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sexta-feira, 12 de junho de 2009

ivan de carvalho junqueira - direitos humanos








QUE DIREITOS?






por Ivan de Carvalho Junqueira*




Pretendemos tecer ao curso do presente artigo, com base, também, em nosso mais recente livro publicado: “Do ato infracional à luz dos direitos humanos”, singelas considerações acerca do conjunto de direitos a que fazem jus crianças e adolescentes, atentando-se, em especial, diante daqueles mais adstritos ao adolescente em conflito com a lei.

Ab ovo, convém enfatizarmos, ainda que óbvio transpareça, vivenciarmos, a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988 e, à seqüência, com a Lei n.º 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) e, mesmo antes, sob a luz da Convenção sobre os Direitos da Criança, de 1989, ratificada pelo Brasil no ano seguinte, o marco da proteção integral de direitos.

Superada, a princípio, a concepção “menorista”, há bem pouco vigente à seara da infância e juventude, mas cujos resquícios ainda persistem, abandonou o Estado, ao menos formalmente, o viés da situação irregular, cujos denominados “menores” haveria de cooptar, entendamos bem: pobres, desvalidos e desassistidos socialmente, sitos à margem das políticas públicas, vez que aos de maior poder aquisitivo, oriundos de abastadas famílias, diverso fora o atendimento.

Assim sendo, de vaga categoria sociológica a precisa categoria jurídica, temos hoje por reconhecido o protagonismo infanto-juvenil, razão pela qual passou-se a considerar, legitimamente, crianças e adolescentes quão sujeitos de direito, e não mais mero objetos de intervenção, como no “passado”.

Até este momento, nada de inovador apresentamos. Cremos, todavia, ser de elevada valia a lembrança àqueles precedentes, notadamente, ao decorrer de nossas práticas cotidianas. Atualmente, falar em direitos e deveres soa corriqueiro e mesmo usual. A bem pouco, porém, ao ano de 1896, nos Estados Unidos, noticiava-se o caso da menina Marie Annie defendida, àquele instante, em juízo, pela Associação Protetora dos Animais. Hoje, século XXI, crianças e adolescentes continuam sendo, ao lado das mulheres, das maiores vítimas de conflitos armados e de guerras, de violência sexual, inclusive, sem desprezo a outras práticas, como a de clitorectomia, presente n’algumas regiões ou, mesmo, de matrimônio forçado, a que estão obrigadas em determinados países. São, pois, muito mais vítimas de violência do que vitimizadores.

Em dezembro passado, completara a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o seu 60.º aniversário. Não obstante tratar-se de um conjunto ético de valores e princípios, pós-Holocausto, não sendo lei obrigatória, entretanto, à égide de uma concepção universalista de direito, embora quase natural, inerente a todos, sabemos, de antemão, que muito há que se fazer, dadas as constantes violações aos direitos humanos, a bem dizer, diárias, a que – todos – estamos sujeitos. A propósito, os direitos humanos não são para “bandidos”, enfatize-se, uma vez mais, como insistem em difundir alguns.

No que concerne, mais precisamente, ao adolescente em conflito com a lei, consolidaram as Nações Unidas, sem desprezo a outros importantes documentos, primordial leque de parâmetros então direcionados aos autores de um ato de natureza infracional, entre as quais: as Regras Mínimas para a Administração da Justiça da Infância e Juventude (Regras de Beijing), as Diretrizes para a Prevenção da Delinqüência Juvenil (Diretrizes de Riad) e, finalmente, as Regras Mínimas para a Proteção dos Jovens Privados de Liberdade. De fato, os anos oitenta e noventa do último século foram bastante férteis neste sentido, à difusão de leis e normativas fundamentais ao reconhecimento, mesmo à privação de liberdade, de direitos e deveres (não se vislumbra destes sem aqueles, e vice-versa), ao seio do sistema socioeducativo.

