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domingo, 7 de junho de 2009

marcos brunini - psicologia evolucionista

POR QUE ACREDITAMOS EM DEUS? I[1]





por Satoshi Kanazawa[2], 24/03/2008.






Pergunta: Por que acreditamos em Deus?

Resposta: Beavis e But-head.

Boa noite a todos... Voltem para suas casas com cuidado e não esqueçam da gorjeta do garçom!






Acreditem em mim, há relação...








A chave para a conexão entre Deus e Beavis e But-head são duas estrelas ascendentes da psicologia evolucionista, Martie G. Haselton, da UCLA, e Daniel Nettle, da Universidade de Newcastle, com sua incrivelmente engenhosa Teoria de Manejo do Erro. Em minha opinião, a Teoria de Manejo do Erro representa a grande realização teórica na psicologia evolucionista em vários anos.

Imagine uma cena típica em Beavis e But-head, numa rara ocasião em que os garotos não estão sentados no sofá assistindo vídeos. (Não tenho assistido à MTV desde 1994, mas espero que ainda estejam sendo exibidos; eu também poderia me referir ao tio Miltie e o Texaco Star Theater.) Beavis e But-head estão andando pela rua quando passam duas jovens atraentes, vestidas em seus obrigatórios shorts e camisetinhas. Ao passarem, uma delas volta-se aos dois, sorri e diz “Olá!”.

O que acontece? Beavis e But-head congelam, a totalidade de suas funções cognitivas (do jeito que são) entra em alerta, e aí eles murmuram, “Uau...Ela pagou pau...Ela quer transar comigo...É hoje, vou me dar bem...”

Tão cômico quanto pode ser esse espetacular mal-entendido, as evidências experimentais sugerem que a reação de Beavis e But-head é bastante comum entre homens. Num dado experimento, um homem e uma mulher travam uma conversação espontânea por alguns minutos. Imperceptíveis a eles, dois observadores, uma mulher e um homem, acompanham a interação por trás de um vidro espelhado. Após o fim da conversação, todos os quatro (o participante e a participante, o observador e a observadora) julgam quão romanticamente interessada estava a participante pelo participante. Os dados mostram que o participante e o observador frequentemente julgam que a participante está mais romanticamente interessada no participante do que o fazem a participante e a observadora. Os homens pensam que as mulheres estão querendo se aproximar deles, porém as mulheres não pensam assim.

Seja você homem ou mulher, se pensar na sua própria vida por um minuto, você perceberá logo que esta é uma ocorrência muito comum. Um homem e uma mulher encontram-se e começam numa conversação amigável. Após a conversação, o homem está convencido de que a mulher sente-se atraída e talvez queira dormir com ele, quando a mulher não considera tal pensamento; apenas está sendo agradável e amigável. É um tema comum de muitas comédias românticas (tanto quanto basicamente todo episódio de Three’s Company [sitcom americano exibido entre 1977 e 1984]... Será que estou me datando?)

Por que isto acontece?

A Teoria de Manejo do Erro de Haselton e Nettle oferece uma explicação bastante convincente. Essa teoria começa com a observação de que a tomada de decisões baseada em incertezas frequentemente resulta em inferência errônea, porém alguns erros são mais onerosos em suas consequências do que outros. A evolução deve, portanto, favorecer um sistema de inferências que minimize, não a quantidade total de erros, mas seus custos totais.

Por exemplo, no caso apresentado, o homem deve decidir, na ausência de informação completa, se a mulher está romanticamente interessada nele ou não. Se inferir que está, quando de fato está mesmo interessada, ou se inferir que não está, quando de fato não está interessada, então fez a inferência correta. Nos outros dois casos, entretanto, cometeu um erro na inferência. Se inferir que está interessada, quando de fato não está interessada, cometeu um erro falso-positivo (o que os estatísticos chamam de erro do “Tipo I”). Ao contrário, se inferir que não está interessada, quando de fato está interessada, cometeu um erro falso-negativo (o que os estatísticos chamam de erro do “Tipo II”). Que conseqüências os erros falso-positivo e falso-negativo envolvem?

Se cometer o erro de pressupor interesse, quando ela não está interessada, então se aproximará dela, mas terminará sendo rejeitado, motivo de piada, ou poderá até levar um tapa na cara. Se ele cometer o erro de pressupor que ela não está interessada, quando na realidade ela está, perderá uma oportunidade para o sexo e para a possível reprodução. Ainda que seja muito mau ser rejeitado e motivo de piada (e, acredite, é muito), não é nada comparado a perder uma oportunidade verdadeira para o sexo. Assim, argumentam Haselton e Nettle, a evolução equipou os homens para superestimar o interesse romântico e sexual das mulheres por eles, de modo que ao cometerem um grande número de erros falso-positivo (e, em conseqüência, serem ‘estapeados’ o tempo todo), nunca perderão uma única oportunidade para o sexo.

Entre engenheiros, isto é conhecido como “o princípio do detector de fumaça”. Como a evolução, os engenheiros constroem detectores de fumaça a fim de minimizar, não o número total de erros, mas seus custos totais. A conseqüência de um erro falso-positivo de um detector de fumaça é que você será acordado às três horas da manhã por um alarme alto quando não há nenhum fogo. A conseqüência de um erro falso-negativo é que você e sua família inteira morrerão se o alarme não soar na presença de fogo. Ainda que seja muito desagradável ser acordado no meio da noite sem razão, isso não é nada comparado à morte. Assim, os engenheiros deliberadamente regulam os detectores de fumaça para que sejam extremamente sensíveis, de modo que ocorrerão muitos alarmes falso-positivo, mas nenhum silêncio falso-negativo. Haselton e Nettle discutem que a evolução, no papel de engenheiro da vida, projetou o sistema de inferência dos homens similarmente.

Assim, é por isso que os homens sempre se aproximam das mulheres e fazem propostas indesejadas o tempo todo. Mas o que, em nome de Deus, isso tem a ver com nossa crença em Deus? Eu explicarei em meu post seguinte. Acreditem em mim, há relação.



Pesquisa e tradução: Marcos Brunini (marcosbrunini@yahoo.com.br)

[1] Why do we believe in God? I, disponível em http://blogs.psychologytoday.com/blog/the-scientific-fundamentalist/200803/why-do-we-believe-in-god-i acessado em 22/01/2009

[2] Satoshi Kanazawa, psicólogo evolucionista na London School of Economics and Political Science e coautor (com Alan S. Miller) de Por Que Homens Jogam e Mulheres·Compram Sapatos - Como A Evolução Molda Nosso Comportamento. Rio de Janeiro: Prestigio Editorial. 2007.

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