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domingo, 17 de maio de 2009

marcio masella maio II


RELAÇÕES DE PODER NA ESCOLA E SEUS ALUNOS INVISÍVEIS. Parte I [1]


“ Educar para não violência implica educar não violentamente”
(Freire)


A escola está carregada de valores, tradições, expectativas, modo de ser, pensar e agir, projetos e intenções, que está sempre em ebulição e movimento. Agimos sempre de acordo com nossos valores, nossas crenças, concepções e bagagem de cultura que nos permite intervir desta ou daquela maneira no mundo. É nessa problemática que se insere as questões dos adolescentes em conflito com a lei.
A questão do jovem e sua inserção na escola é atual, polêmica, de relevância social, política e profissional, que envolve debates e ponderações.
A escola precisa avançar em suas práticas pedagógicas e preparar para cidadania de maneira critica e compromissada, nas principais questões presentes, principalmente na reinserção do adolescente infrator.
Por outro lado, há uma sociedade basicamente preocupada em manter as coisas como estão e na qual as pessoas aceitem esta ordem, uma escola inquietadora, que propicie uma tomada de consciência da realidade, não seria tolerada em seu conjunto.Seria contraditório que uma sociedade repressiva, que busca a tranqüilidade, incentivasse uma escola dinâmica, que promova a pesquisa, que inquiete.
Paulo Freire define a escola cidadã sendo aquela que se assume como centro de direitos e deveres, caracterizada por realizar uma formação para viabilizar a cidadania de quem está nela e vem a ela. É uma escola que luta para ser ela mesma, para que os educandos sejam eles mesmos e, como ninguém pode ser só, a escola cidadã é uma escola de comunidade, marcada pelo companheirismo. Em Pedagogia da Autonomia Freire ainda aponta que se percebêssemos que ensinamos justamente porque aprendemos, valorizaríamos mais as experiências informais em ambientes diversos como a rua, a praça, o pátio das escolas, em que os gestos de todos que interagem ali estão repletos de significados. Há a necessidade de aprofundar o caráter democrático por meio da construção de entendimentos diferenciados a respeito das causas e manifestações dos problemas sociais que se fazem presentes em seu cotidiano. Entendemos que o aspecto mais importante a ser considerado pela escola pública é o desafio de garantir o acesso e permanência dos adolescentes egressos, semiliberdade, e liberdade-assistida, questão esta que deve orientar o projeto político pedagógico em todas as disciplinas, seus métodos e atividades.
Lidar com essa diversidade é o desafio que está posto à comunidade educacional. E saber trabalhar este aspecto é saber falar e saber ouvir, pois a imposição ocorre justamente quando não há diálogo, quando não há escuta. Inserir este adolescente, não significa apenas colocá-lo na sala de aula, mas o ouvir, dialogar e assim respeitá-lo, criando um espaço realmente de inclusão.
O objetivo é justamente construir bases numa proposta teórico metodológica que fundamente ações pedagógicas críticas em busca de uma educação realmente libertadora.
Os efeitos da exclusão escolar são fortemente denunciados pelos pais e adolescentes como injustos, por sonegar a possibilidade aos jovens de desenvolverem a capacidade de avaliar o percurso vivido, e se engajar num determinado projeto social.
O mecanismo seletivo e excludente desses jovens verifica-se na desarticulação da escola em trabalhar com aqueles que foram já marginalizados.
Nossa sociedade vem passando por um processo de alienação que para Freire acontece justamente quando o sujeito não se coloca mais como ser histórico, apenas como ser obediente às regras e normas de outro. Essa atitude o caracteriza como oprimido. Neste processo o sujeito até percebe-se como tal, mas de maneira turva, uma vez que sucumbido pela realidade. E, ao não se colocar na construção histórica como ser atuante acaba por reforçar o poder dominante.
Esse pensar sobre o educar, em relação à sociedade, baseia-se também no pensar do filósofo argentino Enrique Dussel especialmente no seu conceito de poder obediencial. Nesse sentido, vemos a escola como uma possibilidade institucional de exercício de poder delegado.
A questão é como as escolas exercem esse poder. Dussel recupera o significado
da palavra obediência em latim para dizer o seguinte: “Escutar aquele que se
coloca adiante”, ou seja: obediência é a posição subjetiva primordial que deve
possuir o representante, o governante, que cumpre alguma função de uma instituição política.


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[1] O jovem em conflito com a lei é renegado em seus direitos enquanto cidadão, e a escola só o percebe quando o mesmo aparece em conflitos no cotidiano escolar e, quando isso ocorre, a visão que se tem deste jovem é a de infrator enquanto condição de existência, dentro e fora de qualquer instituição que ele freqüente/pertença.

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