Em sendo adolescente, há de recair sobre este, sem dúvida, consistente mecanismo de responsabilização (em não poucos casos, mais severo que a um adulto), vide o disposto na legislação especial (Lei n.º 8.069/90), podendo conduzi-lo, notadamente, à incidência de condutas mais gravosas, tal qual o ato equiparado ao homicídio simples (Código Penal, artigo 121, caput), não obstante a natureza excepcional de toda e qualquer medida e, mais especialmente, daquela de internação, à privação de sua liberdade (ECA, artigo 121, caput), de seu jus libertatis, de seu convívio comunitário, devendo, a partir daí, submeter-se a um amplo e variado número de regramentos, necessários, desde que plausíveis... em observância ao princípio constitucional da legalidade por até três anos.

Em se partindo de alguns princípios informadores, tal qual aquele, sem jamais minorar a relevância de outros, todos indispensáveis, elencou o diploma infanto-juvenil premissas das mais fundamentais à recepção de uma política pública e social angariadora de uma proteção integral de direitos, como supramencionado, o que se depreende, facilmente, da leitura ao seu artigo 1.º.

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, artigo 94, compete às entidades executoras de medida de internação extenso rol de obrigações. Basta dizer, verbi gratia, observar os direitos e garantias de que são titulares os adolescentes (inciso I).

Veja-se: adolescentes. Reafirmamos isto, pois, em nenhum momento adotou a lei federal, como falado corriqueiramente, a nomenclatura adolescente “infrator”, mas, sim, adolescente em conflito com a lei, a quem se atribui a prática de um ato infracional ou, ainda, adolescente privado de liberdade. Em abandono às teorias lombrosianas, não se trata de condição inata, inerente, quão um atributo, pejorativo, ao jovem protagonista de uma infração, como se, desde o nascimento ou mesmo antes pudessem alguns afirmar, com convicção, de modo fatalista, ser este indivíduo, potencialmente, um provável “delinqüente”. Trata-se, em oposição, de uma situação momentaneamente vigente, num dado momento de sua vida, a ensejar, n’alguns casos (preferencialmente, quando da incidência de condutas mais gravosas), o cumprimento de uma medida socioeducativa. Vale lembrar, ao dizer de Antonio Carlos Gomes da Costa, que “não estamos diante de um infrator que, por acaso, é um adolescente, mas de um adolescente que, por circunstâncias, cometeu ato infracional”. Ressalte-se serem os adolescentes o grande efeito, e não causa, defronte às minguadas políticas públicas existentes. Tal entendimento é de fundamental valia à nossa práxis, inclusive.

Percebemos, mesmo dentro do sistema de justiça juvenil, certas dificuldades em face disto. Em se procedendo assim, adolescentes transformam-se em “números”, “coisas”, em “mais um”. Cediço é que a despeito de todos os esforços, há quem careça – ainda –, tal como para o senso comum, de compreensão diante da real importância de se conceder um atendimento socioeducativo de máxima qualidade, alicerçado no reconhecimento efetivo de cada adolescente enquanto ser humano e pessoa em desenvolvimento, portador de dignidade, respeitando-o, também, à sua individualidade, devendo agir, sobretudo, com compromisso e responsabilidade, afinal, “os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem cumprir o dever que a lei lhes impõe, servindo a comunidade e protegendo todas as pessoas contra atos ilegais, em conformidade com o elevado grau de responsabilidade que sua profissão requer” (Artigo 1.º, Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei), por uma questão ética, de princípio, para além da razão de ofício.

Não concordamos com a prática de um ato infracional equiparado a um homicídio, roubo ou estupro, isto também nos aflige. Enxergamos, destarte, inúmeras outras formas, pacíficas, à resolução de conflitos. E assim há de ser, afinal, vivemos em coletividade, indissociavelmente e, desde o nascimento, ao desenvolver histórico do Estado e das sociedades, vinculados somos a um pacto social. Atitudes estas, de violação ao direito de outrem, a também nos causar espanto, de afronta aos direitos humanos. O poder do Estado, contudo, não é ilimitado. Querer reavivar vindicta privada, despida de quaisquer garantias, soa absurdo.

