela, os conceitos de democracia e igualdade.

Hoje, contudo, o que mais se verifica é a falta de cidadania ou, noutras palavras, de acesso à cidadania, de milhões de seres humanos, diga-se, cidadania efetiva, à sua ampla acepção. Intrinsecamente, todos somos cidadãos, tendo por reconhecidos no papel dos mais importantes e fundamentais direitos, sendo os mesmos: irrenunciáveis, inalienáveis e indivisíveis... No cotidiano, porém, deparamo-nos com o outro lado dessa história, nem tão romântica assim.

Segundo o Aurélio, cidadania é a “qualidade ou estado de cidadão”, inferindo-se desta última expressão o “indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado, ou no desempenho de seus deveres para com este”. Ao teor da Magna Carta de 1988, tem-se, dentre os fundamentos da República Federativa do Brasil: a cidadania (CF, art. 1.º, II), prerrogativa esta, a nortear toda a Lei Maior, ao reconhecimento e defesa da própria dignidade.

De fato, ademais do não reconhecimento à plenitude da cidadania da população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), caminham juntos o preconceito e a discriminação, resquícios do ódio e da ignorância, sendo inúmeros os exemplos disto, não necessitando de maior explicitação. Perguntar não ofende: uma sociedade que pouco reconhece os direitos humanos de significativa parcela de seus cidadãos, inclusos não apenas os direitos sociais, previdenciários e sucessórios, mais aventados, mas, também, os direitos civis e de família (união civil e adoção bilateral, por exemplo) há de ser, realmente, democrática?

No que tange à expressão “homossexualismo”, fora cunhada já há várias décadas pelo médico húngaro Becker Benked que, naquele instante, dirigindo-se ao então Ministro da Justiça da Alemanha do Norte, deu ciência a este para com a incessante perseguição de cidadãos homossexuais por motivos, unicamente, políticos, estabelecendo-se, outrossim, pelo Código Penal do II Reich, em seu parágrafo 175, a cominação da pena de morte para estes casos. Vislumbrava o médico, a “anormalidade” daquela conduta, cujo estudo haveria de pertencer à área médica, apenas, e não à Justiça como desejavam alguns. Termo este, inclusive, presente no Código Internacional de Doenças (CID), analisada sob o enfoque da disfunção mental? No ano de 1985, pronunciou-se, finalmente, a Organização Mundial de Saúde, não mais considerando-a uma enfermidade. Embora usuais, as próprias referências “homossexualismo”, supramencionada, e “homossexualidade”, etimologicamente interpretadas, vêm, por assim dizer, enraizadas de pré-conceitos, uma vez que o sufixo “ismo” diz respeito, justamente, à doença, significando o termo “dade”, assim contida numa das assertivas, uma “forma de ser”.

Os cidadãos LGBT ou, simplesmente, cidadãos!, extirpados quaisquer rótulos, caricaturas e/ou siglas, têm sido, dia-a-dia, desrespeitados em sua dignidade enquanto ser, assistindo-se, não raro, a reiterados episódios de homofobia, desde as pequenas às grandes cidades. Há anos, a propósito, discute-se no Congresso Nacional a tipificação penal do delito homofóbico (tal como o crime de racismo), i.e., cuja motivação da parte do sujeito ativo (vitimizador) dá-se, essencialmente, pela não aceitação do outro ou, melhor, do próximo, frente a sua preferência sexual. Quem ainda se lembra do jovem Edson Neris? que, em plena Praça da República, no centro de São Paulo, veio a ser covardemente agredido pela ação de skinheads, vindo a óbito tempos depois. Mais um triste episódio a afrontar os direitos humanos, não o último, contudo.

Quando da realização da mais recente Parada, supramencionada, vivenciamos, uma vez mais, a perpetuação de condutas de cunho homofóbico, ao ceifar, entre outras graves violências, de outra vida.

Ao surgir da AIDS, referiam-se a esta, alguns, como “peste gay” ou “câncer gay”, em mais um recorte de profundo desrespeito, ao deletério ensejar de perniciosos estereótipos quão os “grupos de risco”.

Em consonância ao relatório “Juventudes e Sexualidades” então divulgado pela UNESCO, numa pesquisa realizada em quatorze capitais brasileiras, no ano de 2000, mas, infelizmente, ainda atual, verificou-se que, das pessoas entrevistadas (discentes, educadores e pais), nada menos do que 27% dos alunos não gostariam de ter de conviver, na mesma sala de aula, com colegas homossexuais, número este que sobe para 35% na visão dos ascendentes daqueles, onde 15% dos alunos ainda consideram o homossexualismo uma doença. Do ponto de vista religioso, para uma boa parte dos adeptos do catolicismo, esta também parece ser a interpretação. Como asseverou, duas décadas atrás, o cardeal alemão Joseph Ratzinger, hoje, Papa Bento XVI: “Ainda que a inclinação de uma pessoa homossexual não seja um pecado, é mais ou menos uma forte tendência a uma maldade moral intrínseca, portanto, uma inclinação que deve ser vista como uma enfermidade” (“Carta aos bispos da Igreja Católica no cuidado pastoral às pessoas homossexuais”, 1986).

