A crônica abaixo é descrição de um enamorado.
Em nada corresponde a opinião do autor.
Mesmo porque acredito que em cada
idade temos uma experiência única, e portanto somos dignos de respeito.
Abraços,
Ronaldo Duran
A MULHER DE QUARENTA ANOS
Levei quase três horas papeando com o florista. Fiquei tonto com as minúcias. Sabia tudo sobre flores. Formatos, cores, origens. Quantos tipos de rosas, pétalas, cravos. Estarrecido, eu matutava até onde pode ir o cérebro humano? Que genial capacidade para sistematizar. No caminho de casa, trazia a cabeça enfiada numa empreitada semelhante a do florista. Nada tinha a ver com flores, a não ser que se considere a mulher uma flor.
Ganho a vida como comissário de bordo. Vivo nas nuvens. Deixo-me seduzir como uma criança que acredita em papai Noel. Classifico as mulheres no quesito acolhimento, aí a mulher de quarenta anos é a melhor.
A mulher jovem está mais preocupada em lamber o próprio ego do que dar carinho. Basta olhar como desfila na rua. Que espelho de carro, de vitrine são poupados do exibicionismo de seu traseiro? Boa parte do tempo procurando nos homens o olhar cobiçoso. Amar é verbo reflexivo para a jovem: ela se venera. Namorá-la é como tolerar artista pop, que quer dez mil toalhas e pensa que é semideus dando ar da graça nos palcos brasileiros. Pouco percebe o cara do lado. Esquiva-se dos beijos, dos carinhos, como uma gata manhosa. Jamais está satisfeita. Ora quer ser adulta e veste-se como tal. Noutro momento, dá na telha uma rebeldia, e vem o shortinho, a calça teen e ideias mimadas.
A mulher de quarenta anos, ou mais, é diferente. Acolhe-nos como um filho. Nutri-nos. Dá a impressão de que o homem é indispensável em sua vida. Mostra-se caprichosa numa rápida recaída, mas logo está pronta para comandar um exército de pequenos detalhes: a casa, o orçamento doméstico, a vida regrada, a escola dos filhos. No amor não há igual. Se a jovem tem o corpo desejado à primeira vista, somente a mulher de quarenta anos leva o homem ao nirvana do amor.
Tudo bem que há exceções. Mulheres de quarenta anos com mentalidade de garota. Prodígios em jovens maduras.
Abro a porta do apartamento. Ser comissário de bordo dá a sensação de que cada vez que viajo posso não voltar para casa. Graças à mulher de quarenta anos o apê tem este aroma de limpeza. Compras na geladeira. Roupa lavada. Vou tomar banho e me vestir para que eu não faça feio hoje à noite diante dela. Vamos jantar na companhia de seus filhos adolescentes. Talvez a vida de trintão solteiro esteja com os dias contados.
*Ronaldo Duran, cronista e romancista, visite o autor no http://www.facebook.com.br/
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