Clamores outros, dos mais simplistas, sobre o reducionismo da idade de imputabilidade penal no Brasil para 16, 15, 14 anos... ou mesmo do aumento para com o tempo de cumprimento de uma medida socioeducativa, muito especialmente, de internação, por parte dos adolescentes, alardeados são a cada esquina ancorados no oportunismo e sensacionalismo de alguns meios de comunicação. No que tange àquele, alerta-nos as Regras de Beijing, que: “Nos sistemas jurídicos que reconheçam o conceito de responsabilidade penal para jovens, seu começo não deverá fixar-se numa idade demasiado precoce, levando-se em conta as circunstâncias que acompanham a maturidade emocional, mental e intelectual” (Responsabilidade Penal, item 4.1).

Adiante, brinda-nos o ECA acerca dos direitos do adolescente ora privado de liberdade, ao curso de seu artigo 124 e incisos, sem desprezo a tantos outros, constituindo enumeração meramente exemplificativa, não taxativa.

Respaldados estamos num grande leque de normativas nacionais e alienígenas, como sabido. Necessitamos, doravante, da aprovação da Lei de Execução de Medidas Socioeducativas, cujo projeto já existe, consolidando, assim, o já disciplinado pelo Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE.

Ainda temos de caminhar. O número de adolescentes hoje internos, aos quais se impôs, previamente, medida privativa de liberdade, de extrema ratio, ainda é bastante alto, o que independe da vontade da entidade executora, não se coadunando, neste diapasão, com o disposto na própria legislação especial, a clamar pelo seu estabelecimento tão-somente quando da absoluta impossibilidade à imposição de medida de natureza diversa, i.e., em meio aberto. Parte do Poder Judiciário pátrio ainda reluta à afirmação do contrário.

Parafraseando Eduardo Galeano:

Ella está en el horizonte. Me acerco dos pasos, ella se aleja dos pasos. Camino diez pasos y el horizonte se corre diez pasos más allá. Por mucho que yo camine, nunca la alcanzaré. Para que sirve la utopia? Para eso sirve: para caminar.

A D.W., in memoriam, dedico o presente artigo.


*Bacharel em Direito, funcionário da Fundação Casa-SP, escreve na área de Direitos Humanos. Seu mais recente livro publicado é: “Do ato infracional à luz dos direitos humanos” (2009).

PLANETA VOLUNTÁRIOS




RELATÓRIO DO PLANETA TERRA






por Marcio Demari*






Se a população da Terra fosse reduzida à dimensão de uma pequena cidade de 100 pessoas, poderia observar-se a seguinte distribuição:




57 Asiáticos


21 Europeus


14 Americanos (norte e sul)


08 Africanos


52 mulheres


48 homens


70 pessoas de cor


30 caucasianos


89 heterossexuais


11 homossexuais


06 pessoas seriam donas de


59% de toda a riqueza e todos eles seriam dos Estados Unidos da América


80 pessoas viveriam em más condições


70 não teriam recebido qualquer instrução escolar


50 passariam fome


01 morreria


02 nasceriam


01 teria um computador


01 (apenas um) teria instrução escolar superior




Quando olha para o mundo nessa perspectiva, consegue perceber a real necessidade de solidariedade, compreensão e educação?




Pensa também no seguinte?:




Esta manhã, se acordar com saúde, então é mais feliz do que 1 milhão de pessoas que não vão sobreviver até ao final da próxima semana.




Se nunca sofrer os efeitos da guerra, a solidão de uma cela, a agonia da tortura, ou fome, então é mais feliz do que outros 500 milhões de pessoas do mundo.




Se pode entrar numa igreja (ou Mesquita) sem medo de ser preso ou morto, é mais feliz do que outros 3 milhões de pessoas do mundo.




Se tem comida na geladeira, tem sapatos e roupa, tem uma cama e teto, é mais rico do que 75% das outras pessoas do mundo.




Se tem uma conta bancária, dinheiro na carteira e algumas moedas num moedeiro, pertence ao pequeno grupo de 8% de pessoas do mundo que estão bem na vida.




Se está lendo esta mensagem, é triplamente abençoado, pois:




1.Alguém lembrou-se de você.


2.Não faz parte do grupo de 200 milhões de pessoas que não sabem ler.


