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domingo, 19 de julho de 2009

marcos brunini - psicologia evolucionista

POR QUE A IDADE DA PUBERDADE TEM DIMINUÍDO NAS ÚLTIMAS DÉCADAS? II[1]

por Satoshi Kanazawa[2],
























A teoria da estratégia reprodutiva condicional destaca a importância de influências ambientais no timing da puberdade e sugere que as meninas usam a presença ou a ausência de seus próprios pais no lar como um indício do nível provável de investimento paterno que podem esperar de seu companheiro quando começarem a reproduzir. Se seu próprio pai é ausente, aprendem que os homens não são confiáveis, ao passo que se seu pai é presente, daí aprendem a confiar nos homens. Entretanto, há uma peça que falta nessa explicação.

Para que a estratégia reprodutiva condicional evolua entre mulheres, a tendência dos homens para a formação de relacionamentos compromissados e a realização de investimento parental, ou seja, quão confiáveis os homens são como uma fonte de sustentação material, deve ser estável através de gerações. A experiência da mãe com seus companheiros deve ser altamente prognóstica da experiência da filha, uma geração mais tarde. Como isso poderia ocorrer?

Uma hipótese é que as meninas usam a presença ou a ausência do pai em casa como um indicador da instituição casamento na sociedade. Sob esse ponto de vista, a ausência do pai não significa necessariamente a falta de vontade do homem em engajar-se em relacionamentos de longo prazo, mas um alto nível de poligamia na sociedade. Em uma sociedade altamente polígama os homens casados são distribuídos entre suas múltiplas esposas, e não podem passar muito tempo com qualquer delas, nem com sua prole. Assim, quanto mais polígama a sociedade, menos tempo as meninas (ou meninos) ficam com o pai. Ao contrário, em sociedades monógamas, os homens casados têm somente uma esposa, assim podem passar todo seu tempo com sua esposa e crianças. O grau de ausência do pai poderia ser um indicador de micronível (dentro da família) de um grau, em macronível (dentro da sociedade), de poligamia.

Em sociedades polígamas há um incentivo para que as meninas amadureçam cedo, porque toda menina púbere pode se transformar em uma esposa júnior de um polígamo rico, enquanto uma menina pré-púbere não pode. Por outro lado, não há nenhum incentivo para que as meninas amadureçam cedo em sociedades monógamas, porque todos os homens adultos em tais sociedades já são casados (e não podem se casar outra vez). Dada a taxa de presença de pessoas do sexo masculino e feminino de aproximadamente 50-50, as meninas púberes somente podem casar com adolescentes novos, que não têm a riqueza ou o status para sustentar uma família.

Consistente com esta lógica, uma análise de dados interculturais mostra que as meninas entram na puberdade significativamente mais cedo em sociedades polígamas e em sociedades ditas monogâmicas, mas com uma incidência elevada de divórcio (e assim com uma incidência mais elevada de poligamia serial). Desta perspectiva, a idade média da puberdade caiu acentuadamente nos Estados Unidos nas últimas décadas porque a taxa de divórcio (e assim a incidência de novo casamento para homens, isto é, poligamia serial) aumentou dramaticamente.

O mecanismo bioquímico pelo qual o divórcio parental precipita a puberdade mais cedo nas meninas não é conhecido. O psicólogo evolucionista do desenvolvimento Bruce J. Ellis, da Universidade do Arizona, sugere que os feromônios (uma substância química que viaja de um indivíduo a outro para que o primeiro influencie o comportamento do último) emitidos pelo padrasto e por outros homens não relacionados ao agregado familiar possam provocar a antecipação da puberdade nas meninas. Este é um dos mistérios ainda presentes na psicologia evolucionista.




Pesquisa e tradução: Marcos Brunini (marcosbrunini@yahoo.com.br)






[1] Why has the age of puberty declined in recent decades? II, disponível em http://blogs.psychologytoday.com/blog/the-scientific-fundamentalist/200810/why-has-the-age-puberty-declined-in-recent-decades-ii, acessado em 04/02/2009.

[2] Satoshi Kanazawa, psicólogo evolucionista, leciona na London School of Economics and Political Science e é coautor (com Alan S. Miller) de Por Que Homens Jogam e Mulheres·Compram Sapatos - Como A Evolução Molda Nosso Comportamento. Rio de Janeiro: Prestigio Editorial. 2007.

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