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domingo, 4 de julho de 2010

CRÔNICA DA SEMANA - AMOLADOR DE FACAS


Olá, Amigo Leitor,




Uma boa semana para você.

Obrigado por este espaço que me permite divulgar literatura.
Abraços,



Ronaldo



AMOLADOR DE FACAS*



Na quinta-feira, a vizinhança desperta ao som do vozeirão de um admirador de canções sertanejas, não as de hoje em dia, mas dos antepassados, que quando eu era pequena ouvia no radinho de pilha de meus avôs, numa cidade do interior do Estado de São Paulo. Vou completar cinqüenta e poucos anos, tenho netos, e meu único marido morreu de enfarto há três anos. Pra ver como o tempo passou.

De volta ao dono do vozeirão, trata-se de um senhor de cabelos grisalhos, pele curtida pelo sol, que segue empurrando sua bicicleta, cuja parte de trás carrega uma caixa de madeira bem grande. Talvez por isso que ele em vez de ir pedalando, limita-se a empurrar a bicicleta.


Ainda na condição de professora de língua portuguesa, tendo a carga horária majoritariamente na parte da manhã, é fácil na quinta-feira estar de pé quando ele passa. Da janela, posso vê-lo. Por vezes, encontro-o na rua, no meu caminho de ida à padaria. Ele ao vivo deixa a desejar em termos de acústica. Minha preferência é na hora que estou passando o café, ou quando acontece de sua voz me surpreender quando estou me vestindo ou despertando. Nesses momentos, volto ao tempo de meninice no sítio, onde passava as férias. O senhor que ordenhava as cabras tinha o mesmo timbre de voz.



fonte: boemiaenostalgia.blogspot.com


Certa vez eu o encontrei na feira. Dia que não tive aula de manhã, aproveitei a ausência da empregada e fui eu mesma às compras de legumes, frutas, verduras... Lá, eu o notei. Estranhei ele estar ali, pois nem passava por minha cabeça que tipo de ganha-pão seria o seu. Chutaria a de um jardineiro. Ali, com a bicicleta e a grande caixa ele fazia uma barraca onde atendia as pessoas que procuram um amolador de facas, alicates...

Óbvio que sua melodia, o timbre, a altura de sua voz não agradam a todos. Em certa ocasião, escutei, no momento em que ele passava cantarolando na rua, alguém gritar cala a boca, velho louco. Não pareceu se abalar. Ao contrário, seguiu como se nada tivesse ouvido. Difícil supor o que lhe passa pela cabeça quando o ofendem por seu cantar.

Na verdade, mais difícil seria imaginar qual a motivação para cantar todo santo dia, pelo menos na quinta-feira que eu o ouço. Seria escapismo da dura realidade? Seria um louvor de agradecimento pela sorte de estar vivo?



*escritor ronaldo duran, colabora neste espaço toda semana. www.facebook.com e twitter.com/escritorronaldo






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