3.E tem um computador!




Tal como alguém uma vez disse:




- "trabalha como se não precisasses do dinheiro;


- ama como se nunca tivesses sido magoado;


- dança como se ninguém estivesse a ver-te;


- canta como se ninguém estivesse a te ouvir;


- vive como se a terra fosse o Paraíso ."






* É coordenador do Planeta Voluntário


domingo, 7 de junho de 2009

marcos brunini - psicologia evolucionista

POR QUE ACREDITAMOS EM DEUS? I[1]





por Satoshi Kanazawa[2], 24/03/2008.






Pergunta: Por que acreditamos em Deus?

Resposta: Beavis e But-head.

Boa noite a todos... Voltem para suas casas com cuidado e não esqueçam da gorjeta do garçom!






Acreditem em mim, há relação...








A chave para a conexão entre Deus e Beavis e But-head são duas estrelas ascendentes da psicologia evolucionista, Martie G. Haselton, da UCLA, e Daniel Nettle, da Universidade de Newcastle, com sua incrivelmente engenhosa Teoria de Manejo do Erro. Em minha opinião, a Teoria de Manejo do Erro representa a grande realização teórica na psicologia evolucionista em vários anos.

Imagine uma cena típica em Beavis e But-head, numa rara ocasião em que os garotos não estão sentados no sofá assistindo vídeos. (Não tenho assistido à MTV desde 1994, mas espero que ainda estejam sendo exibidos; eu também poderia me referir ao tio Miltie e o Texaco Star Theater.) Beavis e But-head estão andando pela rua quando passam duas jovens atraentes, vestidas em seus obrigatórios shorts e camisetinhas. Ao passarem, uma delas volta-se aos dois, sorri e diz “Olá!”.

O que acontece? Beavis e But-head congelam, a totalidade de suas funções cognitivas (do jeito que são) entra em alerta, e aí eles murmuram, “Uau...Ela pagou pau...Ela quer transar comigo...É hoje, vou me dar bem...”

Tão cômico quanto pode ser esse espetacular mal-entendido, as evidências experimentais sugerem que a reação de Beavis e But-head é bastante comum entre homens. Num dado experimento, um homem e uma mulher travam uma conversação espontânea por alguns minutos. Imperceptíveis a eles, dois observadores, uma mulher e um homem, acompanham a interação por trás de um vidro espelhado. Após o fim da conversação, todos os quatro (o participante e a participante, o observador e a observadora) julgam quão romanticamente interessada estava a participante pelo participante. Os dados mostram que o participante e o observador frequentemente julgam que a participante está mais romanticamente interessada no participante do que o fazem a participante e a observadora. Os homens pensam que as mulheres estão querendo se aproximar deles, porém as mulheres não pensam assim.

Seja você homem ou mulher, se pensar na sua própria vida por um minuto, você perceberá logo que esta é uma ocorrência muito comum. Um homem e uma mulher encontram-se e começam numa conversação amigável. Após a conversação, o homem está convencido de que a mulher sente-se atraída e talvez queira dormir com ele, quando a mulher não considera tal pensamento; apenas está sendo agradável e amigável. É um tema comum de muitas comédias românticas (tanto quanto basicamente todo episódio de Three’s Company [sitcom americano exibido entre 1977 e 1984]... Será que estou me datando?)

Por que isto acontece?

A Teoria de Manejo do Erro de Haselton e Nettle oferece uma explicação bastante convincente. Essa teoria começa com a observação de que a tomada de decisões baseada em incertezas frequentemente resulta em inferência errônea, porém alguns erros são mais onerosos em suas consequências do que outros. A evolução deve, portanto, favorecer um sistema de inferências que minimize, não a quantidade total de erros, mas seus custos totais.

Por exemplo, no caso apresentado, o homem deve decidir, na ausência de informação completa, se a mulher está romanticamente interessada nele ou não. Se inferir que está, quando de fato está mesmo interessada, ou se inferir que não está, quando de fato não está interessada, então fez a inferência correta. Nos outros dois casos, entretanto, cometeu um erro na inferência. Se inferir que está interessada, quando de fato não está interessada, cometeu um erro falso-positivo (o que os estatísticos chamam de erro do “Tipo I”). Ao contrário, se inferir que não está interessada, quando de fato está interessada, cometeu um erro falso-negativo (o que os estatísticos chamam de erro do “Tipo II”). Que conseqüências os erros falso-positivo e falso-negativo envolvem?

