O SUCESSO QUE AMEDRONTA
Não saberiam dizer se o que aconteceu com eles, três integrantes de uma banda de rock nacional, é regra para todos que atingem a fama. Nos primódios, lá no fundo da garagem, discontraídos, descolados, nem aí para as convenções. Basta relembrar os xingos que levavam quando dos ensaios na quadra do condomínio ou no quarto às portas fechadas do apartamento. “Que barulho... Filhos da p. Vão tocar nos quintos do...”, berravam os mais exaltados, provavelmente por causa do descanso detonado.
A irreverência vinha nas letras, nos acordes. O grupo trazia nas costas a nova empreitada, fazer música de qualidade sem fricotes, popular sem ser apelativa, no pós ditadura. Fizeram o melhor dentro do possível. A crítica caindo em cima. Eles lotando pátio de escolas, clubes ou areias no litoral brasileiro.
Da garagem, uma gravadora gostou do material na fita cassete. Meses depois estourando nas rádios. Mal acreditavam que a melodia saiu deles. A vizinhança que os humilhava, agora os endeuzando. Tá, tinha os que não davam o braço a torcer: “hoje em dia o povo não sabe o que é boa música”. A crítica vinha, mas no Brasil, crítica é mais para quem ler jornais, revistas. O povo gritando o nome deles quando passavam na rua.
A lua de mel com o sucesso durou temp o limitado. Pintou a crise. O assédio demasiado. Claro, dois namoros de longa data não resistiram às investidas das fãs sedentas, nem dos instintos poligâmicos dos garotos. Quem sofreu mais foi o vocalista. Era fiel. Amava de verdade a namorada. Sorte que depois de tornados e furacões, se reconciliaram. Melhor, eles conseguiram ficar junto de verdade, quando o grupo rachou, a fama titubeiou e quase o álcool e as drogas empurram os integrantes da banda para o fosso.
O capítulo das drogas e álcool surgiu em parte por causa do tumulto, do alvoroço que a fama trouxe. Por mais descolados que eram, houve um baque quando os olhares se voltaram para a música que queriam divulgar. Engraçado. Quando no anonimato, lutando por espaço, o tempo fluía mais ou menos num ritmo seguro. Dedicavam dias e noites para alcançar o melhor som, melhor técnica. Deixavam as namoradas, declinavam dos convites para beber no barzinho. Quantos sábados, domingos, feriados e férias enfurnados num cubículo perseguindo o aperfeiçoamento?
Quando o reconhecimento chegou, quando as rádios cederam, as bocas repetiam os refrões, os rapazes se assustaram. Ficaram sem rumo. Medo da exposição de seus rostos, corpos, sonhos, falhas. Agenda lotada sobrecarregando-os física e mentalmente. Veio a fuga para as drogas. Passado o alvoroço de ontem, recordam hoje o que foram. Ora, querendo mudar o que fizeram, ora apenas reviver a emoção da novidade.
*ronaldo duran, escritor. Twitter.com/ronaldoduran_
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