POR QUE QUASE TODOS OS CRIMINOSOS SÃO HOMENS? Parte IV[1]
O PODER DA IMAGINAÇÃO PSICOLÓGICA EVOLUTIVA.
O PODER DA IMAGINAÇÃO PSICOLÓGICA EVOLUTIVA.
Em meu último post apresento a teoria “ficar viva” de Campbell sobre a criminalidade feminina. A teoria, entre outras coisas, afirma que as mulheres roubam menos e em menor frequência do que os homens porque elas roubam somente o que precisam para sobreviver, ao passo que homens roubam em parte para se exibirem e impressionarem as mulheres com o acréscimo em seus recursos. Algo que me aconteceu há cinco anos ilustra perfeitamente este ponto.
Mudei-me para a London School of Economics and Political Science (LSE) em julho de 2003. Com um mês em Londres, alguém assaltou meu escritório e levou dois cheques em branco, retirando cuidadosamente folhas não consecutivas do meio do talão novo de cheques. Quando soube do banco que os dois cheques tinham sido descontados, ambos no valor de £700, 00, eu fiz a predição - estatisticamente muito pouco provável de ser verdadeira - de que o ladrão deveria ter sido uma mulher. De acordo com as estatísticas da Interpol, 96% de todos os ladrões da Inglaterra e do País de Gales, em 1990, eram homens, assim é estatisticamente muito improvável que um ladrão em Londres seja mulher.
Ao se desvendar a ocorrência, entretanto, foram duas mulheres que roubaram meus cheques. O banco me informou seus nomes completos: as ladras descontaram os cheques revelando seus nomes reais, talvez ilustrando também uma outra conclusão consistente da criminologia, de que os criminosos são menos inteligentes do que a população em geral. (Em sua defesa, entretanto, eu devo observar que as ladras foram forçadas pelas insanas leis de operação bancária britânicas, as quais não permitem o desconto de cheques no caixa; todos os cheques dentro do Reino Unido devem ser depositados diretamente em contas bancárias. Por isso elas não poderiam ter sacado dinheiro no caixa com meus cheques).
Tendo lido o trabalho de Campbell antes deste incidente, foi imediatamente óbvio para mim que os ladrões fossem mulheres, porque me pareceu que £700,00 era dinheiro de aluguel, não o tipo de dinheiro para se exibir ou atrair mulheres. É o tipo de dinheiro que alguém precisa, não o tipo de dinheiro que alguém quer. Eu acho que se o ladrão fosse um homem emitiria um cheque de £700.000,00 em vez de £700,00. Naturalmente, eu não tenho essa quantia de dinheiro (nem, presumo, os meus colegas de LSE). Entretanto, do ponto de vista do ladrão, se houvesse pelo menos uma chance em 1.000 (0,1%) de o cheque ser compensado, ele jogaria na possibilidade de ter as £700.000,00 ao invés de conseguir seguras £700,00. Considerando a elevadíssima propensão dos homens a correr riscos, eu penso que um ladrão homem poderia ter tentado essa possibilidade. Tal é o poder da imaginação psicológica evolutiva: permite que você saiba quem pôde ter roubado seu dinheiro mesmo antes que a polícia o faça.
O trabalho de psicólogos evolucionistas como Martin Daly, Margo Wilson e Anne Campbell explica por que os homens são bem mais violentos e criminosos do que as mulheres, e por que esta diferença entre os sexos é culturalmente universal. Eu devo assinalar, entretanto, que de acordo com os dados da Interpol há uma exceção a esta regra no mundo. Um número significativo de infratores que comete todos os crimes graves na Síria, ano após ano, é de mulheres. Eu francamente estou confuso com estas estatísticas, no entanto, é muito difícil para mim (ou para qualquer psicólogo evolucionista) acreditar que as mulheres sírias, sozinhas no mundo inteiro, são originalmente mais criminosas do que as mulheres de outras partes.
Eu tenho fortes suspeitas de que estas estatísticas refletem algum erro burocrático (por exemplo, o “masculino” e o “feminino” foram erroneamente registrados quando o formulário da Interpol foi traduzido pela primeira vez para o árabe há alguns anos, e os mesmos formulários são fotocopiados e usados todo ano) ou existem algumas razões culturais ou institucionais (por exemplo, as mulheres podem rotineiramente assumir os crimes cometidos por seus maridos, irmãos, ou pais). Eu pedi a vários especialistas sírios uma explanação plausível desde que tomei conhecimento da anomalia estatística, isso em 1997, mas ainda não houve uma explicação satisfatória. Entretanto, estou certo de que as mulheres sírias não cometem a maioria dos crimes graves em seu país. Como Francis Crick - um dos descobridores do DNA, e provavelmente o maior bioquímico do século XX - sempre diz, “Se os fatos não cabem na teoria, primeiro questione os fatos”.