Se cometer o erro de pressupor interesse, quando ela não está interessada, então se aproximará dela, mas terminará sendo rejeitado, motivo de piada, ou poderá até levar um tapa na cara. Se ele cometer o erro de pressupor que ela não está interessada, quando na realidade ela está, perderá uma oportunidade para o sexo e para a possível reprodução. Ainda que seja muito mau ser rejeitado e motivo de piada (e, acredite, é muito), não é nada comparado a perder uma oportunidade verdadeira para o sexo. Assim, argumentam Haselton e Nettle, a evolução equipou os homens para superestimar o interesse romântico e sexual das mulheres por eles, de modo que ao cometerem um grande número de erros falso-positivo (e, em conseqüência, serem ‘estapeados’ o tempo todo), nunca perderão uma única oportunidade para o sexo.

Entre engenheiros, isto é conhecido como “o princípio do detector de fumaça”. Como a evolução, os engenheiros constroem detectores de fumaça a fim de minimizar, não o número total de erros, mas seus custos totais. A conseqüência de um erro falso-positivo de um detector de fumaça é que você será acordado às três horas da manhã por um alarme alto quando não há nenhum fogo. A conseqüência de um erro falso-negativo é que você e sua família inteira morrerão se o alarme não soar na presença de fogo. Ainda que seja muito desagradável ser acordado no meio da noite sem razão, isso não é nada comparado à morte. Assim, os engenheiros deliberadamente regulam os detectores de fumaça para que sejam extremamente sensíveis, de modo que ocorrerão muitos alarmes falso-positivo, mas nenhum silêncio falso-negativo. Haselton e Nettle discutem que a evolução, no papel de engenheiro da vida, projetou o sistema de inferência dos homens similarmente.

Assim, é por isso que os homens sempre se aproximam das mulheres e fazem propostas indesejadas o tempo todo. Mas o que, em nome de Deus, isso tem a ver com nossa crença em Deus? Eu explicarei em meu post seguinte. Acreditem em mim, há relação.



Pesquisa e tradução: Marcos Brunini (marcosbrunini@yahoo.com.br)

[1] Why do we believe in God? I, disponível em http://blogs.psychologytoday.com/blog/the-scientific-fundamentalist/200803/why-do-we-believe-in-god-i acessado em 22/01/2009

[2] Satoshi Kanazawa, psicólogo evolucionista na London School of Economics and Political Science e coautor (com Alan S. Miller) de Por Que Homens Jogam e Mulheres·Compram Sapatos - Como A Evolução Molda Nosso Comportamento. Rio de Janeiro: Prestigio Editorial. 2007.

cuento - letras desvalorizadas



LETRAS DESVALORIZADAS*



por ronaldo duran**



El hombre es un animal disconforme con la regla del juego que la vida impone. ¿Ya hemos visto una hormiga alcanzar la luna? ¿Al comando de un hormiguero apoyándose en una supuesta legitimidad, dictando ordenes en el hormiguero vecino? ¿Caballo, buey o vaca poniendo a escarbar las capas de ozono?


El animal humano escarba y escarba casi todo a su alrededor. El gordo, sueña quedarse delgado. El delgado, espera ganar peso. El blanco, vive aburrido y desea ser moreno. El negro, se pinta de blanco. El calvo, no ve la hora del implante... El genotipo ha perdido el espacio ante las tinturas artificiales que colorean la piel y el pelo en los días actuales.


Similar a las demás especies de la naturaleza, en la especie humana existen los súper-tranquilos contrastando con los activos. Extremos humanos. Mientras a los primeros, en la óptica de un observador poco atento a los pequeños detalles, juraría tratarse de personas sufridas.
¿Sufrido? ¿El ser humano? Esto es un equívoco. A menos que se haya muerto, no hay persona totalmente sufrida.


