Olá, Leitor,
Que a crônica abaixo transmita meus votos de
um feliz dias das Mães cultivado
todos os dias e não apenas numa data.
Que a leitura agrade a você e família.
Abraços,
Ronaldo
DE REPENTE, MÃE*
Que turbilhão de pensamentos a invadia no momento em que deitou na maca que a levaria para o centro cirúrgico. Lá fora, a família e o marido. Todos ansiosos, todos preocupados, todos solidários. Contudo, nenhum tão esquisito quanto ela naquele momento. A carga de sentimentos que a sacudia mesclava-se com os medos tão comuns face à palavra parto e à alegria de trazer um ser ao mundo. No caso dela, dois seres, duas meninas.
E se desse algo errado. E se complicações de qualquer natureza pusessem em perigo a vida das pobrezinhas. Que dor no peito sentia a cada vez que pensava nisso. Se ela viesse a falecer? Sim, os médicos, a equipe, todo mundo diz que não, que é imaginação. Mas impossível não é, sabe ela muito bem. E neste um por cento que morre no parto, quem sabe ela esteja incluída? O marido teria que cumprir o juramento que fizera ao longo de toda a gravidez: cuidaria das crianças se a mãe viesse a faltar. Ele ria, às vezes chorava emocionado, negando a possibilidade, mas acabava prometendo.
Num momento desses é que invejava as amigas que puseram silicone, que sofreram cirurgia plástica. Teriam a vantagem, ela se perguntava, de levar numa boa a tensão pré-operatória, por serem experientes? É a primeira vez que passa por essa tensão. Tudo bem, visitar pela primeira vez o ginecologista não fora nenhum parque de diversão. Porém, nada se compara com o que está sentindo agora.
A maca rola pelo corredor. Que estranho ser carregada. Ao lado a enfermeira que puxa prosa: "Como está nossa mamãe?" Ela esboça um sorriso. Buscou ficar mais disposta, desencanar da preocupação. Contudo, quando ficou completamente nua, coberta com a camisola branca, tendo que deitar na mesa cirúrgica: "ai, que frio na espinha". A mãe sempre dizia que mulher é mais forte que homem. Agora, sabe que a mãe não estava inventando. O marido que geme com um cortinho no dedo! Imagina tivesse ele que parir duas crias?
As horas passavam e ela meio aérea. Vinham volta e meia imagens de diferentes períodos da gravidez. O dia que enjoara e tivera que adiar uma reunião importante no trabalho. A vez que o marido correu que nem louco, largando compromissos em outra cidade, tomando chuva, e dormindo no aeroporto, para descobrir, quando chegando a casa, que ela tivera apenas um mal-estar. E das últimas férias na praia, dos passeios no fim de semana no shopping, do não poder dirigir, da dieta inflexível, do maléfico cigarro deixado de lado, do extremo cuidado que o marido tinha com ela, do fazer amor de ladinho na madrugada.
De repente, uns gritos agudos. De repente, os choros das deusinhas suas filhas. De repente, mãe. Que alegria. Sim, é trabalhar para sustentá-las. Mas é tão bom ser responsável por alguém que depende muito de nós...
*Ronaldo Duran, cronista e romancista, colabora em jornais brasileiros.
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