Sem embargo, em se procedendo a exegese do nível ético e cultural de uma dada sociedade, basta observarmos quão são tratados os indivíduos que a ela se vinculam. Em comunidades menos desenvolvidas, há de se constatar que os primeiros a serem ofendidos ocuparão, por excelência, as posições já marginalizadas, entenda-se: os portadores do vírus HIV/AIDS, os adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa, os adultos privados da liberdade, as pessoas a alienar o próprio corpo, os silvícolas, os idosos, os afrodescendentes, os pobres, enfim, os homossexuais.

Parafraseando Hannah Arendt: “A essência dos direitos humanos é o direito a ter direitos”.

*Ivan de Carvalho Junqueira, Bacharel em Direito, autor de Dos Direitos Humanos Do Preso, ABC dos Direitos Humanos e Do ato infracional à luz dos direitos humanos. Contato: ivanjunqueira@yahoo.com.br

domingo, 23 de agosto de 2009

crônica - ronaldo duran

Fonte: eleandrodaflauta.blogspot.com/






A FLAUTA*







“Se alguém me contasse eu não acreditaria”, foi a fala do Gui logo que me viu levantar às três horas da manhã para ensaiar flauta. A noite foi boa, sim. Fiz de tudo para que o ego dele não balançasse. Sei, está virando um hábito. Toda vez que ele vem, eu faço isso. Soa incomum sair de perto do namorado no meio da madrugada. Quanto mais no nosso caso, que nos vemos a cada quinzena. Ficaria muito caro e cansativo para ir todo fim de semana para São Carlos. Idem para ele vir para São Paulo. A enfermagem suga toda a energia do meu amor, e nem ligo quando telefona dizendo que está um bagaço ou que tem plantão no fim de semana.




Os sábados solitários já seriam justificativa suficiente para arrumar um passatempo musical. O espanto do Guilherme é que sempre fui roqueira. Uma guitarra, mesmo uma bateria seriam previsíveis. Mas uma flauta? Aos poucos estou explicando os motivos a ele. Participar do coral do campus, preço em conta, o menor incômodo aos vizinhos, e segue a lista dos porquês.








Desde o primeiro ano de faculdade que pertenço ao coral. De início minha participação se restringia ao canto. Quase dois anos exercitando as cordas vocais às sextas-feiras. Era uma sauna para relaxar os nervos depois da aula da tarde. Da minha turma, quatro amigas. O professor de desenho arquitetônico II encerrava a aula e a gente ia para cantina, tomava um lanche e corria para o anfiteatro.




Dos poucos instrumentos que o coral contava, gostei da flauta. Soprei umas vezes, e que fracasso. Mas sei lá por que determinei que eu ia dominar, ia ter destreza. O universo conspira a nosso favor quando nos propomos a fazer algo. E não é que achei um estudante de jornalismo que tocava razoavelmente bem. O rapaz era ótimo. Tá, na terceira aula eu falei que tinha namorado e que até podia pagar as aulas se ele quisesse. Tudo para que ele abandonasse a cara de cachorro faminto e me desse o que me interessava: aulas de flauta. Ele se tocou e ficamos bons amigos.




Superei o mestre, segundo ele, já ao término de seis meses. Os treinos solitários nas várias madrugadas ajudaram nesta empreitada. A flauta acima de tudo foi uma terapia. Das vezes que quis detonar o professor de estatística, aquele engenheiro bêbado e desbocado, bastava eu soprar flautas à noite que no dia seguinte estava zen e que ele rosnasse o que quisesse. A solidão de minha kitinete igualmente fora aplacada pelo som e companhia de minha amiguinha. Até o momento fiz duas apresentações no conservatório da faculdade de música.




No terceiro ano de curso, quando a galera diz que a faculdade vai ou racha, quase pendi para a música. Pensei sinceramente trancar a faculdade de arquitetura e me atirar na de Música. Cheguei até assistir aulas como ouvinte. Mas no fim notei que minha praia era mesmo o ganha-pão de Lucio Costa. Música para fortalecer o espírito, acalmar os nervos. Ouvir flauta me inspirava nos trabalhos urbanísticos.




Tudo bem. Só que preciso moderar a paixão pela flauta para não se tornar um escapismo. Nada a ver deixar meu gato nas cobertas solitário.




(A garota deu um sorriso. Saltou do parapeito da janela. Guardou a flauta na caixa. E correu para debaixo das cobertas com seu amor enfermeiro).












* Ronaldo Duran, romancista, colabora em jornais. Contato: ronaldo@ronaldoduran.com