Destino, Dios, espíritus divinos y demás fuerzas ocultas del universo han dado rienda suelta y dejaron de intentar comprender a esto raro especie que se arrastra sobre la Tierra. Han percibido que eso resulta en un trabajo inútil.


Pasear en la filosofía sobre lo que es el hombre jamás tendrá el mismo efecto que mostrar la simple rutina de una persona.


Ya que hablamos de disconforme, vamos a ver uno.


Robson de Braga Araujo busca ser valorizado como escritor. Hasta allí todo normal. Cada cual tiene su sueño.


Aquí el soñador camina al borde del pozo de la obsesión.


Robson llena su meta hasta el límite del delirio. Auque se trate de un delirio letrado, académico y crítico. El delirio es alcanzar la fama a cualquier riesgo. Lo malo es que el reconocimiento ha huido como algunos parlamentarios se esquivan de la CPI, cualquier CPI, desde que lleva a la sospecha sus actos y patrimonio.


Miércoles por la mañana, mes de julio de 1996. La ciudad de Taubate, municipio de la Provincia de São Paulo, despertaba de la misma manera que lo había hecho en el día anterior, no obstante lo que digan los amantes de la Física.


Estamos en la periferia, porque Taubate también cuenta con la suya. La casa es aquella despreciada por la gente esnob, pero deseada por los millares de miserables que encaran un banco frío en la plaza, un rincón en una vereda de algún establecimiento comercial, únicos locales disponibles, como regla, en una metrópolis, a menos que el mendigo haya alcanzado un hueco en una villa miseria.


Robson mira el despertador neurótico que berrea sin cesar. Seis y media. ¿Por qué enfardase? Si él mismo puso el ruidoso para sonar a la hora esperada. Su obligación seria agradecer. Lo otro había quebrantado semana pasada. Perdía siempre la hora.


_ Vamos, hombre, vamos... La hora ha llegado.


No es el reloj eléctrico que le dirige estas palabras, mas bien su conciencia, aunque bueno retraída.


Cuanto le hubiera gustado haber atendido al llamado. Pero su cansancio no se lo permitió. Dormiría por hora más.


De repente, se apoyó en la cama. Desperezase. Le gustaría que el mundo se hubiera acabado, una bomba hubiese caído en la ciudad o cosas peores. Todo. Menos dejar las frazadas.


Apoya sus pies en el suelo helado. Va a buscar las malditas chancletas. Jamás las encuentra en donde las dejó en noche pasada. Pero ni él sabría decir precisamente en que sitio las había dejado. Recoge un par al sur y otro al norte. Por más que lo desease, no lograría atender a la antigua solicitación de su madre, doña Eunestina.


_ Evita pisar en suelo helado. Esto hace muy mal a la salud.


Doña Eunestina cumplía el papel de una madre cuidadosa. Temía mucho el catarro crónico de su hijo. Aunque esporádico, este no ha dejado Robson en paz desde pequeño. La lucha dura ya tres décadas.


Como por arte de magia, había vestido el pantalón y la camisa sin planchar. En el desayuno venía el Nescau con leche y una mitad de pan del día anterior, con mantequilla. Él hacer el café le daría mucho trabajo, aunque fuese soluble. Bebía bastante durante todo el día en la oficina. Entonces, ¿para qué preocuparse?


Los dientes van sin cepillar. En la notaría cuidaría de la higiene de su boca. En su armario, lucían jabones, pasta dentífrica y cepillo de dientes.


El sol de una mañana de invierno, de vez en cuando causa ardor en los ojos de quién saborea las recomendadas ocho horas de sueño. Imagino el daño que hace a la salud de quién mantiene el mal hábito de imitar murciélagos y lechuzas, cambiando el día por la noche. Robson, dedicado amante de las letras, encuentra una oportunidad para bosquejar sus poemas en el silencio y en los ratos libres de la madrugada.


Llegó retrasado en la notaría. El patrón, resabido, ni hace cara de pocos amigos ¡ No lo adelantaría! Había solamente un consuelo: descontar en el fin de mes el salario. Y no estaba dispuesto a abrir la mano del recurso.


