sábado, 18 de abril de 2009
POR QUE QUASE
TODOS OS CRIMINOSOS SÃO HOMENS? Parte I[1]
por Satoshi Kanazawa[2],
POR QUE OS HOMENS COMETEM CRIMES INTERPESSOAIS VIOLENTOS?
Em todas as sociedades humanas, sem uma única exceção, os homens cometem a maioria esmagadora de todos os crimes e atos de violência. Por que é assim? Por que os homens são muito mais criminosos e violentos do que as mulheres? Há muitos universais culturais -- características da sociedade humana que são compartilhadas por todas as culturas conhecidas. Donald E. Brown forneceu a lista original de “universais humanos” (e escreveu um livro inteiro sobre eles, adequadamente intitulado Human Universals) em 1991, e Steven Pinker atualizou a lista em 2002, em seu livro Tabula Rasa: A Negação Contemporânea da Natureza Humana. Há provavelmente muitos universais culturais (contrariando o que Franz Boas e o que deterministas culturais pensam[3]) porque a cultura humana é uma manifestação da natureza humana em nível de sociedade, e a natureza humana é universal para todos os seres humanos. Eis porque todas as culturas humanas são mais ou menos as mesmas[4], e há tantos universais culturais. Entre os muitos universais culturais está o fato de que os homens, em todas as sociedades, são muito mais criminosos e violentos do que as mulheres.
Como eu explico em um post anterior[5], os seres humanos durante toda sua história evolutiva foram eficazmente polígamos, e muitos homens casados tiveram múltiplas esposas. Em uma sociedade polígama alguns homens monopolizam o acesso reprodutivo a todas as mulheres, enquanto outros homens são deixados de fora; em tal sociedade, alguns homens não conseguem reproduzir, enquanto quase todas as mulheres o fazem. Em outras palavras, há uma diferença enorme entre os sexos quanto à variação de oportunidades; a diferença entre “vencedores” e “vencidos” no jogo reprodutivo é muito maior entre homens do que entre mulheres. Esta grande diferença de oportunidades torna os homens altamente competitivos em seus esforços para não serem completamente colocados de fora do jogo reprodutivo. Esta competição envolvendo homens conduz a um nível elevado de violência (assassinato, tentativa de agressão, espancamentos) entre eles. O grande número de homicídios entre homens (comparados ao número de homicídios entre mulheres, ou entre os sexos) é uma consequência direta desta competição masculina por companheiras.
Em seu estudo compreensivo dos homicídios, os influentes psicólogos evolucionistas Martin Daly e Margo Wilson observam que a maioria dos homicídios entre homens vem do que é conhecido como “altercação banal”. Um homicídio típico na vida real não é como aquele descrito num episódio de Columbo: premeditado, bem planejado, e executado quase perfeitamente por um assassino meticuloso e inteligente. Ao invés disso, começa como uma briga sobre questões triviais de honra, status, e de reputação entre homens (como quando um homem insulta outro ou mexe com a sua namorada). Porque nenhum está disposto a recuar, as brigas evoluem até se tornarem violentas e um dos homens terminar morto. Porque as mulheres preferem se casar com homens de status elevado e de boa reputação, o status e a reputação de um homem correlacionam diretamente com seu sucesso reprodutivo: quanto mais elevado o status e melhor a reputação do homem, mais reprodutivamente bem sucedido será. Os homens são consequentemente altamente motivados (embora inconscientes) a proteger sua honra, e vão frequentemente longe demais para isso. Daly e Wilson explicam assim homicídios entre homens, em termos do desejo (na maior parte inconsciente) de proteger seus status e reputação na tentativa de ganhar o acesso reprodutivo às mulheres.
O estupro pode parecer ser uma exceção a este raciocínio porque, ao contrário dos assassinatos e das tentativas de agressão, as vítimas da violação são geralmente mulheres, e não há consequentemente nenhuma competição masculina pelo status e reputação. Entretanto, o mesmo mecanismo psicológico que compele os homens a ganharem o acesso reprodutivo às mulheres competindo entre si pode igualmente motivar homens a cometerem o estupro. Os estupradores predatórios são predominantemente homens da mais baixa classe e status, que têm perspectivas sombrias quanto a ganhar o acesso reprodutivo legítimo às mulheres. Quando não for uma manifestação de competição e de violência intrasexual masculinas, a violação pode ser motivada pelos mecanismos psicológicos dos homens que os incitam a ganhar ilegitimamente o acesso reprodutivo às mulheres, quando eles não têm os meios legítimos para tal.
A propósito, eis porque a pena de morte não pode intimidar o assassinato. A lógica da pena de morte supõe que a maioria dos assassinatos é premeditada: um assassino potencial pesa com cuidado e racionalmente os custos e os benefícios do ato, e decide não assassinar se os custos superam os benefícios. Isto pode descrever um assassino imaginário em Columbo, mas não os assassinos na vida real, que não param para pensar antes de transformar sua altercação por motivos triviais em lutas fatais.
A lógica da pena de morte igualmente supõe que a execução é o pior destino possível. De uma perspectiva psicológica evolucionista há algo pior que a morte, que é o fracasso reprodutivo total esperando todo homem que não competir por companheiras numa sociedade polígama. Se competirem e lutarem com outros homens podem morrer pelas suas mãos ou serem executados pelo Estado. Se não competem, entretanto, definitivamente morrerão, reprodutivamente, não deixando nenhuma cópia de seus genes. Assim, cometendo o delito também puderam competir, mesmo com risco de morte; a alternativa seria muito pior.
Em meu post[6] seguinte abordarei como podemos estender esta lógica para explicar porque os homens cometem crimes contra a propriedade.
Pesquisa e tradução: Marcos Brunini (marcosbrunini@yahoo.com.br).
São Paulo – SP, janeiro de 2009.
[1]Why are almost all criminals men? Part I, disponível em http://blogs.psychologytoday.com/blog/the-scientific-fundamentalist/200807/why-are-almost-all-criminals-men-part-i, acessado em 06/01/2009
[2]Satoshi Kanazawa, psicólogo evolucionista na London School of Economics and Political Science e coautor (com Alan S. Miller) de Por Que Homens Jogam e Mulheres·Compram Sapatos - Como A Evolução Molda Nosso Comportamento. Rio de Janeiro: Prestigio Editorial. 2007.
[3]http://blogs.psychologytoday.com/blog/the-scientific-fundamentalist/200805/exotic-culture-never-was-part-i
[4]http://blogs.psychologytoday.com/blog/the-scientific-fundamentalist/200805/there-is-only-one-human-culture; http://informativoliteraturaviva.blogspot.com/, de 10 de abril de 2009
[5]http://blogs.psychologytoday.com/blog/the-scientific-fundamentalist/the-paradox-polygamy-i-why-most-americans-are-polygamous
[6]http://blogs.psychologytoday.com/blog/the-scientific-fundamentalist/200807/why-are-almost-all-criminals-men-part-ii
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