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domingo, 17 de maio de 2009

marcos brunini maio II


O PARADOXO DA POLIGAMINIA I: SOMOS POLÍGAMOS?[1]



por Satoshi Kanazawa[2], 17/02/2008.

RECENTEMENTE a poliginia tem estado sob o olhar público e nas conversas de cafezinho de muitos americanos, desde o sucesso da HBO, Big Love, até o julgamento do líder mórmon Warren Jeffs. A maioria dos americanos considera a união polígama exótica, incomum, estranha, e mesmo moralmente errada, daí a atração pela série Big Love ou a excitação pelo julgamento de Jeffs. Mas a poliginia não é tão exótica assim; muitos – talvez a maioria - americanos já estão em uniões polígamas.

PRIMEIRAMENTE, deixe-nos colocar as coisas em ordem: poliginia é o termo científico para a união de um homem com mais de uma mulher. A poligamia refere-se à poliginia e poliandria, esta sendo a união de uma mulher com mais de um homem. A poligamia é usada frequentemente como sinônimo de poliginia, porque há pouquíssimas sociedades poliandras no mundo.

NATURALMENTE, a poliginia simultânea, do tipo descrito em Big Love, ou a praticada por Jeffs, é ilegal em todos os 50 estados dos EUA. Entretanto, muitos americanos (e outros povos) praticam a poliginia serial, a partir de uma sequência união - divórcio - segundas núpcias. Para todas as finalidades práticas, as consequências da poliginia serial são exatamente as mesmas que aquelas da poliginia simultânea.

QUANDO um homem como Bill Henrickson -- o poliginista fictício de Big Love - tem três esposas simultaneamente, a conseqüência matemática, dada uma taxa de presença de homens e mulheres na sociedade de aproximadamente 50-50, é que ele está privando outros dois homens de suas oportunidades reprodutivas. Outros dois homens não podem ter uma esposa e crianças porque Henrickson tem três esposas. Quando Donald Trump teve três esposas sequencialmente, privou outros dois homens de suas oportunidades reprodutivas, porque quando se divorciou de suas esposas elas já tinham ultrapassado a idade reprodutiva. O preditor mais forte para as segundas núpcias após o divórcio é o gênero; os homens normalmente casam novamente, as mulheres normalmente não. Nem Ivana Trump, nem Marla Maples se casaram após terem se divorciado de Trump (embora Ivana tenha tido um breve casamento sem filhos antes de Trump).

OS casos extraconjugais são outra forma de união polígama, e homens casados têm maior probabilidade de terem casos do que mulheres casadas. Quando um homem monogamicamente casado tem duas amantes ou namoradas solteiras a conseqüência é essencialmente a mesma; ele está privando outros dois homens de suas oportunidades de sexo. Assim, todo homem que tenha se divorciado e casado novamente, toda mulher que for casada com um homem divorciado, todo homem casado que tiver caso de longo prazo, ou qualquer mulher que tenha tido caso com homem casado, todos estão praticando poliginia em algum nível, com as mesmas consequências da poliginia simultânea de Henrickson e de Jeffs.

SIMULTÂNEA ou serial, a poliginia é comum porque os seres humanos são naturalmente políginos. Os cientistas concordam que a evidência antropológica e arqueológica mostra conclusivamente que os seres humanos foram moderadamente políginos durante toda a história evolutiva. (Mas recorde o perigo da falácia naturalista, derivando implicações morais de fatos científicos. “Natural” não significa nem “bom” nem “desejável”. Também não significa “inevitável”.) Os seres humanos não são tão políginos quanto os gorilas, cujos machos silverback mantêm um harém de diversas fêmeas, mas não são estritamente monógamos como os gibões, cujos casais permanecem juntos durante toda vida. No post seguinte eu focarei a questão acerca de quem se beneficia com uma sociedade polígina: homens ou mulheres? A resposta pode surpreender.




Pesquisa e tradução: Marcos Brunini (marcosbrunini@yahoo.com.br).
São Paulo – SP, março de 2009.



[1]The paradox of polygamy I: Why most Americans are polygamous, disponível em http://blogs.psychologytoday.com/blog/the-scientific-fundamentalist/200802/the-paradox-polygamy-i-why-most-americans-are-polygamous, acessado em 20/02/2009.

[2] Satoshi Kanazawa, psicólogo evolucionista, leciona na London School of Economics and Political Science e é coautor (com Alan S. Miller) de Por Que Homens Jogam e Mulheres·Compram Sapatos - Como A Evolução Molda Nosso Comportamento. Rio de Janeiro: Prestigio Editorial. 2007.

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