¿ A quién le gusta perder? Ni aquel que cae en falta. Un día la indignación explotó. El retrasado, de comprobante salarial en la palma de la mano, tuvo el coraje y fue a reclamar.


_ ¿Mas Sr. Antonio, todo esto de descuento?


_ ¿ Qué hacer? Son los minutos retrasados.


_ ¿Pero todo esto?, el empleado, con la mirada sufrida en el rostro, monologa la pregunta sin esperar por una respuesta favorable. Sabia que había cometido falta.


_ Sumé veinte minutos en un día, quince en el otro..., llegué a este valor, decía el patrón con los ojos fijos en el papel, en el cual listaba los más de veinte días que contaba con descuento.


_ El señor conoce mi realidad... vivo a lejos de aquí...


El abogado Antonio Queiroz, dueño de la notaría, sonrió medio confuso. Con más años de abogacía que Antonio de Magalhães de política, sabia reconocer un bueno carácter en la persona de Robson. Funcionario aplicado. No tiene pereza en el servicio. Ni era absentista.


Buscó a barajar la actitud arbitraria.


_ Sé de todo esto... y mucho más... Lo que no puedo es abrir excepción para nadie. Si no te llevo por tus retrasos es bien posible que mañana por la mañana todos empiezan a llegar después de las diez...


Exageraba. Pero mismo exagerando todo empleador juzgase tener la razón, y ¿quién va le destituir de ella?


Robson hice su retirada, vuelve para su puesto. Reconocía la pérdida de tiempo.


Después de sacar la capa protectora de la máquina profesional, corrió hacia Enrique para recibir la papelera acumulada. Mecanografiaría hasta la hora de almuerzo, sin cesar. Si bien que ir al baño, fumar un Hollywood, mojar el gañote con un cafecito, café que Guilherme, vulgo Zé Bezudo, tracia del Bar & Restaurante, era de ley, acciones constituyentes del servicio.


El día en la notaría era de perro, y de los rabiosos. El Cristián tradicional allí avistaría la imagen del infierno dantesco. Ni faltando figuras conocidas como a del diablo. Este en piel de Antonio Queiroz.


¿Qué más podría pensar delante aquella fisonomía irregular? Bigote espeso, un poco gris por la edad, un poco amarillo por el hábito del cigarro puro; calva pronunciada en tope de la cabeza; raspadura de pelos blancos por cima de las orejas; las mejillas que parecían hervir, dado el rubor constante en la hora de mayor movimiento en la notaría.


El diablo no reina solo. La clientela del otro lado del balcón seria los ángeles decaídos. Esto cuando no ocurría un u otro más arrojado empurrarse adentro de la arena que debería ser exclusiva a los funcionarios, con intento de hacer sus exclamaciones más vehementes, aterrorizadoras.


La lógica diaria es la gritería. Caras aburridas delante la espera. Impuestos contradichos antes de quitados. El doctor, algo sensible con las personas, pasa por bruto cuando el asunto es ganar dinero, o evitar pérdidas. El número de funcionario, ah, insuficiente para la clientela. La sed de ganancia hace con que él cierre los ojos a la realidad.


Cosas de Brasiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiil.


Rutina de los documentos importantes. Firmas que se abren. Firmas que se cierran. Persona física o jurídica que protestan o que se ven protestadas.


El brasileño amante de samba encara el tumulto de modo diferente del Cristián tradicional. Vería en eso el carnaval jurídico. Los más variados bloques desfilando por la gran apoteosis llamada notaría. Bloques de fraudulentos, de lesionados, de emprendedores, de asociativos...


Mecanografiar, manosear documentos ultra-ultra-confidenciales. Reconocer firmas, rúbrica. Autenticar copias de CI, CIC. Tirar certificación de nacimiento, de casamiento, de óbito. Recibir el C.G.C. Copia del estatuto publicado en Diario Oficial, colorido por la lista de los directores, asociados. Registrar ACTA de Asamblea ordinaria, extraordinaria, es siempre buen para evitar habladurías.