*Pesquisa e tradução: Marcos Brunini (marcosbrunini@yahoo.com.br)
São Paulo – SP, janeiro de 2009.
Mudei-me para a London School of Economics and Political Science (LSE) em julho de 2003. Com um mês em Londres, alguém assaltou meu escritório e levou dois cheques em branco, retirando cuidadosamente folhas não consecutivas do meio do talão novo de cheques. Quando soube do banco que os dois cheques tinham sido descontados, ambos no valor de £700, 00, eu fiz a predição - estatisticamente muito pouco provável de ser verdadeira - de que o ladrão deveria ter sido uma mulher. De acordo com as estatísticas da Interpol, 96% de todos os ladrões da Inglaterra e do País de Gales, em 1990, eram homens, assim é estatisticamente muito improvável que um ladrão em Londres seja mulher.
Ao se desvendar a ocorrência, entretanto, foram duas mulheres que roubaram meus cheques. O banco me informou seus nomes completos: as ladras descontaram os cheques revelando seus nomes reais, talvez ilustrando também uma outra conclusão consistente da criminologia, de que os criminosos são menos inteligentes do que a população em geral. (Em sua defesa, entretanto, eu devo observar que as ladras foram forçadas pelas insanas leis de operação bancária britânicas, as quais não permitem o desconto de cheques no caixa; todos os cheques dentro do Reino Unido devem ser depositados diretamente em contas bancárias. Por isso elas não poderiam ter sacado dinheiro no caixa com meus cheques).
Tendo lido o trabalho de Campbell antes deste incidente, foi imediatamente óbvio para mim que os ladrões fossem mulheres, porque me pareceu que £700,00 era dinheiro de aluguel, não o tipo de dinheiro para se exibir ou atrair mulheres. É o tipo de dinheiro que alguém precisa, não o tipo de dinheiro que alguém quer. Eu acho que se o ladrão fosse um homem emitiria um cheque de £700.000,00 em vez de £700,00. Naturalmente, eu não tenho essa quantia de dinheiro (nem, presumo, os meus colegas de LSE). Entretanto, do ponto de vista do ladrão, se houvesse pelo menos uma chance em 1.000 (0,1%) de o cheque ser compensado, ele jogaria na possibilidade de ter as £700.000,00 ao invés de conseguir seguras £700,00. Considerando a elevadíssima propensão dos homens a correr riscos, eu penso que um ladrão homem poderia ter tentado essa possibilidade. Tal é o poder da imaginação psicológica evolutiva: permite que você saiba quem pôde ter roubado seu dinheiro mesmo antes que a polícia o faça.
O trabalho de psicólogos evolucionistas como Martin Daly, Margo Wilson e Anne Campbell explica por que os homens são bem mais violentos e criminosos do que as mulheres, e por que esta diferença entre os sexos é culturalmente universal. Eu devo assinalar, entretanto, que de acordo com os dados da Interpol há uma exceção a esta regra no mundo. Um número significativo de infratores que comete todos os crimes graves na Síria, ano após ano, é de mulheres. Eu francamente estou confuso com estas estatísticas, no entanto, é muito difícil para mim (ou para qualquer psicólogo evolucionista) acreditar que as mulheres sírias, sozinhas no mundo inteiro, são originalmente mais criminosas do que as mulheres de outras partes.
Eu tenho fortes suspeitas de que estas estatísticas refletem algum erro burocrático (por exemplo, o “masculino” e o “feminino” foram erroneamente registrados quando o formulário da Interpol foi traduzido pela primeira vez para o árabe há alguns anos, e os mesmos formulários são fotocopiados e usados todo ano) ou existem algumas razões culturais ou institucionais (por exemplo, as mulheres podem rotineiramente assumir os crimes cometidos por seus maridos, irmãos, ou pais). Eu pedi a vários especialistas sírios uma explanação plausível desde que tomei conhecimento da anomalia estatística, isso em 1997, mas ainda não houve uma explicação satisfatória. Entretanto, estou certo de que as mulheres sírias não cometem a maioria dos crimes graves em seu país. Como Francis Crick - um dos descobridores do DNA, e provavelmente o maior bioquímico do século XX - sempre diz, “Se os fatos não cabem na teoria, primeiro questione os fatos”.
*Pesquisa e tradução: Marcos Brunini (marcosbrunini@yahoo.com.br)
São Paulo – SP, janeiro de 2009.
[1] Why are almost all criminals men? Part IV, disponível em http://blogs.psychologytoday.com/blog/the-scientific-fundamentalist/200807/why-are-almost-all-criminals-men-part-iv, acessado em 06/01/2009.
[2] Satoshi Kanazawa, psicólogo evolucionista, leciona na London School of Economics and Political Science e é coautor (com Alan S. Miller) de Por Que Homens Jogam e Mulheres·Compram Sapatos - Como A Evolução Molda Nosso Comportamento. Rio de Janeiro: Prestigio Editorial. 2007.
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