Los ventiladores de techo que calientan más que refrescan. El acondicionador que se ha desarreglado una semana atrás instalado y hasta ahora en la asistencia técnica. Por suerte el invierno ayuda un poco.


Los callos en los dedos, cosa de practica. Portaplumas babeadas y mordeduras en las tapas. Muchos prefieren las chupar que mascar las puntas de cigarrillo.


Cinco y media. Robson agotado. ¿Quién estaría aún con alguna animación atrás toda esta tempestad? Nadie, sino que fuera un tunante. El tunante que se ahorra de esfuerza bruta, que logra dirigir el ambiente de manera a no perder a él en stress enfermizo. Marcos es un tunante. Lo único que mostrase dispuesto a pasearse al Shopping Center, espera la enamorada, a cual trabaja en una tienda de ropa de moda y encara dos horas delante de una gran pantalla de cine, con una bolsa de palomitas en las manos.


Los demás se arrastran hacia sus casas. Una buena parte, después de un baño y la refección calientita que aterriza en la mesa de la cena, vuelven a tener lo ánimo. Despiertan. Dan la justa atención al televisor, al radio, durante el resto de la noche, aguardando la hora de dormir.


El solitario no goza de la misma suerte. Va a lavar la loza. Poner algunas cosas en orden. Desde que la mujer pedió las cuentas, indo a enroscarse en los brazos de otro hombre, en opinión de ella, más pie-en-lo-suelo, la casa asemejarse a una república, una casa sólo para estudiantes. Robson sólo tiene alguno capricho cuanto a la limpieza en vista de la visita de los dos hijos suyos, un varón y una chica.


El padre deposita la pensión de los chicos, la cuantía que la ley exige, en la cuenta corriente de la ex esposa. No es él uno avariento. Cuando necesario, suelta un poquito más de dinero. La esposa y el actual marido, ambos muy bien empleados, no tendrían necesitad. Pero ya que el padre así desea, bueno.


Ana cansó de la convivencia. Robson a su lado no lo puedo negar: había tenido buena vida familiar. Pero la perdió por intransigencia. Volvió a usar de una costumbre que había nutrido en la adolescencia: lo gusto por la poesía. Sin medir las consecuencias, deseó dedicarse con todo su empeño.


Apegándose a los libros con tal voracidad, en los finales de semana, él encolerizó la esposa. Sin paseo, siquiera asistir al Faustão, ni fútbol, ni brega entre ellos, ni nada. Lectura, sólo.


Insuficiente los finales de semana, contaminó las noches, las madrugadas. Ella solitaria. Él leyendo y escribiendo. Fue la gota que colma el vaso. No tuviera nacido para eso. Así que él encerró un segundo volumen de poesías, Ana se marchó.


Robson envió los volúmenes para las casas editoras. Dos le rechazaran pronto. Otra, casi seis meses adelante para le volver una respuesta negativa. Las editoras son gentiles. Si recusan el material, alegan: nuestro programa de lanzamiento va indo lleno, y se queda comprometido por los próximos meses... Mismo sin interés en la publicación de lo original suyo, quedamos gratos por la preferencia. La ausencia de palabras explicitas que descalifican las poesías ha incentivado a su ego de escritor a persistir en el trabajo. Y allí vamos a verle a nutrir la esperanza que un día la suerte le muestre su sonrisa.


“La arte nace destituida de la ganancia. Si un día quedarme reconocido, muy bien”, es la opinión de Robson. Conservando esta convicción nuestro Don Quijote de las Letras Desvalorizadas dedicase de cuerpo y alma a su intento. Un martirio que, aquí entre nosotros, provee cierto placer al pobre desgraciado.


¿Qué importa la mujer, la tranquilidad? En el cerebro del inconformista hay una sustancia extraña. ¿Néctar de la confianza de la ilusión? Poco interesa. Lo que importa es que disputa lugar con la sangre, irrigando sueños y actitudes.



* Letras Desvalorizadas es una traduccion de Carlos Vargas de lo original em portugués: Letras Desvalorizada


** Romancista, colabora en periodicos brasileños toda semana.